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Um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, acompanhou 3.308 bebês com síndrome congênita da zika até os 3 anos de idade e identificou uma mortalidade 11 vezes maior que a das crianças sem a doença. As principais causas das mortes variam de acordo com a idade, e entre elas estão anomalias congênitas, doenças infecciosas e parasitárias e causas relacionadas ao sistema nervoso central.

O estudo foi divulgado hoje (24) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e publicado na revista científica The New England Journal of Medicine. É a primeira pesquisa a acompanhar crianças diagnosticadas com a síndrome até o terceiro ano de vida e faz parte da Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para Zika e suas Consequências, coordenada pelo Cidacs/Fiocruz Bahia.

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Para chegar a essa amostra de mais de 3 mil crianças com a síndrome congênita, foram analisados dados de mais de 11 milhões de recém-nascidos cadastrados no Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), entre 2015 e 2018.

A síndrome congênita da zika ocorre por alterações no sistema nervoso central dos bebês causadas quando o vírus infecta as mães durante a gravidez. A forma mais conhecida da doença é a microcefalia, mas há também anomalias funcionais, como a dificuldade para engolir, ou sequelas clínicas, como a epilepsia.

Entre as mais de 3 mil crianças com a doença acompanhadas, houve 398 óbitos até os 3 anos de idade. Os pesquisadores identificaram que, para bebês que nascem com menos de 32 semanas ou menos de 1,5 kg, não há diferença na mortalidade quando as crianças com a síndrome são comparadas com as que não têm.

Já para crianças que nascem com 32 a 36 semanas, a síndrome causada pelo zika aumenta as chances de morrer até os 3 anos em nove vezes. E para aquelas que nascem após as 37 semanas, esse risco aumenta em 14 vezes.

O estudo mostra ainda que a chance aumentada de morrer se estende por todo o período de vida analisado. Até os 28 dias de vida, o risco é sete vezes maior do que para as crianças sem a síndrome. Já entre 1 e 3 anos de vida, a possibilidade chega a ser 22 vezes maior. Uma das autoras do estudo, a pesquisadora associada do Cidacs e professora assistente da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) Enny Paixão, explicou à Agência Fiocruz de Notícias que números tão alarmantes requerem ações após o nascimento que ajudem a melhorar a sobrevivência dessas crianças. “Precisamos de protocolos pós-natais bem estabelecidos, incluindo intervenção precoce, para ajudar a diminuir sequelas e melhorar a sobrevida delas”, defende.

Outra autora do trabalho, a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora associada ao Cidacs/Fiocruz Bahia Glória Teixeira, destacou a importância de aumentar a disponibilidade de leitos neonatais para evitar mortes por síndromes congênitas neurológicas.

"Nós observamos que as crianças morriam com maior frequência em localidades com poucos leitos de UTI neonatal. Essas crianças precisam de centros de reabilitação: elas nascem com menos neurônios e com neurônios danificados, mas têm neurônios passíveis de serem estimulados, o que pode melhorar o processo de cognição e motor", disse à Agência Fiocruz de Notícias.

"É fundamental disponibilizar serviços e profissionais capacitados para o atendimento no nível local. Os gestores e técnicos da Vigilância em Saúde dos três níveis de gestão devem trocar informações e pensar em estratégias para capilarizar as ações", disse a professora.

As pesquisadoras chamam atenção ainda para relevância da prevenção da infecção pelo vírus zika, que é uma das arboviroses carregadas pelo mosquito Aedes aegypti. Uma das principais medidas de prevenção contra a proliferação do mosquito é evitar o acúmulo de água parada e descoberta, onde o inseto possa depositar seus ovos e se reproduzir.

O governador Paulo Câmara assinou, nesta segunda-feira (27.12), o decreto nº 52.060 que regulamenta a Lei 12.045, de 17 de julho de 2001, e assegura a gratuidade às pessoas com autismo, microcefalia e deficiência - física, visual, auditiva e mental -, nos transportes coletivos intermunicipais.

O PE Livre Acesso será viabilizado por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, que será responsável por emitir as carteiras de identificação dos usuários. 

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A iniciativa beneficiará aproximadamente 182 mil pessoas. "É uma lei muito importante que precisava ser regulamentada e que coloca em prática a gratuidade no transporte público intermunicipal. Nós estamos garantindo o ir e vir das pessoas com deficiência, autismo e microcefalia dentro de políticas sociais que estamos implementando em nosso Estado", destacou Paulo Câmara durante a assinatura do decreto, que também contou com a presença da procuradora-chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo ao governador, Rosana Wanderley.   

Em cada viagem intermunicipal, as empresas de transporte coletivo devem fornecer até duas vagas para pessoas com deficiência ou uma vaga para o beneficiado e seu respectivo acompanhante, sinalizadas nos primeiros lugares dos veículos. O descumprimento da lei acarretará em multa de R$ 1.000,00 quando da primeira autuação de infração, até o cancelamento definitivo da concessão, caso a reincidência persista, com o devido procedimento administrativo. 

De acordo com o secretário de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, Sileno Guedes, a gratuidade é um direito básico da população, sobretudo aos que estão em situação de vulnerabilidade social. "Essa é uma luta importante do segmento, que a gestão estadual abraçou e trabalhou para conceder”, frisou.

*Da assessoria 

Pacientes com microcefalia passaram a ter prioridade nos serviços de atendimento à saúde da rede pública e privada em Pernambuco, após a sanção da lei nº 17.485/2021, de autoria do deputado estadual João Paulo Costa (Avante).

Em sessão plenária, na última terça-feira (30), o parlamentar enfatizou a importância do projeto para as famílias com bebês, crianças e pessoas acometidas pelo vírus da Zika, que fazem, obrigatoriamente, acompanhamento médico regular. “Elas [as pessoas com microcefalia] precisam de prioridade no atendimento médico para evitar maiores complicações e ajudar no desenvolvimento dessas pessoas, proporcionando mais qualidade de vida”, ressaltou.

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Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, entre janeiro de 2020 e setembro de 2021, 169 crianças foram notificadas para a síndrome congênita do Zika em Pernambuco. “Nós sabemos que Pernambuco, em 2015, teve maior incidência de casos de microcefalia do país, e ainda existem muitos casos no nosso Estado”, afirmou o deputado João Paulo Costa. Neste ano, no Estado, foram registrados 25 casos de microcefalia e 13 casos de microcefalia severa pela SES.

Dados do Ministério da Saúde apontam, ainda, que entre 2015 e 2019 mais de 62% dos casos de microcefalia e outras malformações congênitas foram registrados somente na região Nordeste. “Diante desse cenário crítico na nossa região, Pernambuco dá um passo à frente no apoio dado a essas pessoas, que sofrem, muitas vezes, preconceito da sociedade”, reforça o parlamentar.

*Da assessoria de imprensa

Em meio à pandemia de Covid, o Brasil completou cinco anos do anúncio de outra emergência em saúde pública: o surto de microcefalia causado pelo zika vírus. Embora os casos da má-formação venham diminuindo desde 2016, as 3 mil crianças que nasceram com o problema no País continuam lidando com sequelas graves da síndrome - em alguns casos, agravadas com a crise do coronavírus.

Alessandro, Laura, Matheus e Pérola fazem parte do primeiro grupo de crianças nascidas com a síndrome congênita do zika no Brasil, entre 2015 e 2016. Hoje com 5 anos, tiveram algum nível de regressão em seu desenvolvimento após suspenderem total ou parcialmente o tratamento. São acompanhadas pelo Estadão desde o primeiro ano de vida. Quando completaram 12 meses, uma reportagem especial mostrou o descaso governamental na oferta de terapias e as dificuldades enfrentadas pelas famílias. Quatro anos depois, o cenário não é muito diferente.

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Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o tema, publicado em fevereiro, das 2.953 crianças vivas com síndrome congênita associada ao zika, 56,4% estão recebendo atendimento especializado. E o problema da falta de acesso às terapias pode ser ainda maior. Isso porque não se sabe ao certo o número real de crianças vivendo com as sequelas da SCZ no País por causa do alto número de casos suspeitos da síndrome que ainda não tiveram investigação concluída.

