Eleições no Recife: PT vive novamente um dilema interno

Desta vez, o partido está dividido diante da possibilidade de lançar a candidatura da deputada Marília Arraes ou endossar o palanque do PSB

por Giselly Santos qui, 23/07/2020 - 13:22
Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo Direção nacional já definiu a pré-candidatura de Marília Arraes Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

O Partido dos Trabalhadores (PT) vive um novo dilema interno para a disputa pela Prefeitura do Recife: ter ou não ter candidatura própria? Desde a eleição municipal de 2012, quando houve a tão conhecida briga entre os Joões [João Paulo e João da Costa] rachando a legenda, que o partido não vive com tranquilidade uma temporada pré-eleitoral na capital pernambucana. Nas duas últimas disputas, a dúvida era entre nomes, sobre quem seria o petista a liderar a chapa que concorreria ao comando da cidade. Desta vez, apesar de já ter um nome consensual - o da deputada Marília Arraes -, a divergência interna é encabeçar uma chapa própria ou endossar o palanque do PSB, que deve concorrer ao posto com o deputado federal João Campos. 

Marília Arraes circula como natural pré-candidata do PT à Prefeitura do Recife desde as eleições de 2018, quando teve o nome preterido para a disputa ao Governo do Estado. Em março deste ano, ela ganhou mais fôlego com uma resolução da direção nacional que apontava como prioridade para este ano a presença protagonista da agremiação na corrida por prefeituras de diversas capitais. O texto foi claro ao nominar a neta do ex-governador Miguel Arraes como a opção para a disputa pela capital pernambucana. 

Na época, as direções estadual e municipal do partido contestaram a postura nacional e o posicionamento contrário foi endossado com as definições de táticas eleitorais locais nos últimos meses. O PT municipal e estadual emitiram resoluções pedindo que a nacional reveja e rediscuta a postura definida em março, baseando-se no argumento de que ao lado do PSB, na chamada Frente Popular do Recife, as chances de combater a ascensão de postulações apoiadas pelo bolsonarismo são mais reais.

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Na avaliação do presidente do partido em Pernambuco, o deputado estadual Doriel Barros, a nacional “errou quando lá em março tomou a decisão sem um debate local” e “isso foi um problema”. 

“Tem a decisão municipal e estadual pró-aliança, que busca unir forças para enfrentar o bolsonarismo. Não vai dois partidos de esquerda para o segundo turno, isso é certo, e não podemos vacilar de maneira alguma. O partido deveria permanecer na Frente Popular. Esperamos que a nacional debata agora a partir da discussão local e dê sua posição final. Somos partidários, vamos seguir o que for definido, mas antes ela precisa considerar o debate que foi feito aqui e se posicionar”, ponderou Barros.

Indagado sobre como avaliava o fato do partido estar mais uma vez imerso em um dilema eleitoral, o presidente disse que o quadro atual é diferente do que foi vivido em 2012 e 2016.

“Tem uma diferença agora, nas outras eleições todos queriam candidatura própria, a divergência era de quem seria o candidato. Havia um consenso de que o partido deveria ter candidatura própria, mas hoje tem uma larga maioria defendendo que o partido deve permanecer na Frente em função da conjuntura e da necessidade que temos de montar um campo de aliança para prepararmos para a eleição de 2022. Comungo desse pensamento para que não ocorra retrocesso no Recife. A direita vai vir com muita força”, argumentou o dirigente estadual.

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Já para a deputada estadual Teresa Leitão, que é integrante da direção nacional do PT, há outros partidos de esquerda com os quais o PT mais se alinha e pode formar uma frente forte para, como observou ela, “derrotar o bolsonarismo no Recife”. 

“Quem são os partidos de esquerda que podem dialogar com o PT? Eles têm suas candidaturas também, mas podem fazer um campo verdadeiramente de esquerda. O PSOL, o PDT, a Rede, a UP, o PCB, todos esses partidos estão no nosso radar. Não podemos estar conversando partidariamente porque não temos essa delegação da direção municipal, que é quem deveria estar fazendo movimentos nessa direção, mas nós sabemos que Marília tem uma excelente relação, por exemplo, com Túlio Gadêlha e o PSOL. Esse é um campo provável de se construir uma unidade”, observou a deputada. 

Na ótica de Teresa Leitão, a decisão da nacional de disputar com Marília Arraes “foi o melhor caminho” que poderia ter sido escolhido para o “fortalecimento do PT”. 

“Esse dilema só serve para gente perder tempo. Desde abril que se sabe pela instância máxima do PT que nós teríamos candidata. Isso tem mais um cunho político do que estatutário. Não há fato novo para se reabrir o debate. Pelo contrário, os fatos que existem deveriam fortalecer a candidatura do PT. É um movimento errático, que não leva a nenhuma construção do partido, pelo contrário”, afirmou a petista.

A dirigente nacional disse ainda que a posição tomada em março pode até ser rediscutida, mas não deve mudar. “Marília, inclusive, é uma das mais bem colocadas nas pesquisas nas capitais que o PT decidiu disputar. Dizem que pesquisa é hoje, mas não é amanhã, porém esse é  um referencial que todo mundo usa e considera. É perda de tempo essa discussão. A decisão da nacional vai vigorar, assim como foi em 2012, as prévias indicaram que o candidato deveria ser João da Costa, mas a nacional optou por Humberto Costa e assim foi”, lembrou.

Segundo Teresa Leitão, o próximo encontro da direção nacional do PT será nesta sexta-feira (24), mas a questão levantada pelas direções de Pernambuco e do Recife não está na pauta. 

Com o pleito adiado em pouco mais de um mês, resta agora aguardar para ver qual a tese petista que vai se sobressair na capital pernambucana.

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