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Moradores vizinhos de bens tombados em Higienópolis e na região central da capital paulista temem, agora, serem cercados por espigões com mais de 30 andares por causa da nova diretriz do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) que muda as chamadas áreas envoltórias. Pela lei de 1992 e ainda em vigor, qualquer obra ou reforma ao lado de imóvel tombado precisa de autorização prévia dos órgãos estadual e municipal do patrimônio histórico.

Há 19 anos morador na Rua Rio de Janeiro, um pequeno oásis no meio da região central, bem arborizado e ao lado do Colégio Sion, o advogado Ronaldo Brescanne, de 61 anos, criticou o "descongelamento" promovido pelo Conpresp. "O tombamento da área envoltória do Sion era a nossa garantia contra os espigões horrorosos iguais aos que acabaram com a Vila Olímpia e o Itaim-Bibi. Essa medida é um horror para uma cidade onde as empreiteiras já fazem o que querem. Vão acabar com as poucas 'ilhas de sossego' que existem na cidade", afirmou o advogado.

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Uma das resoluções do Conpresp também "descongelou" o raio de 300 metros no entorno do antigo prédio da Faculdade de Filosofia da USP, na Rua Maria Antonia. A região já é cercada por prédios e comércio atualmente.

Na opinião de Walter Godói, de 51 anos, síndico de um edifício na Rua Maria Antônia, um dos aspectos positivos da decisão é que, agora, não será preciso fazer um protocolo a mais para realizar reformas ou pintura na fachada dos prédios. "O duro é se facilitar a construção de shoppings e daqueles supermercados gigantes."

Comerciantes da Rua Xavier de Toledo, que trabalham em pequenas edificações de no máximo três andares, ao lado do Shopping Light, no centro, também estão receosos de que a nova regra modifique o perfil comercial da área. "Daqui a pouco vão querer construir aqueles prédios residenciais enormes por aqui e nós vamos ter de acabar saindo", afirma Alfredo Castro, de 71 anos, gerente de uma casa de vitaminas na Rua Xavier de Toledo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Após 15 anos, as multas para quem demoliu ou fez reformas ilegais em imóveis tombados começam a ser cobradas pela Prefeitura de São Paulo. Da igreja evangélica que derrubou um armazém de 1911 na Mooca ao dono de casarão no Pacaembu transformado em centro de estética, a administração municipal decidiu penalizar 35 proprietários ou instituições privadas em mais de R$ 4 milhões desde fevereiro.

Só um aposentado que derrubou em 2012, sem autorização do Conselho do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp), quatro sobrados do início do século 20, ao lado do Parque da Água Branca, na zona oeste, vai ter de desembolsar quase R$ 907 mil - é a maior multa já aplicada na história pelo órgão criado em 1985. O dono, por sua vez, argumenta ter alvará de demolição obtido em 2011 na Subprefeitura da Lapa e recorreu da decisão na Justiça.

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As cobranças das multas fazem parte de um novo sistema de fiscalização do patrimônio histórico, criado no dia 31 de janeiro por meio de um decreto do prefeito Fernando Haddad (PT). Agora, os nove representantes do Conpresp precisam colocar em votação, nas sessões de terças-feiras, os mais de 2 mil processos (multas, pedidos de reforma, solicitação de regularização, etc) que esperavam deliberação final.

Antes do decreto, os fiscais do Conpresp não decidiam sobre as multas. A análise de recursos apresentados pelos infratores acabava congelando o processo no Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) por mais de uma década. A partir de junho de 2013, porém, os fiscais do governo começaram a fazer novas vistorias nos locais autuados desde 1999. Esses relatórios estão embasando as votações das multas no conselho.

Funcionários do Conpresp constataram, por exemplo, que em bairros tombados e residenciais, como Jardim América, City Lapa e Pacaembu, terrenos foram unidos de forma irregular para virar estacionamentos, lojas e academias. Na Rua Avaré, no Pacaembu, bem ao lado da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), quatro lotes foram agrupados para virar um pátio asfaltado com vaga para 250 veículos - o proprietário foi multado em mais de R$ 388 mil.

Quem usa o estacionamento da Rua Avaré são os estudantes da Faap, que nega ter feito qualquer reforma ou ampliação irregular. O dono dos lotes agrupados ilegalmente não foi localizado pela reportagem.

Destruição. Dos 2.756 bens tombados na capital paulista, 70% estão no centro. Só no Vale do Anhangabaú são 293 imóveis protegidos, a maioria prédios de arquitetura eclética francesa do início do século 20.

Ao longo da Rua Florêncio de Abreu, a via com o maior número de imóveis tombados na capital (35), fachadas de edifícios do final do século 19 com elementos do estilo francês art nouveau foram fatiadas ilegalmente em até cinco imóveis. O Conpresp agora está multando os proprietários. Um deles destruiu a fachada original de um prédio de 1892 para dividi-la em três repartições: sorveteria, loja de R$ 1,99 e estacionamento.

Na Mooca, onde ficava a maior parte das indústrias erguidas ao longo da linha férrea da antiga São Paulo Railway Company, os fiscais constataram que a Igreja Renascer demoliu parcialmente um armazém de 1911, tombado, para fazer o Renascer Hall, um templo envidraçado para 5 mil fiéis. A igreja não quis comentar a multa.

Convênio

O Conpresp também fez um convênio com os cartórios da cidade para fazer a notificação dos proprietários multados. "Em alguns casos, o proprietário multado poderá, se quiser, assinar agora um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Conpresp. Ele terá de se comprometer a fazer os reparos necessários para corrigir o que foi feito de errado. Os recursos recolhidos pelas multas vão ser usados justamente para ajudar na reconstrução de bens que foram deteriorados", afirmou Nadia Somekh, presidente do DPH.

"Estamos também fazendo um mutirão para analisar qual a importância histórica e para a memória da cidade dos bens que estão na fila para serem tombados. Nossa intenção não é congelar a cidade", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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