De 2015 a 2020, foram notificadas 19.622 suspeitas do quadro, das quais 3.577 foram confirmadas e 2.890 estão sob investigação, mais de 500 referentes a nascimentos ocorridos nos anos de 2015 e 2016. Isso quer dizer que o País pode ter centenas ou milhares de crianças com alguma sequela do vírus sem nem constar nos registros oficiais - e provavelmente sem contar com assistência profissional.

Considerando apenas o ano de 2020, 1.007 novos casos foram notificados, dos quais 35 (3,5%) foram confirmados e 597 (59,3%) permanecem em investigação. O próprio ministério ressalta em seu boletim de fevereiro que os casos sem resolução dificultam a elaboração de políticas públicas e destaca que, embora o período crítico do surto tenha terminado, o País vem registrando novos casos da síndrome. "O alto porcentual de casos em investigação pode comprometer o conhecimento do verdadeiro cenário epidemiológico da SCZ no Brasil. A notificação dos casos suspeitos só faz sentido se devidamente investigados, de modo a produzir informação confiável e guiar o planejamento das ações para enfrentamento da doença", destaca o documento.

Também chama a atenção a alta mortalidade entre essas crianças. Dos 3.423 nascidos vivos entre 2015 e 2020 com o diagnóstico confirmado da síndrome, 493 já morreram, o equivalente a 14,4%. Se calculada a taxa de mortes por mil nascidos vivos até 5 anos, o índice das crianças com a síndrome é de 144, dez vezes maior do que esse índice na população geral da mesma faixa etária (13,9).

Para Germana Soares, presidente da União Mães de Anjos (UMA), associação de Pernambuco que representa famílias de crianças com a síndrome do Estado, a pandemia só agravou as dificuldades vividas pelas crianças e suas famílias. "Guilherme, sem a fisioterapia, foi ficando com o pé atrofiadinho e tive de passar com ele numa consulta de urgência no ortopedista", explica ela, referindo-se ao filho, também de 5 anos.

A médica Mariangela Rocha, coordenadora da infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife, referência no Estado para acompanhamento das crianças com a má-formação, conta que, durante a pandemia, a unidade se tornou referência também para atendimento de covid-19, o que dificultou a manutenção do atendimento multidisciplinar. "Ficamos praticamente com todos os leitos dedicados à covid", conta ela, que também teve de se distanciar do trabalho presencial por ser do grupo de risco.

A médica diz que os terapeutas do hospital chegaram a gravar vídeos com instruções para os familiares fazerem estimulação com as crianças em casa, mas que, por mais dedicados que sejam os pais, dificilmente os esforços substituirão um atendimento profissional. A mãe de Guilherme conta que, mesmo antes da pandemia, os centros de reabilitação que atendiam as crianças foram reduzindo as vagas. "E alguns centros mais distantes da capital têm dificuldade para contratar profissional porque ninguém quer estar em um local mais pobre e distante para ganhar R$ 1,4 mil. São vários obstáculos", diz.

Para Monique Oliveira, doutora pela Faculdade de Saúde Pública da USP que, em sua tese, pesquisou a relação da ciência com as famílias no zika vírus, "o esforço da comunidade científica foi fechar a relação de causalidade entre o zika e a microcefalia". "Mas essa era a pergunta mais relevante? Não vemos o mesmo esforço da comunidade científica para respostas como o modelo de intervenção que precisa ser pensado para essas crianças. Então fica uma frustração das famílias."

Governo federal

Questionado, o Ministério da Saúde informou que, atualmente, há 506 serviços de reabilitação que recebem orçamento de custeio do governo federal. De acordo com a pasta, muitos desses serviços "passaram a utilizar estratégias alternativas por causa da pandemia, como o teleatendimento". Além disso, ressaltou que foram investidos, desde 2015, mais de R$ 223 milhões em pesquisas relacionadas aos temas zika e microcefalia.

Alessandro

'11 KG E DIFICULDADE PARA PODER COMER

O pesadelo da família de Alessandro começou com a dificuldade dele em se alimentar pela boca após parar com as sessões de fonoaudiologia. Com o atendimento semanal suspenso por causa da pandemia, o garoto de Goiana, cidade a 70 km do Recife, passou a ter dificuldades para deglutir e começou a perder peso. Chegou a pesar, no início de 2021, 11 quilos - o esperado para crianças na faixa dos 2 anos.

Segundo a mãe, a dona de casa Rayane Gomes Mendes, de 24 anos, por alguns meses o menino teve de ser nutrido por sonda - primeiro pela via nasogástrica, aquela que é colocada do nariz até o estômago. "Era fevereiro de 2021 e os hospitais todos lotados por causa da covid, eu fiquei muito nervosa, tremia, não conseguia dormir quando ele estava nessa situação", diz ela. A angústia de ver o filho internado com quadro de desidratação fez a jovem desenvolver depressão, doença que vem agora tentando controlar com medicamentos e terapia.

Rayane espera agora que o menino consiga retomar integralmente as terapias que fazia em três hospitais.

Laura

'ELA NÃO SENTA, NÃO USA A MÃO'

Sem fisioterapia, a rigidez muscular, típica das crianças com sequelas neurológicas, se intensificou. "Ela teve de entrar até no Rivotril por causa da musculatura rígida. A fisioterapia era boa para relaxar os músculos, para poder fazer cocô. Na fono, fazia exercícios para conseguir deglutir a saliva, para não broncoaspirar. Alimento, ela não consegue comer, usa sonda. Com a suspensão, não tem mais evolução. Não senta, não pega nada com as mãos", diz a dona de casa Jaqueline Oliveira, de 30 anos, mãe de Laura.

Como se não bastassem os prejuízos em sua qualidade de vida, a menina de 5 anos (gêmea de Lucas, que nasceu sem a má-formação) foi afetada até pela crise econômica na pandemia. Seu pai perdeu o emprego após a empresa onde trabalhava fechar - o dono morreu de covid.

Sem a principal renda da casa e com Laura e mais três crianças para sustentar, Jaqueline e o marido decidiram, em abril, voltar para Pernambuco, onde nasceram e têm familiares. Foram viver em Camutanga, município de 8 mil habitantes distante pouco mais de 100 quilômetros do Recife. Ao procurar assistência especializada na cidade, Jaqueline se decepcionou. Segundo ela, os médicos "nem sabiam lidar" com uma criança com microcefalia.

Matheus

TRATAMENTO PAGO POR VIA JUDICIAL

Matheus é uma das poucas crianças com a síndrome congênita do zika que conseguiu manter as terapias. Como é beneficiário de um bom plano de saúde oferecido pela empresa da mãe, ele pôde continuar com sessões domiciliares de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, além de hidroterapia e psicologia fora de casa. Há três anos, também frequenta uma clínica privada que oferece therasuit, terapia inovadora que usa equipamentos, vestimentas e órteses para estimular de diferentes maneiras as crianças com problema motor.

A família entrou na Justiça para obrigar o convênio a arcar com os custos da assistência. "Ganhamos. O tratamento custa de R$ 9 mil a R$ 12 mil por mês", conta a mãe, a bancária Isabel Cristina Gomes de Albuquerque, de 43 anos.

Pérola

'SE EU MORRER, QUEM VAI CUIDAR?'

Durante quase um ano, Pérola ficou sem frequentar as terapias. No meio de 2021, Marcione Gomes da Rocha, de 33 anos, conseguiu que a filha retomasse o tratamento duas vezes por semana em unidades de saúde da cidade. A vendedora conta que ficou receosa em sair do isolamento por medo de se contaminar e deixar desamparados os filhos, outro dilema das mães de menores com microcefalia.

Se não vão às terapias, veem os filhos regredirem no desenvolvimento. Se decidem ir, ficam com o medo de uma contaminação."Se eu morrer, quem vai cuidar dessas crianças?", questiona.

