Protesto: crianças com microcefalia estão sem benefício

Manifestação no Recife destaca que 22 mães não conseguiram sacar o benefício assistencial

qui, 18/07/2019 - 10:45

Mães de crianças com microcefalia da síndrome congênita do zika vírus realizam um protesto em frente à sede do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na área central do Recife, nesta quinta-feira (18). Sem motivo aparente e sem aviso prévio, 22 mães pararam de receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC), no valor de um salário mínimo.

A presidente da União Mães de Anjos (UMA), Germana Soares, foi uma das mães que foi pega de surpresa. “Quando chegou a data que era para receber, o dinheiro não estava na conta. Isso aconteceu comigo, compartilhei com as minhas irmãs de luta e para o meu susto outras irmãs estavam na mesma situação. Isso está acontecendo em todo o estado”, explica Germana. Segundo a UMA, há 438 crianças com microcefalia em decorrência da zika e 400 mães recebem o BPC.

Germana afirma que o INSS tem solicitado um prazo de 30 a 85 dias para dar uma resposta. "Nesse tempo a gente vai viver de quê? Nossas crianças vão viver de quê? Vão tomar remédio de onde? É uma irresponsabilidade muito grande"

Uma das mulheres mais aflitas no protesto é Gleyse Kelly Silva, de 31 anos. Ela tem quatro crianças, uma delas com microcefalia, e está grávida de sete meses do quinto filho. O marido, que é vigilante, se encontra desempregado há dois meses. “Não chegou nem uma carta para nos informar que iria ser bloqueado. Na última vez que tirei o dinheiro, tinha nenhum informativo que seria bloqueado ou que seria suspenso. Já vim aqui no INSS duas vezes, já fui no banco três vezes e nada de resposta. Enquanto isso, as dívidas vão se acumulando”, relata Gleyse. Ela vive de aluguel e está com duas contas atrasadas.

Outra mulher atingida é Erivânia Rocha, que cuida da neta Eloísa, detentora da síndrome congênita. Ela detalha a situação que enfrenta: “No dia 26 do mês passado, quando fui fazer o saque, estava bloqueado, suspenso. A gente foi de agência e agência e nada de resolver. Não tem motivo para isso. Eu fiz tudo direitinho. A gente para tudo para cuidar da criança. Eu tinha renda e deixei de ter”. Erivânia era autônoma, mas precisou deixar o emprego. Segundo ela, o pai de Eloísa não aceitou a filha após descobrir que ela tinha microcefalia.

Apesar da manifestação no INSS, o instituto informou que o caso deverá ser tratado com o Ministério da Cidadania. Por nota, o Ministério da Cidadania informou ter entrado em contato com a UMA e solicitado os dados das beneficiárias para verificar as situações cadastrais.

O benefício assistencial a crianças com microcefalia dura o prazo máximo de três anos. É necessário que a renda por pessoa do grupo familiar seja menor que um quarto do salário mínimo vigente.

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