Presidenciáveis terão dificuldades para alianças amplas

Sem unidades partidárias consolidadas, os cientistas políticos ouvidos pelo LeiaJá ponderaram que a tendência é de uma nova polarização entre PSDB e PT

por Giselly Santos qui, 26/07/2018 - 09:00

O quadro nacional desenhado pelos primeiros dias das convenções partidárias tem imprimido uma previsão dos estudiosos da ciência política de que o pleito pelo comando da Presidência da República deste ano será fragmentado e as chapas terão dificuldades em compor com alianças amplas. 

Dos cinco candidatos já homologados pelos seus partidos, apenas o do PSOL, Guilherme Boulos, e a do PSTU, Vera Lúcia, apresentaram a chapa fechada (postulante e vice). O primeiro com uma coligação com o PCB e a segunda sem aliados. Já os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL) e Paulo Rabello de Castro (PSC) ainda estão sozinhos na disputa.

Até agora, dos que aguardam a homologação partidária, somente o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) reúne mais partidos. Com o apoio do chamado centrão, formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB, ele desponta na lista dos presidenciáveis. O postulante do MDB, partido do presidente Michel Temer, e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também é um retrato de postulação sem apoios.

Entre pré-candidatos dos partidos de esquerda, Ciro Gomes (PDT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) seguem isolados, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, pelo peso da situação jurídica, não conseguiu ainda conquistar aliados eleitorais apesar das conversas travadas com PSB e PROS. Fora disso, PDT e PCdoB também nutrem um flerte considerável já para o primeiro turno.

A incógnita maior entre os campos de direita e esquerda, na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, é como se posicionará o PR, de Valdemar Costa Neto.

“Estamos entrando em uma fase decisiva onde ocorrerá a formação de alianças. O centrão já se definiu apoio a Geraldo Alckmin, a expectativa é que PSB e PCdoB também se posicionem em relação ao PT e, particularmente o PSB se terá candidato ou apoiará o PT, mas a incógnita nesse momento é o PR, se apoiará Lula ao invés de Alckmin, embora antecipadamente tenha declarado apoio a Alckmin. Mas ele pode rever esses apoio, até porque o Josué Gomes [cotado para vice do tucano], já recuou. Não será novidade o PR migrar para o PT”, observou o estudioso. 

A partir do delinear da postura dos partidos ainda indefinidos, Oliveira também acredita que a disputa voltará a ter os moldes de outras corridas presidenciais: a polarização entre PT e PSDB. “Com as convenções vemos PT e PSDB sendo fortalecidos, e Ciro Gomes, Marina e Bolsonaro, três candidatos que foram vistos como viáveis, revelando que não terão apoios políticos e deixarão de ser viáveis”, conjecturou o cientista.

A tendência de polarização também foi comungada pela cientista política Priscila Lapa, na ótica dela  “quando a campanha começar e o direcionamento dos recursos [dos partidos] forem delimitados haverá polarização entre duas candidaturas”. Quanto ao peso das alianças, ela ponderou que os presidenciáveis terão “dificuldades de uma aliança mais ampla, de unificação de projetos e de forças” no primeiro turno.  

“Todos estão tentando recolher as forças que podem. Geraldo Alckmin rendeu-se ao centrão. Então tem muito discurso que vai ser demovido com o tempo, a partir de variáveis que qualquer candidatura que queira ganhar vai levar em consideração. Mesmo que se queira reduzir os efeitos dessas coligações, com as reformas políticas, a realidade é que essas composições são fundamentais. Não tem candidatura puro sangue que vença”, argumentou Lapa. 

O enfraquecimento de Bolsonaro

Já candidato, o deputado federal Jair Bolsonaro aparece liderando as pesquisas de intenções de votos sem a presença de Lula, mas no quesito aliança eleitoral foi rejeitado por dois partidos. O fato, para Adriano Oliveira, se dá porque “os partidos não creem na vitória e na força eleitoral de Bolsonaro e, por consequência, é um candidato que tenderá a murchar”. 

A inviabilidade do presidenciável, segundo Priscila Lapa, é observada no fato dele liderar as pesquisas apenas na pré-candidatura, sem chances de crescer na fase da campanha quando “os recursos dos partidos entram em cena”.

“Ele se beneficia de uma característica do eleitor brasileiro onde seu olhar é mais para a pessoa do que para o partido, mas os partidos não são tão irrelevantes assim, são eles que trazem para as candidaturas os recursos necessários para ganhar uma eleição como tempo de TV e do Fundo Partidário”, ponderou Lapa. 

“Além da existência de palanques estaduais também, no caso da eleição presidencial, que sirvam de base para expor e construir a base do voto que vem dos governadores e deputados construídos nos estados”, completou a estudiosa, reforçando que a fragilidade de Bolsonaro já fica evidente na inexistência de palanques estaduais consolidados. 

Ainda para a cientista política, “os partidos não enxergam em Bolsonaro a força da vitória, isso sem levar em conta o discurso e o radicalismo”. 

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