FBC entra no PMDB com ‘carta branca’ para eleições de 2018

De acordo com o senador, o partido vai disputar o comando do Palácio do Campo das Princesas contra o governador Paulo Câmara (PSB). Para isso ele enfrentará a resistência do deputado Jarbas Vasconcelos e do vice-governador Raul Henry aliados do pessebista

por Giselly Santos qua, 06/09/2017 - 12:16 Atualizado em: qua, 06/09/2017 - 12:43
Agência Senado/Arquivo Agência Senado/Arquivo

O senador Fernando Bezerra Coelho filiou-se ao PMDB na manhã desta quarta-feira (6). Durante o evento, que aconteceu na sede do partido em Brasília, o parlamentar afirmou que chega ao partido para reencontrar as “bandeiras” que defende e trazer para Pernambuco um “projeto de governo” que, segundo ele, será apresentado juntamente com um grupo que deve ser composto pelo PTB e o PSDB. Para isso, entretanto, ele deve encontrar o enfrentamento de nomes como o do deputado Jarbas Vasconcelos e do vice-governador Raul Henry que gerem o partido no estado e são aliados do governador Paulo Câmara (PSB), que buscará a reeleição. 

“Chego no PMDB para somar. Espero que os companheiros que fazem o PMDB de Pernambuco possam aceitar a nossa proposta de unirmos em torno da causa e da coesão interna do partido para que o PMDB unido possa atravessar este momento”, declarou sem citar nomes. “É verdade, temos um projeto para Pernambuco, mas não será de uma pessoa, um grupo ou partido. É o projeto de uma frente política. Certo que caberá ao PMDB um papel de destaque”, acrescentou, citando a presença do senador Armando Monteiro (PTB) e do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), no ato de filiação. 

Com a postura de quem recebeu carta branca para conduzir o processo, Fernando Bezerra disse ainda que vai estar aberto “para um diálogo franco, aberto e transparente com as forças políticas do nosso estado” e pontuou que o movimento é para “poder ajudar o PMDB a conquistar governos estaduais, ampliar as vagas na Câmara e disputar vagas no Senado”. 

Até o momento, a intenção exposta pela direção local do partido era de manter a aliança com Paulo Câmara e concorrer ao Senado com Jarbas Vasconcelos. Nos bastidores também havia a especulação de que Fernando Bezerra deveria ocupar a direção do PMDB no estado, hoje gerido por Raul Henry. A reorganização não foi ainda oficializada, mas a postura do senador e do presidente nacional, senador Romero Jucá, tendem a isso. 

Pouco antes de Bezerra, Jucá chegou a dizer que o senador se filia no PMDB para organizar a disputa pelo Governo de Pernambuco. “Ele conversou com diversos partidos, mas fez a opção de vir ao PMDB para cumprir uma finalidade que é a preparação para disputar o Governo de Pernambuco. O PMDB está se reestruturando e vamos ter excelentes candidatos aos governos dos estados”, declarou. 

Reencontro de identidade

O embarque de Fernando Bezerra na legenda peemedebista acontece depois de uma série de desconfortos expostos com lideranças do PSB. Os imbróglios chegaram ao ápice com a postura do parlamentar a favor das ações do governo do presidente Michel Temer (PMDB) - no qual a legenda socialista se coloca como oposição. O movimento de ingresso ao PMDB se deu, de acordo com Bezerra, com o objetivo de “procurar me aproximar dos partidos com os quais nos identificamos com suas bandeiras programáticas, ideais e desejos para o futuro do Brasil”.  

“Apesar de todas as dificuldades, o PMDB teve a iniciativa de se apresentar com um projeto de ponte para o futuro, a defesa de reformas tão essenciais para que o Brasil possa se encontrar. Os primeiros resultados começam a aparecer, fizeram avançar aqui matérias importante para que o Brasil possa voltar a se reencontrar com o crescimento e a geração de empregos”, declarou o senador. 

Novo fôlego para um desejo de 2014 de disputar o governo

Como primícia de justificativa para a desfiliação, o senador disse que não havia mais “clima na legenda” por conta de processos internos que tramitavam contra parlamentares que, assim como ele, estariam apoiando Michel Temer. Diante disso, o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, disse que a “desfiliação é um ato pessoal e intransferível” e, ao contrário da insatisfação exposta por FBC com as contestações do partido, o dirigente também afirmou que não havia nenhum processo interno para punir o pernambucano. 

“A decisão foi política. Ele nunca foi notificado de processo algum. Os outros podem até falar disso, mas ele não. Sempre estive de portas abertas para o diálogo com todos. Também nunca falei em expulsão, são eles que falam, mas sempre deixei claro que o partido tem uma identidade e que não podemos mudar isso”, cravou.

Apesar do afastamento nítido com o alinhamento do PSB diante da gestão federal, o desconforto não é de hoje e se arrasta de forma sutil desde a eleição de 2014, quando o desejo de Bezerra de ser candidato a governador foi sufocado pela escolha de Eduardo Campos, que preferiu indicar o governador Paulo Câmara (PSB) ao cargo. 

Nos bastidores, de lá para cá episódios de racha interno entre os grupos liderados por Bezerra e pelo governador vez ou outra apareciam, enquanto isso também surgiam as especulações de que o senador estaria articulando para ocupar a liderança da majoritária em 2018, caso Câmara fracassasse na administração estadual. Em fevereiro deste ano, inclusive, o assunto tomou corpo, mas foi considerado “intriga” pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Filho (PSB). 

PSB perde uma força no Sertão

Com o desembarque de Bezerra Coelho, que é um político com raízes eleitorais do Sertão de Pernambuco, o PSB também deve perder o ministro de Minas e Energia, Fernando Filho, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, e outros parlamentares ligados ao grupo. Estes, no entanto, devem aguardar a janela partidária para o desembarque, já que o partido não pode contestar o mandato do senador por ser um cargo majoritário. 

O impacto do desembarque, de acordo com o deputado Isaltino Nascimento (PSB), não pode ser mensurado numericamente agora, mas a legenda vai buscar outras forças para preencher as lacunas. 

“Sempre que a gente tem pessoas com participação política no partido [que se desfiliam] essa ausência é sentida. Tem contribuição, história, experiência… De fato não é algo bom. Mas muitas vezes a convivência no espaço político é dado pela identificação das ideias, chega um momento em que elas não estão mantidas em convergência”, observou. 

Indagado sobre o que o PSB perde eleitoralmente, o deputado disse que “não tem como aferir porque o voto muitas vezes não é apenas no grupo, mas também no arranjo político”. “Não tem como fazer uma mensuração agora. Sabemos que tem espaço, tem voto, mas não dá para se fazer uma medida na questão de percentuais”, frisou.

Em 2014, Fernando Bezerra Coelho foi eleito senador com 2.655.912 milhões de votos, quase o dobro do segundo lugar, o ex-prefeito do Recife, João Paulo.

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