Mesmo com a retomada das terapias há cerca de dois meses, os danos da interrupção da assistência ainda são evidentes para a mãe. "Ela pode ter de fazer cirurgia", conta.

ESTA REPORTAGEM FOI FEITA COM O APOIO DO DART CENTER FOR JOURNALISM & TRAUMA, UM PROJETO DA ESCOLA DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE COLUMBIA (EUA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma criança de 4 anos com microcefalia decorrente da Síndrome Congênita do Zika Vírus morreu por Covid-19 no Recife na quinta-feira (28). Este é o primeiro caso confirmado de óbito por Covid-19 de uma criança com microcefalia decorrente do zika em Pernambuco, segundo a União de Mães de Anjos (UMA).

 Isabella Gomes dos Santos morava em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco. Ela foi internada com sintomas do novo coronavírus no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife, em 25 de maio.

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 “Quando uma mãe especial perde um filho, todas as outras perdem um pouco também”, escreveu a UMA em postagem nas redes sociais. A mãe de Isabella apresentou sintomas do novo coronavírus, mas passa bem. A UMA diz que não houve nenhum outro registro de caso confirmado de coronavírus nas crianças com microcefalia ou em seus pais.

 Até a última quinta-feira (29), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) havia confirmado 2.566 mortes por Covid-19. Foram registrados 30.713 casos da doença no estado. Desses, 13.354 casos considerados graves.

Uma dieta pobre em proteína torna mulheres mais vulneráveis a infecções e teria contribuído para o nascimento de bebês com microcefalia na epidemia de zika no Brasil, em 2016. A correlação é feita por um grupo internacional de cientistas que assina novo estudo na revista Science Advance.

A hipótese foi testada originalmente em camundongos. O trabalho, feito na Universidade Federal do Rio (UFRJ), revelou que entre as roedoras infectadas por zika só as que tinham déficit proteico significativo na alimentação tiveram filhotes com microcefalia. Dados epidemiológicos confirmaram a tendência também em humanos.

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"Eles se tornaram muito mais suscetíveis à infecção, apresentavam carga viral maior e, além disso, vimos que o vírus causava alteração placentária muito maior do que a do animal controle. Essa barreira (a placenta) foi totalmente destruída", diz Patrícia Garcez, da UFRJ, uma das principais autoras.

Os cientistas entrevistaram mulheres que tiveram bebês com microcefalia para determinar seus hábitos alimentares. Dados epidemiológicos revelaram que uma taxa alta (40%) de mães que tiveram filhos com a síndrome congênita da zika também apresentavam desnutrição proteica. Foram ouvidas 83 mulheres no Ceará.

Em países desenvolvidos como os Estados Unidos, a transmissão vertical do vírus (mãe para filho) é de menos de 1%. No Brasil, na epidemia de zika, essa taxa chegou a 43%, com a maioria dos casos no Nordeste.

A alimentação rica em carboidratos e pobre em proteínas é comum nas áreas mais pobres do País. Em número de calorias, a dieta pode estar no padrão recomendado. O indivíduo pode até não ser magro; pelo contrário, tende ao sobrepeso. Mas a carência de alimentos ricos em proteínas (mais caras que os carboidratos) leva a uma deficiência do sistema imunológico, facilitando a infecção e a transmissão do vírus ao feto.

A Organização Mundial da Saúde recomenda que um adulto coma 60 gramas diárias de proteína - um bife médio tem 30 gramas e um ovo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Grupo de 27 pesquisadores do Brasil, Reino Unido, Argentina e Estados Unidos descobriu correlação entre a desnutrição das mães e a síndrome congênita do vírus Zika nos bebês, que tem na microcefalia uma de suas manifestações. A conclusão do trabalho foi publicada nesta sexta-feira (10) no periódico norte-americano Science Advances.

O trabalho foi dividido em duas partes disse a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Patrícia Garcez, integrante do grupo de estudo. O trabalho foi iniciado em 2016 e envolveu, na primeira fase, estudos em laboratório com animais de experimentação. Foi usado um grupo que não era suscetível ao vírus Zika, “que não causava microcefalia”, e um grupo dos mesmos animais que eram submetidos a uma dieta com restrição de proteína durante a gravidez.

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“Na verdade, o que a gente mudou foi só a dieta de um grupo para outro. E quando a gente mudou a dieta, isso foi suficiente para fazer com que esse animal fosse mais suscetível a transmitir o vírus que tinha no ambiente materno para o feto”, disse Patricia. Os pesquisadores procuraram então entender se isso acontecia também com mães que tiveram filhos com a síndrome congênita. Ou seja, se as mães estavam com alimentação com restrição de proteína .

Confirmação

Foram entrevistadas 83 mães no Nordeste. “A gente descobriu que 40% dessas mães apresentavam desnutrição proteica”. Isso pode ter favorecido que os filhos dessas mães nascessem com microcefalia, por exemplo. Patricia explicou que a prevalência de mulheres que, quando infectadas no primeiro trimestre são capazes de transmitir o vírus para os fetos, varia muito, dependendo da região. Essa variação da transmissão vertical pode ser de 1% em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, chegando a 43% no Brasil.

Os pesquisadores decidiram investigar por que havia mais prevalência da síndrome congênita do Zika em algumas regiões e por que algumas mães eram mais suscetíveis do que outras. “É uma série de cofatores que pode estar facilitando essa diferença de prevalência na população e a gente mostrou, graças a esse estudo, que a dieta, certamente, é um desses cofatores”. A Região Nordeste foi escolhida para a pesquisa porque concentra 75% dos casos associados ao vírus Zika.

Os pesquisadores querem entender melhor, a partir de agora, como a dieta influi no sistema imune e como ela atua para facilitar o aumento da suscetibilidade ao vírus Zika. Outra meta é testar se algum tipo de dieta é capaz de reverter essa situação. “[Vamos verificar] se a gente consegue proteger os animais da infecção do vírus, sem transmitir aos bebês, por meio de uma dieta rica em proteína”. Outra diretriz é estender o estudo para outras regiões para ver se essa porcentagem de desnutrição proteica tem uma correlação positiva nas mães que tiveram filhos com microcefalia. “Essa pesquisa abre muitas avenidas”, disse Patricia Garcez.

Ministério da Saúde

A pesquisa é focada em 24 dos 27 estados brasileiros porque, segundo a pesquisadora da UFRJ, nos estados da Região Sul quase não houve síndrome congênita. O foco é a área tropical, que mostra presença acentuada do vetor, que é o mosquito Aedes aegypti.

Os pesquisadores haviam explorado, anteriormente, a relação potencial entre desnutrição e malformações associada ao vírus Zika por meio da análise do banco de dados integrado do Ministério da Saúde. Para isso, consideraram o número de casos de microcefalia confirmados e aqueles ainda sob investigação nos estados selecionados, entre 2015 e 2018, quantificando o número de pacientes desnutridos admitidos em hospitais nos mesmos estados e no mesmo período.

Eles apuraram, então, a existência de uma correlação significativa entre casos de microcefalia e desnutrição, o que aponta que estados onde se identificou um número maior de casos com desnutrição, na última década, também contavam com mais crianças com malformações desde o surgimento da síndrome do vírus Zika no Brasil.

Assimetria

Segundo a professora Patricia Garcez, a parceria com o Ministério da Saúde está sendo essencial para entender melhor a microcefalia e a distribuição no Brasil, que é assimétrica, e os cofatores que atuam. “A dieta é um cofator relevante, como estamos mostrando, mas, certamente, há outros fatores”, disse. Patricia acredita que a publicação do artigo científico na revista Science Advances será importante para a obtenção de novos financiamentos que garantam a continuidade dos estudos.

A pesquisa foi financiada pelo Zika Rapid Response do Medical Research Council do Reino Unido; pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj); pelo Ministério da Saúde do Brasil e pela American Association of Physical Anthropologists (AAPA). A segunda etapa do projeto, para testar se uma dieta rica produz o mesmo efeito nos embriões, deverá ser iniciada ainda este ano.

