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Nascidas no México há 22 anos, as gêmeas Lupita e Carmen Andrade foram morar nos Estados Unidos ainda bebês, em Connecticut. O que difere a história delas das de outras irmãs gêmeas mundo afora é que elas são siamesas. O fenômeno é raro, no Brasil nascem menos de mil bebês siameses por ano. No caso de Carmen e Lupita, elas compartilham diversos órgãos internos, e cada uma possui os dois membros superiores e uma perna. “Eu dirijo!”, diz Carmen, que controla a perna direita, enquanto Lupita fica a cargo do GPS e da música no carro.

Ao portal americano Today, elas contaram um pouco de suas vivências enquanto gêmeas, mas principalmente, enquanto pessoas. Juntas, elas são um time perfeito. Enquanto Carmen estuda para ser enfermeira veterinária, Lupita quer estudar na mesma área, como técnica, e também pretende escrever comédias. “Eu costumo falar mais, mas ela é hilária”, comentou Carmen sobre Lupita.

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Sobre relacionamentos, elas são bem francas uma com a outra. Lupita é arromântica e assexual, ela não tem necessidade de se relacionar romântica ou sexualmente com ninguém. Já Carmen tem um namorado, Daniel, desde outubro de 2020. Ele se dá muito bem com Lupita, o que deixa a irmã muito mais tranquila e confortável de estar com ele.

 

Mesmo com a convivência constante, elas admitem que não se cansam uma da outra. “Às vezes, no final do dia, estamos exaustas e não queremos conversar. É quando vamos usar dispositivos diferentes e fazer nossas próprias coisas. Eu tenho meu laptop para fazer trabalhos escolares e Lupita coloca fones de ouvido e ouve música”, conta Carmen. “Estivemos juntos a vida inteira, então não é como se sentíssemos falta da nossa independência. É tudo o que já conhecemos, certo?”, compara.

Elas entendem que dependem uma da outra para viver, o que torna o companheirismo peça fundamental na vivência das irmãs. “Compartilhamos uma corrente sanguínea, compartilhamos um fígado, compartilhamos muitas estruturas internas”, lembra Carmen. “Se fizéssemos uma cirurgia de separação, qualquer uma de nós poderia morrer, nós duas poderíamos morrer ou acabar na UTI, sem nunca mais poder sair”, completa Lupita.

Apesar de fazerem tudo juntas, Carmen e Lupita mantêm suas individualidades e seus estilos afloram pela personalidade de cada visual. “Nossa vizinha costura roupas para nós desde os 5 anos de idade. Ela faz todas as nossas camisas, vestidos e uniformes e outras coisas”, conta Carmen. “Temos o mesmo estilo, mas tentamos ter nossos próprios looks distintos. Não costumamos deixar o cabelo do mesmo comprimento. Quando fomos ao oftalmologista, Lupita escolheu óculos completamente diferentes dos meus. Ela tem um piercing na lateral do nariz. Eu tenho um no septo”, complementa.

As experiências na infância e adolescência não foram sempre as melhores, ela tiveram de conviver com situações em que sofreram bullying na escola, mas isso não as impediu de terem tido uma fase feliz. Isso fez com que elas conseguissem “filtrar” os verdadeiros amigos. “Sempre compartilhamos o mesmo grupo de amigos. Ainda somos próximos das mesmas pessoas com quem crescemos. Lupita tem uma intuição muito boa sobre as pessoas, então se ela gosta delas, eu gosto delas”, comenta Carmen.

A conexão que elas têm uma com a outra vai além de uma relação de gêmeos, pois elas acabam sentindo as mesmas coisas. “Quando tínhamos quase 6 anos, tivemos um pesadelo em que íamos cair de um avião e, literalmente, caímos da cama. Isso só aconteceu uma vez, mas podemos sentir as emoções uma da outra”, disse Carmen. “Isso acontece o tempo todo. Estivemos recentemente em uma loja e senti uma estranha queda no estômago - e sabia que vinha da minha irmã. Um homem estava fingindo filmar sua filha, mas, na verdade, estava nos filmando. Eu não percebi, mas Lupita sim. Ela é bem mais observadora”, pontua. “Posso sentir quando Carmen está ansiosa ou prestes a chorar. É aquela mesma sensação no estômago”, concorda Lupita.

