Aloysio Nunes: Lava Jato manipulou o impeachment de Dilma
Segundo o tucano, a Lava Jato vendeu 'peixe podre' ao STF e se Lula tivesse assumido a Casa Civil, o impeachment de Dilma não teria acontecido
Três anos depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB) disse que houve uma “manipulação política” a partir da Lava Jato para a destituição do mandato da petista em 2016. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o tucano fez um panorama das revelações de conversas entre os procuradores à frente das investigações e o então juiz Sergio Moro e ponderou que eles “venderam peixe podre” ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao ser questionado se estava surpreso diante da influência política na Lava Jato, Nunes disse que agora reconhece que tudo aconteceu “de caso pensado”. “Quando você fala na divulgação do diálogo de Lula com a Dilma, evidentemente você tem uma manipulação política do impeachment. Quando você tem a divulgação da delação de Palocci, nas vésperas da eleição presidencial, você tem uma manipulação política da eleição presidencial. Isso foi de caso pensado, como os diálogos revelaram”, observou Nunes.
“Não é uma coisa por inadvertência, foi de caso pensado. Então, isso para mim torna, não todos, porque não conheço todos, esses casos em que esse tipo de procedimento se verificou, nulos, porque atingiu um princípio fundamental do Estado de Direito, que é a garantia que a existência de um juiz imparcial dá ao direito de defesa”, acrescentou.
Apesar disso, na época do impeachment, o PSDB usou os diálogos revelados pela Lava Jato, sobre a posse de Lula como ministro da Casa Civil. “Não só o PSDB. O Supremo Tribunal Federal acabou por barrar a posse do Lula [como ministro de Dilma] com base em uma divulgação parcial de diálogo, feita por eles, Moro e seus subordinados, do Ministério Público. Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave”, disparou o tucano.
Na entrevista, o ex-senador observa também que foi a favor do impeachment, mas a bancada do PSDB no Senado, segundo ele, era mais "prudente" em relação ao que estava acontecendo. "Diante do fato de que a presidente Dilma não conseguiu ter sequer 173 votos a favor dela para barrar o processo de impeachment na Câmara, ficou evidente que ela tinha perdido as condições de governar", disse.
"Além, evidentemente, do desvario da condução da política econômica e da política fiscal. Como uma presidente não consegue ter 173 votos para barrar o impeachment, que praticou atos que, à luz da própria legislação, constituiu crime de responsabilidade, não havia como a manter no poder”, emendou, justificando.
Ainda na ótica de Nunes, caso Lula tivesse assumido a Casa Civil, o impeachment não teria acontecido. “Eles manipularam o impeachment ao barrar a posse do Lula. Se Lula tivesse ido para casa Civil, não seria capaz de recompor a base política do governo? Lula, que dizem que foi um governo socialista, governou com a direita. Teria rapidamente condições de segurar a base política. Porque o impeachment é um processo jurídico - crime de responsabilidade - e político. Ele, pelo menos, em relação à questão política, talvez tivesse condições de recompor. Foi exatamente por isso que eles procuraram barrar, como conseguiram, a posse de Lula”, observou o ex-chanceler do governo de Michel Temer.