 

O plenário da Câmara dos Deputados acelerou os trabalhos na tarde desta terça-feira, 17, para aprovar uma série de projetos antes do recesso parlamentar, que começa na próxima semana. Entre as medidas, os deputados aprovaram o pagamento de pensão mensal vitalícia para crianças com microcefalia causada pelo vírus zika.

A Medida Provisória 894 determina o pagamento de um salário mínimo por mês para crianças com microcefalia nascidas entre o dia 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro deste ano. Agora, a matéria segue para o Senado.

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Aprovado por unanimidade pela comissão mista, o período compreendeu um ano a mais do que o previsto originalmente. Antes, a MP concederia o benefício aos nascidos até dezembro de 2018.

"Essas crianças exigem de suas mães a necessidade de elas abandonarem o emprego para criar e cuidar de seus filhos", disse a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC). Para ter acesso à pensão, a família deve fazer requerimento ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Uma perícia médica do INSS será feita para apontar se, de fato, existe relação entre a microcefalia e o vírus zika em cada caso.

Também foi aprovado projeto de lei que aumenta a pena de quem abusa, fere ou mutila cães e gatos. O texto aprovado é o substitutivo da comissão especial do deputado Fred Costa (Patriota-MG).

O plenário deu aval ainda à proposta que autoriza a União a transferir recursos, a título de contribuição de capital, em favor de Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs) para a realização de investimentos em presídios.

Antes disso, os deputados aprovaram uma moção de aplauso ao educador Paulo Freire, morto em 1997. Ele foi criticado na segunda-feira, 16, pelo presidente Jair Bolsonaro. (Com informações da Agência Brasil)

Em meio ao surto do vírus Zika que impactou milhares de famílias pelo Brasil, entre 2015 e 2016, nasceu a pequena Nicole, em Salvador, na Bahia. Enquanto a mãe Ingrid Graciliano aguardava a chegada da filha, que completa 4 anos este mês, o susto: um diagnóstico de microcefalia. A doença da filha a afetou emocionalmente. Ingrid passou a desenvolver os primeiros sintomas da depressão pela novidade, pela quebra de expectativa e por imaginar os cuidados e a luta que seria criar Nicole.

Hoje, ela é a presidente da Associação de Anjos da Bahia e compara a situação a um luto, o que levou à depressão, doença que atinge muitas mães e cuidadoras de crianças afetadas pela síndrome congênita do Zika. “A depressão veio depois que eu tive Nicole e se potencializou ainda mais. Olhava para ela e via que não me acompanhava com o olhar porque tinha baixa visão, né. Aquilo me doía muito. Eu amamentava e ela não olhava pra mim. Não é um luto passageiro, é um luto eterno porque a gente sempre vai procurando aquela criança que a gente sonhou”, disse.

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Segundo ela, a situação da filha gera um desgaste psicológico muito grande. “Eu me separei do meu marido, tive um quadro de depressão muito crítico, pensamentos suicidas, comecei a tomar ansiolítico. Tinha uma vida plena antes, trabalhava, estudava e não poderia me colocar no mercado de trabalho porque tinha de cuidar daquela criança ali.”

Ingrid disse também que a falta de apoio familiar e suporte de políticas públicas para os cuidadores das crianças influencia no agravamento do quadro depressivo. Segundo a presidente da associação, quase 80% das crianças afetadas pelo Zika foram deixadas pelo pai e dez mães da associação já tentaram suicídio.

“É preciso cuidar de quem cuida”. É o que defende, com unhas e dentes, a psiquiatra Darci Neves, também epidemiologista e professora do instituto de saúde coletiva da Universidade Federal da Bahia, depois que realizou um estudo preliminar sobre quem cuida das crianças afetadas pelo vírus. “A expectativa de uma família perante algo tão inusitado como foi a síndrome congênita do Zika, nos fez pensar que pudessemos aliviar esse sofrimento. Pensamos em cuidar de quem cuida. Se isso não for feito, a criança também não é beneficiada”, afirmou a médica.

Segundo a psiquiatra, o estudo foi realizado com famílias de 165 crianças que foram impactadas, de alguma forma, com o surto do zika vírus, entre 2015 e 2016, em Salvador. O resultado, de acordo com ela, era previsto na literatura médica, mas a confirmação de que uma a cada três pessoas que cuidam dessas crianças apresentam diagnóstico de depressão. E a maior parte, 90%, é de mães.

Para a especialista, a síndrome congênita do Zika vírus gera o fator surpresa na família e ocasiona o estresse que pode levar à depressão. Além disso, ela considera necessária a elaboração de políticas públicas que deem suporte a quem cuida dos pequenos, principalmente as mães.

Estudo

Com o título Desenvolvimento Infantil na Comunidade, a equipe que a médica coordena acompanhou as 165 crianças de até 3 anos de idade, em Salvador. Todas foram afetadas, de alguma forma, pelo surto do Zika: podendo ser microcefalia, hidrocefalia ou sem interferência na aparência do bebê, mas de caráter neurológico.

Nessa avaliação sobre o desenvolvimento dessas crianças, a pesquisa analisou três fatores: cognição, motricidade e linguagem. No fim das contas, o estudo aponta uma idade mental de 1 ano de idade, em crianças de 3 anos. “Há muitas outras alterações neurológicas que não necessariamente acontecem na cabeça. Essas alterações que atingiram o cérebro da criança tem um poder de dano muito grande. Observamos que as funções cognitivas estão abaixo do que disseram. A gente encontrou esses percentuais elevados para funções cognitivas, para a função motora e de linguagem”, disse Darci.

No desenvolvimento motor, por exemplo, foi avaliada a capacidade de agarrar objetos, andar e pular. Em mais de 80% das crianças avaliadas apresentaram atraso, em relação a outras crianças da mesma idade. A capacidade cognitiva, como percepção, memória e raciocínio foi afetada pelo Zika em 79% dos pequenos. E quanto à linguagem, o estudo revelou um atraso em relação à idade em 78% das crianças avaliadas.

Foi na capital baiana que o vírus da doença foi identificado pela primeira vez, em 2015, em pacientes infectados. A microcefalia se tornou a complicação mais conhecida em bebês de mães que tiveram o vírus Zika, mas existem outras complicações, como problemas motores e neurológicos que podem afetar a visão, a audição e o desenvolvimento da criança.

Cerca de 60% das mães participaram da pesquisa, coordenada pela professora da UFBA, Darci Neves, com financiamento de agências de pesquisa Capes e CNPq e do Ministério da Saúde. Caso o financiamento seja mantido, o próximo passo do estudo é analisar o desenvolvimento dessas crianças na fase escolar, nos próximos anos. Só assim vai ser possível embasar a elaboração de políticas públicas às crianças e familiares afetados pelo Zika.

 

Em meio ao surto do vírus Zika que impactou milhares de famílias pelo Brasil, entre 2015 e 2016, nasceu a pequena Nicole, em Salvador, na Bahia. Enquanto a mãe Ingrid Graciliano aguardava a chegada da filha, que completa 4 anos este mês, o susto: um diagnóstico de microcefalia. A doença da filha a afetou emocionalmente. Ingrid passou a desenvolver os primeiros sintomas da depressão pela novidade, pela quebra de expectativa e por imaginar os cuidados e a luta que seria criar Nicole.

Hoje, ela é a presidente da Associação de Anjos da Bahia e compara a situação a um luto, o que levou à depressão, doença que atinge muitas mães e cuidadoras de crianças afetadas pela síndrome congênita do Zika. “A depressão veio depois que eu tive Nicole e se potencializou ainda mais. Olhava para ela e via que não me acompanhava com o olhar porque tinha baixa visão, né. Aquilo me doía muito. Eu amamentava e ela não olhava pra mim. Não é um luto passageiro, é um luto eterno porque a gente sempre vai procurando aquela criança que a gente sonhou”, disse.

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Segundo ela, a situação da filha gera um desgaste psicológico muito grande. “Eu me separei do meu marido, tive um quadro de depressão muito crítico, pensamentos suicidas, comecei a tomar ansiolítico. Tinha uma vida plena antes, trabalhava, estudava e não poderia me colocar no mercado de trabalho porque tinha de cuidar daquela criança ali.”