Carmen e Lupita têm contas separadas no Instagram, mas têm mais visibilidade no TikTok, onde reúnem mais de 3 milhões de seguidores. “Recebemos alguns comentários desagradáveis. Muitas pessoas não estão acostumadas com pessoas com deficiência estabelecendo limites ou criando limites quando se trata de sua deficiência. Recebemos muitas perguntas sobre sexo, como vamos ao banheiro e coisas assim. Mas você deve se lembrar: não somos apenas gêmeas siameses, somos pessoas”, finaliza Carmen.

Fotos: Reprodução/Instagram

Luisa debate com as mães do jardim de infância de seu filho sobre como explicar para os pequenos o motivo pelo qual não vão trabalhar na segunda-feira. Em um restaurante da Cidade do México, Denisse, uma psicóloga de 28 anos, planeja com colegas sua participação no protesto contra os feminicídios no país.

A quase dois mil quilômetros de distância, em Ciudad Juárez, Lydia organiza as manifestações locais e, na fronteira sul mexicana, as militantes do movimento zapatista fazem o mesmo.

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Na década de 1990, centenas de mulheres apareceram mortas em Ciudad Juárez, que fica na fronteira com os Estados Unidos e é um polo da indústria maquiladora. Todas sob um mesmo padrão de tortura sexual que expôs de maneira brutal a violência de gênero no país.

Este ano, as mexicanas se preparam para uma grande marcha em 8 de março e para a jornada #UndíaSinNosotras (#UmDiaSemNós) na segunda-feira, que busca chamar a atenção para o crescente feminicídio no México. Em 2019, foram registrados 1.006 casos, conforme cálculo oficial que os especialistas consideram conservador.

Em fevereiro passado, as mortes de Fátima - uma menina de 7 anos que sofreu abuso sexual antes de ser assassinada - e de Ingrid - uma jovem de 25 anos também cruelmente assassinada por seu parceiro - foram a gota d'água para mobilizar mulheres que acumulam anos de medo e de revolta.

A indignação cresceu de tal maneira que Las Brujas del Mar, um pequeno coletivo feminista de Veracruz, viu sua convocação "¡El nueve nadie se mueve!" (em tradução livre "No dia nove ninguém se mexe!") explodir nas redes sociais em meados de fevereiro. O coletivo Primero Somos, da Cidade do México, também propôs um dia sem mulheres em 9 de março.

"Essa ideia circula (entre as organizações), e nós decidimos colocá-la nas redes sociais", disse à AFP Arrusi Unda, uma publicitária de 32 anos do Las Brujas del Mar, reconhecendo que elas "nunca, nunca" imaginaram "a loucura" que seria.

Unda fez a imagem da convocação em seu celular, de forma improvisada, pois nunca cogitou que a iniciativa ganharia tanta força. Tampouco que receberiam ameaças. O fato é que o tema ganhou espaço na agenda nacional.

Reação ao governo

Depois dos homicídios de Fátima e Ingrid, a primeira reação do presidente Andrés Manuel López Obrador causou ainda mais mal-estar, ao afirmar que os feminicídios obedeciam à decomposição do "período neoliberal" e que, por trás das manifestações, estava a oposição "conservadora".

O governo federal ainda tentou, no último minuto, reduzir a tensão com uma conferência das secretárias de Estado. Uma delas, a ministra do Interior, Olga Sánchez Cordero, alegou que as mulheres "não estão insatisfeitas com o governo, estão insatisfeitas com a violência que continuam sofrendo".

Neste momento - disse à AFP a fundadora do coletivo Las Constituyentes Feministas CDMX, Yndira Sandoval -, "o feminismo põe o Estado mexicano à programa. É um teste para a democracia".

"Não se poderá garantir a democracia, se não se garantir a condição e a vida das mulheres", acrescentou.

As feministas também temem o "oportunismo" do setor empresarial, que rapidamente autorizou suas funcionárias a terem a segunda-feira como dia livre.

"Nosso sistema é tão patriarcal que, quando as mulheres decidem parar, os homens se apressam para nos dar permissão", apontou Sandoval.

Se os empresários pretendem, de fato, sair da ambiguidade, serão obrigados a resolver a questão da desigualdade salarial, a paridade de gênero na hierarquia do mercado e a adotar medidas para evitar o assédio no ambiente de trabalho, argumenta a ativista.

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