Estágio: saiba se chegou a hora de trocar de empresa

O LeiaJá ouviu estudantes e uma desenvolvedora de talentos para saber o que o estagiário deve considerar para mudar ou não de ares

por Lara Tôrres | sex, 19/01/2018 - 16:43
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O estágio, melhor maneira de adquirir experiência prática durante o curso, deve prezar pelo aprendizado das diversas áreas da profissão e estar conectado com as expectativas futuras e com o perfil profissional do estudante. No entanto, muitas vezes alguns detalhes da rotina de trabalho e dos anseios do estagiário não se encaixam muito bem, fazendo com que o futuro profissional se pergunte se aquele lugar de fato ainda está agregando à sua formação.

O LeiaJá ouviu estudantes que já passaram por esse momento de se questionar sobre se deveriam ou não permanecer no setor ou na empresa onde estavam, além de entrevistar a Gestora da Unidade de Desenvolvimento de Talentos do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) Pernambuco para saber o que o estagiário deve considerar e quais são os problemas mais comuns que levam à insatisfação dos estudantes. 

Túlio Feitosa, de 21 anos, está cursando o oitavo semestre de jornalismo em uma universidade privada do Recife e atualmente, está no seu terceiro estágio. Suas primeiras experiências se deram no setor de comunicação de órgãos públicos ligados à administração estadual e, segundo ele, houve aprendizado no início, mas depois o número limitado de demandas o deixou desestimulado. “No começo eu encarei como uma novidade, mas eram poucas atividades, aí ficou entediante e estressante ficar lá fazendo nada”, conta Túlio, que cumpriu até o fim o contrato de um ano, mesmo insatisfeito, segundo ele, “por conta da bolsa”.

Além do trabalho monótono, outro fator que fez o estudante se sentir desestimulado com o estágio foi a sensação de não estar cumprindo o dever social de sua profissão, que para ele é ser “um prestador de serviço à sociedade”. Túlio explica que ficava insatisfeito porque em sua opinião “se eu estou fazendo matéria sobre um evento reservado a 20 pessoas, não fiz nada”. Atualmente, ele trabalha como estagiário na função de repórter em uma empresa privada e afirma estar satisfeito com o serviço, que é mais dinâmico, tem um ritmo mais acelerado e, segundo ele, “acrescenta à minha aprendizagem todo dia”. 

Leonardo Barbosa tem 21 anos, é natural da cidade de Arcoverde, no Sertão pernambucano, e está cursando Engenharia Civil no Recife. Até o momento, Leonardo teve três estágios, sendo dois no interior e o terceiro no Recife. Segundo ele, a sua primeira experiência profissional foi em um projeto de trabalho em home-office montado por um amigo. Esse estágio, segundo Leonardo, rende bons frutos até o presente. “Até hoje faço projetos para ele e tudo que aprendi, uso para ganhar um dinheiro extra, foi o melhor estágio que tive”, conta. Este estágio só chegou ao fim quando ele percebeu que era hora de aprender sobre outros aspectos da engenharia civil. Leonardo explica que o trabalho “já estava repetitivo, não tinha mais o que aprender e então eu busquei outro que me iria dar outro tipo de experiência e remuneração melhor”, diz. 

Em seu segundo estágio, ele começou fazendo trabalho de campo em obras, monitorando a construção, passando depois para a área de projetos e orçamentos. Alguns meses depois, quando decidiu se mudar para o Recife, pediu rescisão do contrato mas, segundo ele, estaria lá até hoje se não tivesse transferido a faculdade. Na capital pernambucana, o estudante conseguiu seu terceiro estágio mas, desta vez, teve uma experiência negativa. "O engenheiro da obra, mesmo tendo uma idade já avançada, não tinha experiência com estagiário e eu precisava procurar o que fazer porque ele não me passava tarefas, não tinha rotina de trabalho”, explica.

Desestimulado, ele já estava procurando processos seletivos quando, após uma greve, todos os funcionários da obra foram demitidos, incluindo os estagiários. Desde então, Leonardo segue a procura de outra oportunidade. De acordo com ele, o maior obstáculo para conseguir um novo lugar para estagiar é a exigência dos empregadores, que buscam um perfil que não se adequa ao currículo universitário do curso e gera acúmulo de função. “O problema é que no Recife as empresas querem estagiário de engenharia para fazer o papel de técnico em obra e dificilmente a faculdade te dá uma formação prática nisso. Muitas coisas que aprendi até hoje, foi pegando na massa mesmo”, releva. 

Diante de um cenário de insatisfação com o estágio, a orientação da Gestora da Unidade de Desenvolvimento de Talentos do Instituto Euvaldo Lodi (IEL) de Pernambuco, Ana Cláudia Mendonça, os estudantes devem fazer uma análise de toda a conjuntura do estágio, avaliando se, passados alguns meses, aquela empresa e aquele setor seguem oferecendo atividades ligadas à grade curricular do curso e contribuindo para o aprendizado do estagiário. Para ela, “é uma questão de ponderar se aquele lugar tá mesmo dando ganhos  de aprendizagem ou se outro daria mais”. 

Para ela, o estagiário precisa ter maturidade para observar todos esses aspectos e se certificar de que conheceu, experimentou e desempenhou todas as atividades que podia e aprendeu tudo que era possível ali. "Se o estudante não se identificar, se não achar que está se adaptando, a gente aconselha que o aluno venha conversar para ajudarmos e caso de fato o estágio não atender às expectativas, aconselhamos que ele tente mudar de setor ou peça o desligamento para que a gente o encaminhe para um processo seletivo em outra empresa que se adeque melhor ao que ele quer”, explica.

Sobre as queixas mais frequentes dos estudantes, Ana Cláudia destaca dificuldades de se adaptar à rotina da empresa, insatisfação com o setor em que está alocado e problemas para se adaptar à lógica de um ambiente corporativo. No que diz respeito à conduta da empresa, a maior reclamação é pelo não cumprimento da carga horária de até 6 horas por dia e a não observância do recesso remunerado de um mês.

Ana Cláudia também conta que às vezes os erros na conduta começam no momento de montar o perfil de estudante desejado para a vaga sendo frequente que algumas empresas, por não entenderem que o estagiário é um profissional em formação, solicitam coisas que não podem ser exigidas como, por exemplo experiência prévia. “Quando temos problemas desse tipo, nós procuramos a empresa e conversamos para ajustar a conduta dela em relação aos estagiários”, esclarece.

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