Ingrid disse também que a falta de apoio familiar e suporte de políticas públicas para os cuidadores das crianças influencia no agravamento do quadro depressivo. Segundo a presidente da associação, quase 80% das crianças afetadas pelo Zika foram deixadas pelo pai e dez mães da associação já tentaram suicídio.

“É preciso cuidar de quem cuida”. É o que defende, com unhas e dentes, a psiquiatra Darci Neves, também epidemiologista e professora do instituto de saúde coletiva da Universidade Federal da Bahia, depois que realizou um estudo preliminar sobre quem cuida das crianças afetadas pelo vírus. “A expectativa de uma família perante algo tão inusitado como foi a síndrome congênita do Zika, nos fez pensar que pudessemos aliviar esse sofrimento. Pensamos em cuidar de quem cuida. Se isso não for feito, a criança também não é beneficiada”, afirmou a médica.

Segundo a psiquiatra, o estudo foi realizado com famílias de 165 crianças que foram impactadas, de alguma forma, com o surto do zika vírus, entre 2015 e 2016, em Salvador. O resultado, de acordo com ela, era previsto na literatura médica, mas a confirmação de que uma a cada três pessoas que cuidam dessas crianças apresentam diagnóstico de depressão. E a maior parte, 90%, é de mães.

Para a especialista, a síndrome congênita do Zika vírus gera o fator surpresa na família e ocasiona o estresse que pode levar à depressão. Além disso, ela considera necessária a elaboração de políticas públicas que deem suporte a quem cuida dos pequenos, principalmente as mães.

Estudo

Com o título Desenvolvimento Infantil na Comunidade, a equipe que a médica coordena acompanhou as 165 crianças de até 3 anos de idade, em Salvador. Todas foram afetadas, de alguma forma, pelo surto do Zika: podendo ser microcefalia, hidrocefalia ou sem interferência na aparência do bebê, mas de caráter neurológico.

Nessa avaliação sobre o desenvolvimento dessas crianças, a pesquisa analisou três fatores: cognição, motricidade e linguagem. No fim das contas, o estudo aponta uma idade mental de 1 ano de idade, em crianças de 3 anos. “Há muitas outras alterações neurológicas que não necessariamente acontecem na cabeça. Essas alterações que atingiram o cérebro da criança tem um poder de dano muito grande. Observamos que as funções cognitivas estão abaixo do que disseram. A gente encontrou esses percentuais elevados para funções cognitivas, para a função motora e de linguagem”, disse Darci.

No desenvolvimento motor, por exemplo, foi avaliada a capacidade de agarrar objetos, andar e pular. Em mais de 80% das crianças avaliadas apresentaram atraso, em relação a outras crianças da mesma idade. A capacidade cognitiva, como percepção, memória e raciocínio foi afetada pelo Zika em 79% dos pequenos. E quanto à linguagem, o estudo revelou um atraso em relação à idade em 78% das crianças avaliadas.

Foi na capital baiana que o vírus da doença foi identificado pela primeira vez, em 2015, em pacientes infectados. A microcefalia se tornou a complicação mais conhecida em bebês de mães que tiveram o vírus Zika, mas existem outras complicações, como problemas motores e neurológicos que podem afetar a visão, a audição e o desenvolvimento da criança.

Cerca de 60% das mães participaram da pesquisa, coordenada pela professora da UFBA, Darci Neves, com financiamento de agências de pesquisa Capes e CNPq e do Ministério da Saúde. Caso o financiamento seja mantido, o próximo passo do estudo é analisar o desenvolvimento dessas crianças na fase escolar, nos próximos anos. Só assim vai ser possível embasar a elaboração de políticas públicas às crianças e familiares afetados pelo Zika.

Uma emenda à medida provisória 894, que cria uma pensão vitalícia para as crianças que nasceram com microcefalia exclusivamente entre os anos de 2015 e 2018, solicita que o benefício seja estendido para todas as crianças acometidas com a Síndrome Congênita do Zika Vírus. A proposta que muda o prazo de nascimento para o recebimento da pensão foi apresentada nessa quarta-feira (11) e é de autoria da deputada federal Marília Arraes (PT). 

De acordo com a petista, a emenda  busca “garantir que todas as crianças que nasceram com a Síndrome Congênita do Zika Vírus sejam atendidas, independentemente do período em que tenham nascido ou venham a nascer; desvincular a pensão vitalícia do Benefício de prestação Continuada (BPC) e, por conseguinte, à situação financeira das famílias; apresenta a possibilidade de receber abono ou pensão por morte nos casos em que há dedicação exclusiva do responsável legal por um período determinado”. 

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Além disso, também quer retirar do texto a exigência de que as crianças já diagnosticadas com a doença sejam obrigadas a fazer um novo exame, já que possuem laudo médico emitido pelo SUS atestando sua condição.

A proposta apresentada ainda visa impedir que as famílias sejam obrigadas a abrir mão de qualquer tipo de indenização que recebam ou venham a receber da Justiça para terem o auxílio pago pelo Estado, como prevê o texto original de autoria do Executivo.  

“É responsabilidade do Estado brasileiro pagar um benefício para todas as famílias que sofrem com a síndrome. Não podemos deixar que limitem os pagamentos apenas para crianças que nasceram em um determinado período de tempo e muito menos que o Estado obrigue às famílias a abrir mão de ações indenizatórias de reparação moral ou material e que as crianças tenham que ser submetidas a novos exames para comprovar uma situação clínica já reconhecida pelo SUS. Nossa emenda tem como objetivo ampliar a proteção a estas crianças e suas famílias”, destacou a deputada.

No início de agosto, Marília chegou a apresentar um projeto de lei que garantia o pagamento do BPC às famílias com crianças com microcefalia. A matéria foi ainda alvo de um requerimento de urgência, com o objetivo de acelerar sua apreciação.

O Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira, dia 5, traz a Medida Provisória 894, que institui pensão especial destinada a crianças com microcefalia decorrente do zika vírus, nascidas entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2018, beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A MP foi assinada na quarta-feira (4) em cerimônia realizada no Palácio do Planalto. O valor da pensão vitalícia é de um salário mínimo. Segundo o governo, há 3.112 crianças com microcefalia, nascidas nesse período, que recebem o BPC. Famílias elegíveis, que optarem pela pensão especial, não poderão acumular os dois benefícios e deixarão de receber o BPC em caso de concessão da pensão, cujo valor também é de um salário mínimo.

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A diferença é que o BPC está vinculado a uma faixa de um quarto do salário mínimo per capita de renda mensal da família. Acima disso, não é possível requerer o BPC. Dessa forma, algumas mães que conseguem emprego acabam perdendo o benefício. A pensão especial é intransferível e não gerará direito a abono ou a pensão por morte.

Uma Medida Provisória assinada pelo Governo Federal concede às crianças com microcefalia, que já são beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC), uma pensão especial vitalícia no valor de um salário mínimo. A MP assinada nesta quarta-feira (4), define que os responsáveis que optarem pela pensão especial terão que abrir mão do BPC em caso de concessão do benefício vitalício. 

A medida foi proposta pelo Ministério da Cidadania. O órgão aponta que atualmente mais de 3 mil crianças com microcefalia, nascidas entre 2015 e 2018, recebem o Benefício de Prestação Continuada. A pensão vitalícia deverá ser solicitada no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e concedida após a realização de perícia médica que deve confirmar a relação entre a microcefalia  o virus Zika.

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O ministro Osmar Terra aponta que a medida assegura tranquilidade às mães. “São famílias que enfrentam dificuldade financeira para oferecer os cuidados necessários às crianças, que terão muitas dificuldades por toda a vida”, diz.

Estudo realizado por brasileiros indica que o vírus da zika pode não ter sido o único causador dos severos casos de microcefalia no País partir de 2015. Cientistas demonstraram que más-formações congênitas, observadas sobretudo no Nordeste, podem ter sido agravadas por bactéria presente na água.

