Descubra o que foi a luta antimanicomial no Brasil

Nesta quarta-feira (18) é celebrado o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, data criada para privilegiar tratamentos menos cruéis e mais humanos no sistema de saúde mental.

por qua, 18/05/2022 - 18:42
Foto/Divulgação: Geração Editorial Foto/Divulgação: Geração Editorial

O dia 18 de maio é celebrado como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Por tratamentos menos cruéis e mais humanizados, a data foi instituída para relembrar os horrores que ocorriam nos corredores das clínicas psiquiátricas no fim da década de 1970.

Nesta época, diversos movimentos ligados à saúde denunciaram os abusos cometidos nestas instituições, assim como a precariedade de condições de trabalho. O principal nome deste campo no Brasil é a médica alagoana Nise da Silveira (1905-1999), que ocupou a linha de frente na crítica aos modelos terapêuticos da época, ao criar um ateliê criativo no Centro Psiquiátrico Nacional, na zona norte do Rio de Janeiro.

Inspirada em Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica, Nise foi uma das primeiras mulheres a se formar em medicina no Brasil. Em meados de 1940, foi a pioneira na terapia ocupacional, técnica que utilizava de atividades recreativas como tratamento de distúrbios psíquicos.

A médica alagoana ganhou destaque ao usar da arte como forma de expressão, dando voz aos conflitos internos vivenciados principalmente por esquizofrênicos, esses que tiveram suas obras expostas ao redor do mundo. Algumas destas obras foram expostas no II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, na Suíça, onde a médica encontrou Carl Jung pessoalmente, com quem já trocava cartas a respeito de suas técnicas e arte produzida no centro psiquiátrico.

Já no fim da década de 70, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM),  contando com a participação popular, inclusive de familiares de pacientes, e o Movimento Sanitário foram os dois principais agentes responsáveis por esta iniciativa de mudança.

REFORMA PSIQUIÁTRICA

Em 18 de maio de 1987, foi realizado um encontro com os grupos favoráveis a políticas antimanicomiais. Deste encontro surgiram propostas para reformar o sistema psiquiátrico brasileiro. Pela relevância do encontro, o dia 18 de maio ficou conhecido como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Com o objetivo de extinguir os manicômios, o projeto de reforma psiquiátrica no Brasil buscava substituir, aos poucos, o tratamento precário fornecido por serviços comunitários. Neste cenário, o paciente seria encorajado a um maior exercício de cidadania, fortalecendo os vínculos sociais e familiares, não sendo isolado destes.

A partir da reforma, o Estado se viu proibido de construir ou contratar serviços de hospitais psiquiátricos. Substituindo as internações, os pacientes teriam acesso aos tratamentos psicológicos, atividades alternativas de lazer e tratamentos menos invasivos do que os que eram usados nos hospitais até então.

Um dos principais pontos do Movimento de Luta Antimanicomial consistia em gerar um diálogo de conscientização com as instituições legais e com os cidadãos, elaborando assim um discurso que portadores de transtornos mentais não representam risco ou ameaças ao círculo social, mito este que perdura até hoje.

Neste cenário, o respeito e a conscientização seriam armas necessárias para reformular todo o modo como os pacientes eram tratados até então, dentro ou fora das instituições responsáveis pelo tratamento.

Por Matheus de Maio

 

COMENTÁRIOS dos leitores