Homens do 'lixo' e a realidade de um duro trabalho

Carroceiros e garis suam para limpar as cidades e garantir o pão de cada dia. O lixo também é negócio lucrativo para donos de depósitos e gerentes de operações

por Nathan Santos qui, 13/03/2014 - 13:47

O suor que escorre pelo rosto retrata uma fração do duro trabalho de Tertuliano Ferreira de Araújo, 42 anos. Homem simples, de baixa escolaridade, e responsável por um serviço que às vezes passa despercebido pelos moradores das grandes metrópoles. Carroceiro há cinco anos, Tertuliano, a base de muita força, puxa uma carroça de segunda a sábado, desde as 5h, recolhendo papelão, garrafas pet, latinhas de bebida, ferro, alumínio... Um monte de objetos considerados lixo. É desse trabalho que o rapaz consegue lucrar R$ 180 por semana.

Mais tempo ainda de carroceiro tem seu Aloizio Brasil dos Santos. Dos seus 37 anos de idade, 30 são dedicados a puxar carroça e recolher o lixo produzido em vários bairros do Recife. Trabalhando 12 horas por dia, no final do mês o trabalhador consegue R$ 500, dinheiro que ajuda a sustentar filho e esposa. Assim como a maioria dos carroceiros, homens que trabalham diretamente com o lixo, Aloizio não teve oportunidade de estudar, uma vez que inserido em um universo de pobreza, precisou trabalhar desde cedo para não passar fome. “É um verdadeiro sofrimento. Puxar carroça cansa muito. Muita gente não valoriza nosso trabalho e sem contar que o trânsito é caótico”, conta o carroceiro.

Debaixo de chuva ou sol, os “homens do lixo” desempenham um trabalho direta ou indiretamente, ajudando na limpeza urbana do Recife. O que movimenta a atuação dos carroceiros são os depósitos, conhecidos popularmente como “ferro-velho”. Muitos não têm vínculo com a Prefeitura do Recife (PCR), entretanto, recebem os objetos recolhidos pelos carroceiros e os comercializam como matéria prima para grandes indústrias. Tertuliano e Aloizio são trabalhadores que depositam o que recolhem em um depósito localizado ás margens do Canal do Arruda, periferia da Zona Norte da capital pernambucana.

André Mamedi (foto abaixo), 33, ou simplesmente o Galego do Depósito, é o dono do estabelecimento localizado no Arruda. O empreendimento já tem quatro anos e vem sendo lucrativo para o ex mecânico de automóveis. “É um ramo que não acaba. O ser humano tem que comer, comprar roupa e comida, e acaba produzindo lixo. Um amigo me deu essa ideia e eu me adaptei ao negócio”, relata Galego.

Os preços pelos “quilos” pagos pelo Galego aos carroceiros variam conforme os produtos. Por exemplo, o quilo do papelão custa R$ 0,18. Diariamente, todo o material recolhido dos carroceiros é vendido a grandes empresas, por meio de valores também variados de acordo com o “lixo” ou matéria prima.

Segundo o Galego, o depósito tem três funcionários e os carroceiros são trabalhadores autônomos. As carroças foram fabricadas pelo André e elas são cedidas a 22 puxadores de carroças. O investimento inicial para a construção do depósito foi de R$ 15 mil e o valor mensal obtido é considerado “lucrativo” pelo Galego. De acordo com a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), instituição ligada a PCR, Recife não tem um levantamento de quantos carroceiros existem na cidade, e nem em relação à quantidade de depósitos.

Mensalmente, o depósito de Galego recolhe cerca de 2 mil toneladas de lixo. No local, é feita a separação dos objetos e um dos responsáveis por essa atividade é Jeferson Antonio Ferreira, de 19 anos. “Não consegui emprego e resolvi trabalhar aqui. Estou gostando, mas, futuramente, pretendo abrir meu próprio depósito”, conta o trabalhador que atua no depósito há um ano, no horário das 7h às 17h, recebendo um salário mínimo por mês.

Garis

Outros profissionais que lidam com o lixo são os garis. Responsáveis pelo recolhimento do lixo, capinagem, pintura, entre outros serviços, geralmente eles são terceirizados pelas prefeituras e têm um importante papel no recolhimento da lixaria.

Segundo a Emlurb, no Recife são recolhidas em torno de 2,5 mil toneladas de lixo por dia, e atuando na limpeza urbana há mais de 3 mil pessoas. O salário pago aos garis pelas terceirizadas - com insalubridade e ticket inclusos – é de R$ 1.339,80.

Não colocando de fato a mão no lixo, mas ainda assim detentor de uma importante tarefa para a limpeza nas ruas recifenses, o gerente de operações de uma das empresas terceirizadas pela Prefeitura, Hélio Vilela (foto abaixo)  é responsável pela organização de todo o trajeto dos garis. Segundo Vilela, a relação dele com os catadores é “sem dificuldades”. “Eles são atenciosos e educados. Aqui não existe preconceito”, diz o gerente. A remuneração para um gerente de operações gira em torno de 10 salários mínimos.

Vilela organiza o trajeto dos caminhões de lixo – que custam cerca de R$ 400 mil – levando em consideração os bairros e número de habitantes. As coletas são feitas em vários turnos, durante a semana.

Depois de todo o lixo recolhido, os caminhões levam os entulhos para os aterros sanitários. Antes, esses espaços eram lixões a céu aberto. Hoje eles são privados e possui serviços de separação e pesagem do lixo.     

 

 

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