A pesquisa, realizada pelo Instituto D'Or (IDOR), Fiocruz e pelas Universidades Federais do Rio de Janeiro e Rural de Pernambuco (UFRJ e UFRPE), demonstrou que a saxitoxina (STX), toxina liberada por bactéria encontrada em reservatórios de água, é capaz de acelerar a morte de células neuronais também expostas à infecção pelo zika. O fenômeno foi observado pelos pesquisadores em experimentos realizados em camundongas grávidas e em minicérebros humanos. Em ambos os casos, a presença de STX associada ao zika acelerou em mais de duas vezes a destruição de células do cérebro.

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Na mesma pesquisa, os cientistas também descobriram que a prevalência da cianobactéria Raphidiopsis raciborskii e da toxina produzida por ela era significativamente maior nos reservatórios de água do Nordeste do que em outras regiões. O achado ajudaria a explicar por que Estados nordestinos foram os mais afetados. Do total de casos de síndrome congênita de zika no País, de 2015 a 2018, 63% foram no Nordeste.

Um dos financiadores do estudo, o Ministério da Saúde afirmou que ainda não se pode dizer que a relação entre toxina, zika e microcefalia observada nos camundongos tenha efeito em humanos, mas destacou que "os achados científicos são importantes para a próxima fase do estudo, que irá avaliar essa correlação com a água". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A União e o Estado do Paraná vão ter de fornecer o remédio Isodiolex (à base de canabidiol) a uma criança com microcefalia e paralisia cerebral, que mora em Cascavel. A determinação foi do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que acatou pedido do Ministério Público Federal.

O caso chegou à Procuradoria em julho do ano passado, relatado pela mãe da criança, que nasceu prematura de 29 semanas com diagnósticos de microcefalia, paralisia cerebral, hidrocefalia e epilepsia, com média de 10 crises ao dia.

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O Ministério Público Federal ajuziou ação civil pública, "tendo em vista que, segundo laudo pericial judicial, a paciente esgotou as alternativas terapêuticas fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sem redução na frequência das crises convulsivas".

A Procuradoria pediu que a União e o estado do Paraná custeassem o medicamento Isodiolex, que não tem equivalente na rede pública e demonstra boa eficácia no tratamento da epilepsia.

Em decisão liminar em outubro do ano passado, a Justiça Federal no Paraná acatou o pedido do Ministério Público Federal. No entanto, a União recorreu ao TRF-4 e obteve a suspensão da decisão até que o Tribunal julgasse o caso.

A União argumentou basicamente que é vedado o fornecimento pelo SUS de qualquer medicamento sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda que o remédio tenha sua importação autorizada pela agência.

Tal entendimento foi firmado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial 1657156/RJ.

Em 6 de fevereiro deste ano, o TRF-4, ao analisar o caso, entendeu pertinente a defesa da União e decidiu que não cabia a concessão do remédio.

A Procuradoria recorreu alegando que, excepcionalmente em relação ao canabidiol, a Anvisa tem autorizado sua importação por pessoa física, para uso próprio, estando a matéria regulamentada pela Resolução 17/2015.

Ou seja, mesmo não havendo ainda o registro, é possível a prescrição a pacientes com doenças graves e sem alternativa terapêutica satisfatória com produtos registrados no país.

Com base nos novos argumentos, no último dia 18 de julho, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgou o recurso do Ministério Público Federal - embargos de declaração - e reformou o acórdão de fevereiro.

As informações foram divulgadas pela Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República no Paraná.

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Mães de crianças com microcefalia da síndrome congênita do zika vírus realizam um protesto em frente à sede do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na área central do Recife, nesta quinta-feira (18). Sem motivo aparente e sem aviso prévio, 22 mães pararam de receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC), no valor de um salário mínimo.

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A presidente da União Mães de Anjos (UMA), Germana Soares, foi uma das mães que foi pega de surpresa. “Quando chegou a data que era para receber, o dinheiro não estava na conta. Isso aconteceu comigo, compartilhei com as minhas irmãs de luta e para o meu susto outras irmãs estavam na mesma situação. Isso está acontecendo em todo o estado”, explica Germana. Segundo a UMA, há 438 crianças com microcefalia em decorrência da zika e 400 mães recebem o BPC.

Germana afirma que o INSS tem solicitado um prazo de 30 a 85 dias para dar uma resposta. "Nesse tempo a gente vai viver de quê? Nossas crianças vão viver de quê? Vão tomar remédio de onde? É uma irresponsabilidade muito grande"

Uma das mulheres mais aflitas no protesto é Gleyse Kelly Silva, de 31 anos. Ela tem quatro crianças, uma delas com microcefalia, e está grávida de sete meses do quinto filho. O marido, que é vigilante, se encontra desempregado há dois meses. “Não chegou nem uma carta para nos informar que iria ser bloqueado. Na última vez que tirei o dinheiro, tinha nenhum informativo que seria bloqueado ou que seria suspenso. Já vim aqui no INSS duas vezes, já fui no banco três vezes e nada de resposta. Enquanto isso, as dívidas vão se acumulando”, relata Gleyse. Ela vive de aluguel e está com duas contas atrasadas.

Outra mulher atingida é Erivânia Rocha, que cuida da neta Eloísa, detentora da síndrome congênita. Ela detalha a situação que enfrenta: “No dia 26 do mês passado, quando fui fazer o saque, estava bloqueado, suspenso. A gente foi de agência e agência e nada de resolver. Não tem motivo para isso. Eu fiz tudo direitinho. A gente para tudo para cuidar da criança. Eu tinha renda e deixei de ter”. Erivânia era autônoma, mas precisou deixar o emprego. Segundo ela, o pai de Eloísa não aceitou a filha após descobrir que ela tinha microcefalia.

Apesar da manifestação no INSS, o instituto informou que o caso deverá ser tratado com o Ministério da Cidadania. Por nota, o Ministério da Cidadania informou ter entrado em contato com a UMA e solicitado os dados das beneficiárias para verificar as situações cadastrais.

O benefício assistencial a crianças com microcefalia dura o prazo máximo de três anos. É necessário que a renda por pessoa do grupo familiar seja menor que um quarto do salário mínimo vigente.

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, participou nesta segunda-feira (20) da mesa de abertura do seminário “Mães de Crianças com Microcefalia: entendendo os desafios e superando o preconceito”.

 O evento aconteceu na Câmara dos Deputados, em Brasília, e contou também com a participação da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Dezenas de mães de crianças acometidas com a doença estiveram presentes para ouvir a ministra.

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 “Se abrirmos brecha para a vida de uma criança seja ceifada porque ela tem microcefalia, em breve também haverá pressão para que o façamos também nos casos de síndrome de Down e outras deficiências”, disse Damares.

 Em seu discurso, a ministra afirmou que “esse auditório e essa mesa mostram que o Brasil mudou, estamos vivendo uma nova nação, um novo momento”. Ela aproveitou para contar sobre uma vigília que fez no Supremo Tribunal Federal com um padre e um espírita.

 “As pessoas perguntavam como é que podia um padre, uma pastora e um espírita sozinhos em frente ao STF fazendo uma vigília. A próxima vigília nossa não vai ser só nós três, nós vamos ter milhares de pessoas na frente do STF porque Deus está levantando um exército”, afirmou a ministra.

 Damares Alves ainda garantiu às mães presentes na ocasião que elas têm um governo que as abraça. “O Brasil é uma nação pró-vida. Estamos juntos para salvar mãe e bebê. Nós temos agora um presidente que abraça vocês. Nós temos um governo que reconhece vocês. Nós temos um governo que veio para agasalhar”, afirmou.

Mães de crianças com doenças raras de 20 estados do Brasil podem ganhar bolsas de estudos para cursos de graduação e pós-graduação EAD. O projeto “Mães Produtivas” faz parte do Programa EAD Social, uma inciativa do grupo Ser Educacional, desenvolvido pelas Instituições UNINASSAU, UNAMA, UNIVERITAS e UNIVERITAS/MG.

