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Há um mês, Roberto se alimenta dos sopões solidários oferecidos aos moradores de rua. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

De camisa de botão, calças bem passadas e sapatos sociais, o desempregado Roberto Silva aguarda um dos encontros mais importantes de sua vida. Há um mês, ele tirou os cerca de R$ 600 que guardava em uma conta bancária e comprou uma passagem só de ida, de São Paulo para o Recife, deixando esposa, filhos, casa e carro próprio na esperança de descobrir o paradeiro de seu pai, o pernambucano Amaro Mariano Silva. Desde então, Roberto dorme nas ruas do Centro do Recife e conta com a ajuda de desconhecidos para se alimentar e bancar as passagens para continuar as buscas.

 “Minha mãe é paraibana e veio morar no Recife. Aqui, conheceu meu pai, com quem viajou para São Paulo. Eles tiveram cinco filhos, comigo, e se separaram. O que ela me contou foi que foi traída, o que ocasionou o rompimento do casamento e a volta do Seu Amaro para Pernambuco”, relata Roberto. Depois disso, o desempregado sabe apenas de fragmentos da própria história. “Não sei o que deu na cabeça dela, mas resolveu vender a casa em vivíamos muito bem. Meu pai era torneiro mecânico, nos sustentava com tranquilidade. Nos mudamos para uma favela e sei que ela chegou a ser presa, desconheço o motivo”, lamenta. Roberto era recém-nascido quando o pai deixou a família.

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Com outro companheiro, a mãe de Roberto teria ainda mais dois filhos. “Ela, até hoje, mal fala do meu pai. Sempre questionei, mas nunca recebi respostas concretas. Ela criou ódio dele por causa da traição, não queria nem que a gente tocasse no assunto”, completa. A cada novo natal sem respostas, Roberto se inquietava sozinho, em oposição à apatia dos irmãos em relação ao pai. Capacitado para trabalhar como vigilante, era com essa atividade profissional que sustentava a companheira e os filhos, até que ficou desempregado.

Aos 55 anos, sem uma foto sequer do pai e com a exclusiva informação de que ele trabalhou na antiga “Minerva”, uma fábrica de papéis do Bairro de Caixa d’Água, em Olinda, fechada há mais de 30 anos, Roberto decidiu que era o momento de investigar o paradeiro de Amaro. 

Foram três dias em um ônibus e um desembarque apressado. Da rodoviária, com R$ 40 no bolso e uma mala com uma bíblia, documentos e algumas roupas, Roberto se apressou em ir a Caixa d’Água. “Passei a noite pra cima e pra baixo, procurando informações sobre meu pai com a população. Dormi na rua pela primeira vez. Me disseram que, de lá, quando a empresa fechou, ele se mudou para Rio Doce (Olinda)”, afirma. 

Roberto no local onde costuma dormir. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Vida no Centro

Embora tenha sido racionado durante a viagem em um lanche por dia, o dinheiro logo acabou. Com os abrigos para moradores de rua lotados, restou a Roberto hospedar-se debaixo da marquise de um edifício, no cruzamento entre a Rua do Sol e a Avenida Guararapes. “Os seguranças sempre estão de olho, qualquer coisa podem me dar uma força. Lá embaixo, perto da Praça do Diario, a coisa é mais pesada, comecei a recuar, mas ao mesmo tempo tinha que jogar o jogo deles, na forma de falar, no jeito de me vestir, se não poderia ser roubado ou morto”, explica. 

Roberto chegou a ter o celular, que utilizava para se comunicar com a esposa, roubado. Com “vergonha de pedir”, foi vender água até conseguir R$ 20 para comprar um novo aparelho, mais simples, na Avenida Dantas Barreto. “Sinceramente, nos primeiros dias me senti meio inseguro, mas depois que comecei a ter contato com as pessoas, vi que os pernambucanos são pessoas muito amorosas, carismáticas. Encosto numa banca a pessoa já me dá um cafezinho, sem eu pedir”, conta. Alimentando-se dos sopões organizados por instituições de caridade para os moradores de rua e carregando o celular em Igrejas, Roberto vai levando uma rotina cheia de incertezas e espaços vazios. 

Se a coisa não mudar, em duas semanas, ele pretende desistir do sonho de reencontrar o pai e voltar à São Paulo. “Preciso de alguma notícia dele, vivo ou morto. Se eu pelo menos arrumasse um emprego, poderia ficar mais. Todos os meus documentos estão com a prefeitura”, conta. Aos cuidados do Centro POP Glória, espaço de referência do Ministério de Desenvolvimento Social voltado para o atendimento especializado de pessoas em situação de rua, Roberto foi abordado pelo educador social Bartyson Souza há cerca de 3 semanas.

“Sabemos que ele veio em busca do pai e que a situação ficou apertada. Caso ele decida ir, a gente vai tentar conseguir o recurso com a Secretaria de Desenvolvimento Social”, afirma Bartyson. De acordo com o educador social, nos últimos quatro anos, histórias como a de Roberto tornaram-se comuns nas ruas do Recife. “Neste período de crise, estamos nos deparando com pessoas de fora que, devido ao desemprego, vêm em busca de familiares, mesmo que não tenham vínculos com eles. Esses indivíduos retornam na tentativa de encontrar um contexto melhor”, relata.

Serviço//Contatos

Centro POP Glória

Endereço: Rua Bernardo Guimarães, 135, Santo Amaro, Recife-PE

Roberto Silva

Telefone: (81) 98859-0155 

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