Centrão oferece 'vantagem potencializadora' nas eleições

Cientista político ouvido pelo LeiaJá, Elton Gomes acredita que o peso do bloco será determinante para o desempenho da candidatura do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB)

por Giselly Santos qui, 09/08/2018 - 15:19
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo Tucano será beneficiado com a coalizão do bloco Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Se você é minimamente ligado na conjuntura política nacional já deve ter ouvido falar do centrão que, para quem não conhece, é um bloco formado atualmente por cinco partidos [DEM, PR, PRB, SD, PP] donos de um alinhamento fisiológico no Congresso Nacional que inicialmente deu fôlego ao governo do presidente Michel Temer (MDB) e, nestas eleições, decidiu endossar o palanque do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na disputa presidencial. 

Somados a eles, Alckmin ainda tem o apoio do PTB e PSD - que integravam a primeira formação do centrão, em 2016, e foram se afastando da titularidade do grupo, mas ainda se encaixam no mesmo perfil - e do PPS. Eles somam 253 cadeiras na Câmara dos Deputados e garantiram ao tucano uma vantagem na disputa tanto no tempo de televisão, com 6 minutos, quanto na fatia do fundo eleitoral de financiamento público. 

Considerando também PTB e PSD, o bloco tem um peso grande no Legislativo e a expectativa é de que isso se reflita nas urnas de maneira positiva para Alckmin, podendo levá-lo para o segundo turno. 

“Essa campanha será rápida e brutal, acredito que o centrão deu ao Alckmin vantagem tática que é potencializadora, mas não determinante [para cravar a vitória na eleição] porque o legado do lulopetismo é grande no Nordeste e outros estados mais pobres. Ele vai ter que romper o desconhecimento e essa tarja de um candidato que não se viabiliza eleitoralmente”, argumentou o cientista político Elton Gomes.

Apesar das ressalvas, o estudioso também ponderou que o centrão ainda possibilitou Geraldo Alckmin “acumular palanques em todo o país”, uma vez que cerca de 2,5 mil prefeituras do país estão sob o comando de partidos do bloco. “Por exemplo, cada deputado do centrão tem influência sobre prefeitos ou grupo de prefeitos, é apadrinhado político ou é o próprio cacique político de uma região. Isso dá muita capilaridade ao candidato quando busca um cargo Executivo”, salientou Gomes.  

Levando em consideração o chamado “peso da nova política” instaurado no país após a operação Lava Jato, com a o maior escândalo de corrupção envolvendo nomes de boa parcela dos partidos, inclusive do próprio centrão, o cientista político também observou que “o poder de barganha” do bloco poderia ser maior, mas tem “muita relevância”. “No que eu chamo de Brasil real, onde as pessoas votam acompanhando os caciques, eles têm uma grande relevância ainda”, disse Elton Gomes. 

Ligação do bloco com o governo de Michel Temer

Segundo o Banco de Dados Legislativos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), em média, 88% dos congressistas do PSDB votaram com o governo Temer desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o mesmo aconteceu com o centrão. De acordo com os dados, divulgados pelo jornal Folha de São Paulo nesta semana, a disciplina partidária na atuação parlamentar dos partidos que compõem o bloco variou entre 83% e 89%.

Temer contou com o apoio dos partidos do centrão para aprovar, por exemplo, o teto de gastos, a reforma trabalhista e a Lei da Terceirização, mas acabou desistindo de realizar a reforma da Previdência ao ver a base desintegrar no Congresso. Apesar de hoje já estar, em sua maioria, votando contra o governo, a atuação do centrão também pode reforçar a tese de que a candidatura de Geraldo Alckmin também está interligada a continuidade do governo emedebista. 

“Essa acusação acontecerá e ele procura se desvencilhar do governo rejeitado de Temer. Mas em defesa do Alckmin, temos que dizer que ele foi contra ao PSDB embarcar no governo Temer, como os tucanos já estavam muitos anos na oposição e expectativa era boa, eles resolveram se alinhar”, considerou Elton Gomes. 

O resultado da real influência do centrão na eleição deste ano deve ser conhecido no dia 7 de outubro, quando os eleitores vão às urnas escolher o próximo presidente do país. Com a campanha iniciando no próximo dia 16, os caciques dos partidos do bloco terão 45 dias para capitalizar ainda mais a campanha de Alckmin que, segundo dados da última pesquisa Datalfolha, tem apenas 6% das intenções de votos.

 

COMENTÁRIOS dos leitores