O projeto foi criado em 2016 por um dos maiores grupos de educação superior privada do Brasil, o Ser Educacional, em parceria com a Aliança de Mães e Famílias Raras (AMAR), com o intuito de beneficiar mães que não podem comparecer às aulas presenciais, por precisarem fornecer cuidados especiais aos seus filhos. Ao todo, 250 bolsas de estudos foram ofertadas em 2019.

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A estudante Michele Santos, de 36 anos, que está no sexto período do curso de pedagogia EAD, ministrado pela UNINASSAU, afirma que se inscreveu no projeto em 2016. Michele é mãe do adolescente Gabriel, de 17 anos, diagnosticado com microcefalia. “Eu sempre quis cursar uma faculdade, mas nunca tive oportunidade. Quando engravidei, estava acabando o ensino médio e devido ao fato do meu filho ter nascido com microcefalia, as demandas para mim aumentaram muito. Comecei a ir para o médico mais frequentemente, a fazer terapia com meu filho, além de todos os cuidados especiais que ele precisa. Então, esse meu sonho foi adiado, até que em 2016 eu conheci o projeto mães produtivas, através da AMAR. Hoje, estudo, cuido do meu filho e estou perto de realizar meu sonho de concluir uma graduação”, pontua.

Entre as 20 unidades de ensino que disponibilizam vagas para mães inscritas no projeto, estão: Universidade UNIVERITAS/UNG, em Guarulhos; Universidade da Amazônia – UNAMA, em Belém; os Centro Universitários Maurício de Nassau – UNINASSAU em RecifeSalvador e Maceió; o Centro Universitário Universus Veritas - UNIVERITAS, no Rio de Janeiro; as Faculdades UNAMA em Boa Vista, Porto Velho e Rio Branco; as Faculdades UNINASSAU em FortalezaNatalJoão PessoaManausSão LuísTeresina e Aracaju e as Faculdades UNIVERITAS em Belo Horizonte, Anápolis, Cuiabá e Palmas.

De acordo com o diretor de Responsabilidade Social do grupo Ser Educacional, Sergio Murilo Jr., o projeto tem o intuito de oferecer cursos de nível superior as mães que não podem comparecer as aulas presenciais, devido os cuidados com os filhos. “Inicialmente a gente detectou que mães que possuem filhos com doenças raras, em especial, microcefalia, aqui em Pernambuco, estavam se sentindo improdutivas porque não tinham condições de trabalhar nem de estudar, devido a necessidade que seus filhos tinham de receber cuidados 24 horas por dia", explica. Essa foi a força motriz para a idealização das bolsas EAD. "Visualizamos a possibilidade de oferecer bolsas de graduação e pós-graduação à distância para essas mães. Com isso, podemos transformar a vida dessas mães, a partir do momento que elas consigam concluir um curso superior ou fazer uma pós-graduação que presencialmente elas não teriam condições”, lembra.

Ainda segundo o diretor, “esse foi o grande objetivo do Ser Educacional, fazer com que essas mães possam ter uma graduação e com isso, mudar de vida, conseguir um emprego e dar uma qualidade de vida melhor para o seu filho”, conclui.  

Segundo a presidente da AMAR, Pollyana Diaz, a parceria com o grupo Ser Educacional vem beneficiando milhares de famílias que possuem crianças com doenças raras. “A parceria com o grupo Ser Educacional surgiu pela necessidade que a gente sentia, nas reuniões que fazíamos com as famílias e com as mães, de possibilitar educação de nível superior a essas mães. Quando surgiu o surto do zika vírus, nós percebemos que as mães eram muito jovens e o principal desafio dessas mulheres era voltar a estudar e cuidar dos seus filhos. Então, nos começamos a pensar em propostas para mudar essa realidade das mães, apresentamos o projeto ao grupo Ser Educacional e dai surgiu o programa Mães Produtivas que vem beneficiando diversas mães em todo Brasil”, destaca.  

Confira o relato, em vídeo, da estudante Valéria Santos, que está no sexto período do curso de pedagogia e é mãe de Larissa Santos, de 5 anos, diagnosticada com microcefalia e paralisia cerebral:

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A maior parte das casas tem poucos ornamentos. É uma pequena árvore com pisca-pisca no chão, é uma pelúcia de gorro vermelho para ser pendurada na porta, mas que ainda repousa em um móvel da sala. Os ambientes só não estão mais decorados porque falta tempo. Mas todas elas concordam: as casas são um presente de Natal.

O Conjunto Habitacional Fazenda Suassuna, erguido no bairro da Muribequinha, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR), foi entregue na metade de novembro. Entre os beneficiados, estão 31 famílias com crianças com microcefalia.

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A falta de tempo é algo comum na vida dessas mães. Toda a atenção é voltada para seus filhos, que precisam de muitos cuidados. A conquista da casa própria vem como um importante suspiro, é um problema a menos para enfrentar.

  Na avaliação de Kellyn (lê-se Keulyn) Lima, de 20 anos, o banheiro é tão grande que parece outro quarto. Ela morava em uma casa menor em UR-05, no Ibura, Zona Sul do Recife. É a primeira vez que ela fala para imprensa. Diz que sua filha mudou seu jeito de ser, inclusive lhe tirando um pouco da timidez. Nunca imaginou ter forças para travar as lutas que travou pelo bem estar de Milena, de três anos. “Aqui é bem melhor. A sala enorme. Dá para meu filho brincar. É espaçoso”, diz a jovem. O filho ao qual ela se refere é o enérgico Miguel, de oito meses, que está o tempo todo circulando pela casa e sorrindo.

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Milene segurava Davi, a segunda criança oficialmente identificada com microcefalia em Pernambuco, durante uma das vezes em que foi agredida pelo ex-companheiro. Decidiu se mudar para a casa da mãe. Ela já havia sido espancada outras vezes, mas o pai de Davi pedia desculpas e prometia mudança.

Além de Davi e Milene, a nova casa abriga seus dois outros filhos, Richard, de seis anos, e Ângelo, cinco, além do seu atual companheiro. Milene também está grávida de oito meses. “Estou muito preocupada. Eu não queria mais ter filho por causa da situação de Davi, que tem que ir para médico, terapia, e também tem as coisas dele para comprar. É complicado ter mais outro filho”, ela comenta.

Com os gastos com aluguel e os filhos, acabava faltando itens importantes na casa. “Eu pagava as coisas que estava devendo e depois pensava em alimentação. Então sempre faltava uma coisinha, inclusive para o Davi”, ela lembra.

***

Germany até morava em uma casa maior, mas por isso mesmo o custo de vida estava caro. Ainda que a empresa de logística em que trabalhava tivesse três turnos e de ela ter defendido que conseguiria conciliar o trabalho com a criação da filha, acabou demitida. O companheiro trabalha sem carteira assinada, para evitar perder o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), de um salário mínimo. A pequena Giovanna, de três anos, é esperta. Fala o tempo todo. Teve o lado cognitivo do cérebro bastante preservado, mas tem sérias restrições motoras.

“Ter essa casa foi a realização de um sonho”, afirma Germany. “Todo mundo sonha ter uma casa própria e sair do aluguel”. A mulher já pensou em ter uma segunda criança, mas tem receio de não conseguir estar presente por causa dos cuidados especiais que Giovanna precisa.

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Pessoas melhores

Não há muito no armário de Ketuly Gomes. Poderia ter, se ela não tivesse doado uma das duas cestas básicas que recebeu. “Saio doando tudo, fico com quase nada praticamente”, ela explica. É mãe do pequeno Lucas, de dois anos e 11 meses, e diz que foi o filho quem lhe ensinou a parar de dar importância para coisas pequenas.

Foi durante um banho que Lucas teve a primeira convulsão de muitas que viria a ter. “Eu pensei ‘meu Deus, meu filho vai embora e a gente fica brigando por coisas tão fúteis, tão pequenas’”, recorda Ketuly. Desde então, a criança teve pneumonia, coqueluche, desidratação, desnutrição, refluxo grave, perdeu a capacidade de comer pela boca. Há cinco meses ele começou a apresentar melhoras. Chegou a ter cerca de 15 convulsões por dia, agora elas estão mais ocasionais.

