Aumento de crimes em Washington preocupa EUA

Enquanto a número de homicídios diminuiu em outras cidades do país, esta taxa aumentou em 28% na capital americana, em comparação com o mesmo período no ano passado

qua, 27/09/2023 - 13:07
SAUL LOEB Uma viatura da polícia do Capitólio em frente ao Congresso dos EUA em Washington, em 2 de agosto de 2023 SAUL LOEB

Houve um tempo em que Washington era o epicentro da epidemia de crack e "a capital do homicídio" dos Estados Unidos. Embora as taxas associadas à violência dos anos 1990 estejam distantes, atualmente o aumento da criminalidade se tornou preocupante.

Enquanto a número de homicídios diminuiu em outras cidades do país, esta taxa aumentou em 28% na capital americana, em comparação com o mesmo período no ano passado.

Vários casos se tornaram símbolo deste fenômeno: uma menina morta após ser atingida por uma bala perdida, um jovem afegão que fugia de talibãs e acabou sendo assassinado, um adolescente morto a facadas durante uma discussão sobre molhos à porta de um McDonald's ou um trabalhador da construção civil salvadorenho que perdeu a vida durante uma tentativa de assalto na Universidade Howard.

Segundo as estatísticas oficiais, o número de roubo de veículos a mão armada mais que dobrou na capital federal.

A situação, entretanto, está longe de ser comparada à das décadas de 1980 e 1990, quando grande parte da cidade era considerada perigosa. Ainda assim, turistas continuam chegando à capital americana, onde muitos museus são gratuitos e os moradores elogiam a qualidade de vida.

Mas alguns reconhecem que tiveram que mudar seus hábitos, como deixar de abastecer seus carros à noite para não correrem o risco de serem assaltados.

A sensação de insegurança também foi relatada nas redes sociais, onde um restaurante pediu "ajuda" na plataforma X (antigo Twitter).

O consulado do México em Washington pediu aos seus cidadãos que "tomem precauções" diante do "aumento significativo de crimes em áreas anteriormente consideradas seguras".

- Múltiplos fatores -

A tendência, entretanto, ainda é "um pouco misteriosa", disse o criminologista da Universidade de Missouri-St. Louis, Richard Rosenfeld.

Enquanto em Nova York, Chicago, Filadélfia e Baltimore o número de homicídios diminuiu em relação ao mesmo período de 2022, Washington "é uma exceção", completou.

Para Joseph Richardson, professor da Universidade de Maryland, as causas exatas deste aumento ainda são desconhecidas, embora ele "especule" que pode ser a soma de múltiplos fatores, como uma mudança no comando da polícia da cidade ou até mesmo a minimização do papel do tráfico de drogas na violência armada.

Além de um potencial efeito "desestabilizador" da gentrificação, um processo de transformação urbana que eleva o custo de vida em determinada região, o que acaba por excluir a população mais pobre. Em Washington, o fenômeno deslocou muitos moradores negros, causando profunda agitação social em alguns bairros.

As autoridades alegam, por sua vez, uma falta de policiais ou o fato de que dois terços das detenções não serem seguidas de processos judiciais. Mas estes argumentos não convencem Rosenfeld. E a quantidade de armas não é algo específico da cidade.

"O que posso dizer é que Washington parece se recuperar mais lentamente das mudanças da pandemia (de covid-19) do que outras cidades", afirma ele, tendo áreas muito menos movimentadas do que antes de 2020, devido ao fechamento de empresas ou ao teletrabalho.

- "Dá no mesmo" -

Nomeada no meio do ano, a nova chefe de polícia de Washington, Pamela Smith, prometeu em julho uma abordagem que mobiliza "todo o governo" da capital federal, no momento em que "parece haver um aumento do número de menores que comentem" certos crimes violentos.

Dias depois, o membro do Conselho do Distrito de Columbia Trayon White declarou apoio à mobilização da Guarda Nacional para Washington com o objetivo de combater estes crimes.

O assunto chegou a ser abordado no Congresso americano. Em março, os republicanos convocaram uma sessão com as autoridades da capital e acusaram-nas de alimentar uma crise com a sua "frouxidão".

Jada, uma segurança afro-americana de 28 anos que trabalha no centro de Washington, consegue ver os efeitos da gentrificação, e duvida que as autoridades resolverão este fenômeno.

"Tenho a impressão de que se trata principalmente de crimes cometidos por pessoas negras contra pessoas negras. E como se trata de negros contra negros, ou de latinos contra latinos, dá no mesmo", disse ela à AFP.

Na segunda-feira (25), um jovem foi morto a tiros na região onde ela mora, no sudeste dos EUA.

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