Leitores e escritores são contra novo imposto em livros

Proposta de reforma tributária pode dificultar o acesso à leitura

por Alfredo Carvalho seg, 24/08/2020 - 15:17
Juliana Kowalski / Arquivo Pessoal Juliana Kowalski / Arquivo Pessoal

Uma nova proposta de imposto do governo federal prevê uma taxa de 12% em cima dos livros. A ideia não agradou os autores, que recebem 10% das vendas de suas obras, nem o consumidor final, que poderá pagar mais caro pelo livro.

A assistente jurídica Juliana Kowalski, 28 anos, é apaixonada por livros e sempre espera os títulos entrarem em promoção para poder comprá-los. Mas, o novo imposto pode dificultar ainda mais a aquisição de novas obras para sua coleção. "Às vezes, eu preciso junta dinheiro ou esperar o salário melhorar para comprar uns dois livros por R$ 20 ou R$ 30", relata.

Juliana lamenta que são poucas as pessoas que têm o hábito de ler e diz que o novo imposto pode desestimular ainda mais esse público, livrarias físicas enfrentarão dificuldades, e o consumidor terá que optar entre comprar um livro ou pagar as contas do mês, isso sem falar no desânimo dos autores. "Não sei onde vai parar a cultura e a educação, isso desanima qualquer leitor", desabafa.

Juliana Kowalski, na escadaria da Livraria Cultura, em SP | Foto: Arquivo Pessoal

A proposta de reforma tributária atinge quem escreve, edita, publica, vende e, sobretudo, quem lê. "Esse novo imposto é uma ofensa à integridade intelectual. Ler mudou a minha vida e, por conta disso, comecei a escrever. Escrever é terapêutico e prazeroso por si só e me deu a oportunidade de tocar o coração das pessoas", comenta a escritora e fundadora do Grupo Bendita, Samantha Silvany, conhecida pelos livros "500 Dias Sem Você" (2019) e "Manual do Borogodó" (2019).

Na lista dos prejudicados com esta possível situação estão os autores iniciantes, já que, por se tratar de um investimento de risco, as editoras serão muito mais rigorosas para publicar novos nomes no mercado. "Escritores já reconhecidos também serão prejudicados, afinal, o livro encarecerá para o consumidor, o que dificulta a conquista de ser um best-seller. Também diminuirão as oportunidades de um novo contrato", prevê Samantha.

No atual modelo de publicação das editoras, o autor recebe em média de R$ 2 a R$ 3 reais por livro, e a nova taxa pode diminuir ainda mais esse lucro. "Também dificultará muito a democratização da leitura e o acesso à informação, especialmente entre aqueles que já não têm tantas condições", explica a escritora.

Outro medo de Samantha é de que o livro se torne um artigo de luxo, quando deveria ser um direito de todos. "Precisamos defender o livro. Precisamos defender o Brasil. Precisamos nos defender contra a ignorância. Precisamos de meios para facilitar o acesso à leitura, e não o contrário", finaliza.

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