Ketuly não esconde o cansaço, porém tem se sentido feliz como nunca antes. “Comecei a ter mais empatia. Comecei a entender que tudo nessa vida passa e a gente tem que aproveitar tudo. Não adianta brigar por coisa pequena. Mesmo com a dificuldade toda, não poder sair, não poder ir para um show. Antes eu era egoísta, agora não sou mais”.

Não foi só Ketuly que se sentiu uma pessoa melhor, após o nascimento do filho com a síndrome congênita do vírus Zika. Germany confessa que não se importava com a situação de deficientes, mas que hoje não pode ver um cadeirante precisando de algo que já corre para ajudar. Kellyn se tornou uma mulher mais forte e guerreira, mesmo com apenas 20 anos. Milene era mais raivosa, batia bastante nos filhos mais velhos. “Eu era bem explosiva. Hoje eu só faço mais falar”, resume.

As moradias foram entregues através do Programa Minha Casa, Minha Vida, uma conquista da União de Mães de Anjos (UMA). “A UMA é uma associação que cuida e acolhe mães e familiares de crianças com a síndrome congênita do zika vírus”, explica Germana Soares, uma das fundadoras. A associação tem sede no Recife e nove filiais que vão até o Sertão de Pernambuco. São 409 associados.

“Quando eu tive Guilherme, eu e o pai dele resolvemos se esconder e não contar para ninguém da patologia dele. Quando ele estava com um mês, a gente conheceu Gleise, mãe de Maria Giovanna, e criamos um grupo no WhatsApp com oito mães. Em menos de dois meses havia duzentas”, lembra Germana.

A aceitação é um dos desafios lidados por essas mães. Muitas só descobriram que a criança tinha microcefalia no momento do nascimento. Tendo ouvido ao longo do pré-natal que a criança estava bem, se recusavam a aceitar a síndrome. Ketuly dizia para si que Lucas não tinha microcefalia, mas as toucas que ficavam folgadas na cabeça dele apontavam o contrário. Em negação, Kellyn passou semanas para procurar ajuda. Germany achou que sua médica estava ‘doida’ quando ela sugeriu que fizessem exames para confirmar a microcefalia. Após um mês com a possibilidade martelando na cabeça, ela e o companheiro decidiram ir ao hospital. “Giovanna me ensinou a aceitar, aceitar que ela tinha deficiência, que precisaria de uma cadeira de rodas e que não é agora que ela vai andar. Aí ela começou a falar e já foi uma vitória”, destaca Germany. “Devido à coragem e luta das outras mães foi que eu tive coragem de expor o drama que eu estava vivendo”, relembra Germana.

A UMA foi fundada no dia 22 de dezembro de 2015, na época em que vários casos da síndrome estavam sendo computados. O grupo identificou em um levantamento que em torno de 80% das famílias comprometiam a partir de 40% de sua renda para o aluguel de casa. Atualmente, cerca de 60 famílias vítimas do zika já receberam suas moradias no Estado.

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Quando os médicos informaram a Thamires que o filho que ela carregava no ventre há sete meses tinha graves más-formações neurológicas provocadas pelo vírus zika, tentou se matar atirando-se na frente de um ônibus no Rio de Janeiro.

"Eu não tive a intenção de pensar algo negativo para ele, só queria acabar com aquilo", resume, entre lágrimas, esta mãe de primeira viagem de 29 anos.

Mas o motorista do ônibus freou a tempo e, mais de dois anos depois, Thamires, junto com o marido, Wallace, familiares e especialistas, trava a silenciosa luta diária de criar um filho com síndrome congênita do zika, como se denomina o amplo espectro de alterações provocadas pelo vírus, que gerou um alerta sanitário mundial, mas não ocupa mais as manchetes.

"Eu sinto que a gente foi esquecido mesmo, totalmente", afirma Thamires.

Miguel, de dois anos e quatro meses, sofre de "microcefalia, lisencefalia (cérebro liso), uma variante da síndrome Dandy Walker, que é uma doença rara, deficiência renal e crises epilépticas", enumera a jovem mãe. Ela termina de dar banho no menino, de perfumá-lo e se prepara para lhe dar o almoço: purê de abóbora com azeite.

Apesar do estrabismo, Miguel não tem a visão comprometida e reage às vozes conhecidas, mas não consegue andar, se sentar, nem levantar a cabeça sozinho. Seus pais cumprem uma estrita - e onerosa - rotina de cuidados, que inclui mais de seis remédios a cada 12 horas e internações frequentes.

"É uma rotina difícil, desgastante. As famílias escondem seus filhos para que a sociedade não veja. E não é isso que a gente quer, a gente quer fazer parte da sociedade", explica Wallace, pai de Miguel.

Ele trabalha como técnico em informática à noite para pagar as contas e os planos de saúde particulares que complementam a complexa assistência que Miguel demanda: nefrólogo, pediatra, psicomotricista e fisioterapeuta, distribuídos em pelo menos três hospitais diferentes, públicos e privados.

- Pais ausentes -

Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, a epidemia do vírus zika, que afetou o Brasil em 2015, provocou um aumento exponencial de bebês com microcefalia e outras alterações neurológicas, especialmente na região nordeste, a mais pobre do país. Entre novembro de 2015 e maio deste ano, o Ministério da Saúde registrou mais de 3.000 casos relacionados com a infecção do zika durante a gestação.

Desde então, o governo federal tomou várias medidas para amparar as mães destas crianças - como dar-lhes prioridade no acesso a uma moradia social ou pagar um salário mínimo às famílias mais pobres -, mas frequentemente, estas têm dificuldades para ter acesso aos serviços em seus municípios por falta de informação e entraves burocráticos.

"O sistema foi feito para você não fazer. Tudo foi feito para você não correr atrás. Tudo é burocracia para você desistir porque já está saturado com muita coisa", queixa-se Thamires.

Desde o começo, ela e Wallace se associaram a outras famílias para trocar informações e pressionar coletivamente as autoridades para conseguir a atenção a que têm direito por lei, como acesso à casa para onde acabam de se mudar, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Mas o padrão de vida e a atenção que conseguiram para Miguel não é a regra, admitem, especialmente para outras mães que foram abandonadas por seus companheiros.

"O Miguel nos fez lutar, não só por ele, mas pelas famílias. Porque a gente sabe da dificuldade que é, sabe que há famílias sem os pais presentes", conta Wallace, emocionado.

A principal dificuldade que encontram não é para tratamentos de alta complexidade, mas justamente no atendimento básico pediátrico.

"No sistema básico de saúde, o médico geralmente não tem conhecimento da síndrome congênita (do zika), então não consegue fazer o atendimento básico, pediátrico. Porque esse mesmo bebê que tem a síndrome congênita, que tem a microcefalia, também vai ter uma dor de dente, vai ter todo problema normal que outro bebê tem", assegura Wallace.

- "Viva hoje" -

Ambos admitem que gostariam de ter mais filhos, mas sabem que a atenção que Miguel precisa exige recursos. Assim, o plano é inviável pelo menos até Thamires concluir o curso de enfermagem que tinha abandonado e que retomou, e poder trabalhar nisso.

Por enquanto, Miguel é o único protagonista. Sempre que podem, os pais o levam a festas, à praia. Em seu último aniversário, organizaram uma comemoração e convidaram outras mães de crianças com microcefalia.

Mas também há muitos momentos difíceis. Em seus quase dois anos e meio de vida, Miguel foi internado oito vezes. "É aí que vemos o risco da morte", chora Thamires.

Ela se consola repetindo as palavras dos médicos que a incentivam a não esmorecer. "'Viva hoje. O Miguel pode ter 20 anos, 10, 2, 3. Mas se você não viver bem, vai haver a frustração lá na frente do que você não viveu', foi o que o médico falou pra gente (...) Então, eu vou dar banho, eu vou beijar, vou cheirar (o Miguel), porque a qualquer momento eles podem internar".

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