Vai que dá certo - além de dar título à comédia de Maurício Farias que estreia nesta sexta-feira, a sentença bem que poderia virar um lema de todo filme brasileiro. A esperança é sempre essa - de que tudo dê certo, nas bilheteria também (ou principalmente). Há um boom das comédias. Elas proliferam de todos os lados, e de todos os estilos, das mais inocentes às mais grosseiras. Os dramas dão mais prestígio, mas o que o público quer é rir. "Vai Que Dá Certo" é uma comédia de erros. Cinco amigos tomam consciência do buraco em que estão e planejam um assalto, mas são ineptos. Enrolados com a polícia e o crime, o que eles fazem? Lutam para sobreviver.
Embora o assalto à caixa-forte seja o ponto de partida de "Vai Que Dá Certo", o diretor Farias diz que o tema de seu filme não é a crítica à injustiça do pensamento capitalista. Ele espera que o público, rindo, perceba que o nó górdio é uma questão ética - até onde se pode ir, individualmente, num mundo assolado por crises econômicas e denúncias de corrupção? Fazer rir, mas com a contrapartida de um pensamento crítico por trás, é uma coisa que Farias tem feito na TV, com as séries "A Grande Família" e, agora, "Tapas e Beijos", ambas estreladas, ou coestreladas, por sua mulher, Andréa Beltrão. Para fazer rir, ele chamou um time eclético de comediantes da nova geração. São os novos reis do humor. Bruno Mazzeo está montado em cerca de 10 milhões de espectadores, o público que já somou com "Muita Calma Nessa Hora", "Cilada.com" e "E Aí, Comeu?". E tem também Fábio Porchat, Lúcio Mauro Filho e Danton Mello, que não é bem um comediante, mas está comediante em "Vai Que Dá Certo".
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As origens são diversas - stand up, teatro, TV. Bruno Mazzeo, além de escrever esquetes para os programas de humor do pai - Chico Anísio -, foi locutor esportivo lá no seu começo. Ele mantém até hoje o vozeirão, que você percebe muito mais quando conversa com Bruno, o ator, não quando o vê na pele de seus personagens. "Vai Que Dá Certo" foi filmado parte em Paulínia, parte em Campinas. O diretor não queria caracterizar a cidade. Preferia que seu filme desse a impressão de passar em qualquer cidade do Brasil. Bruno conta que inventou um sotaque para o personagem rapidinho - "em cinco minutos" -, mas isso não foi difícil porque viveu em São Paulo e o Estado e a cidade são cacofonias de sotaques. No geral - ele minimiza o aporte de sua voz -, diz que não é como o pai, que fazia da dicção e da fala ferramentas na criação de seus tipos sempre engraçados. Quem não minimiza é Fábio Porchat, que soma os créditos de roteirista e 'dialoguista' ao de ator.
"Quando comecei a trabalhar no projeto, Maurício (Farias) já havia montado o elenco. Comecei a escrever pensando nos atores, na embocadura deles. Quando a gente faz isso, o personagem ganha vida, uma forma, uma cara. E tudo fica mais fácil." Porchat sabe do que está falando porque, afinal de contas, além da stand up, ele estourou na internet, com o sucesso de Porta dos Fundos, que contabiliza 140 milhões - é isso mesmo, 140 milhões - no YouTube. Gregório Duvivier, que também está no elenco de "Vai Que Dá Certo", e ele criaram o projeto de vídeos para internet que virou o maior sucesso. Mais de uma emissora já tem batido à porta dos dois (sem trocadilho) para incorporar os vídeos à sua programação. Nada feito. Cada humor com seu formato, a sua mídia.
Os críticos, às vezes, pensam que é fácil fazer comédia. Basta pegar um marombado ou um tonto, uma gostosa, encenar piadas grosseiras de sexo e... Bum! O público vai lotar as salas. Antes fosse simples assim. A comédia, como o blockbuster, é um gênero difícil e para a comédia virar blockbuster é preciso muito esforço. Sobre isso, todos podem falar, porque Bruno, Fábio, Lúcio Mauro e Danton, mais do que comediantes, se consideram a-to-res. Pegue o irmão de Selton Mello. Danton veio do teatro infantil (como Lúcio Mauro, que agora faz o Leão Covarde na montagem teatral de "O Mágico de Oz"). Foi, e ainda é, galã de novela e agora se integra ao grupo de desastrados de "Vai Que Dá Certo". "A gente faz o que gosta, mas também o que é preciso", diz.
É uma geração talentosa - e eclética. "Todo mundo é muito autoral e não esnoba nada, seja teatro, cinema, TV ou internet", define Fábio Porchat. "É uma geração que encerrou essa coisa dos limites do humor", acrescenta Bruno Mazzeo. "Prova disso é que todo mundo faz humor politicamente incorreto, mas não toma processo porque faz com inteligência." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.