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Chico Buarque é um dos poucos artistas brasileiros que conseguem beirar a unanimidade. Autor de canções que perpassam gerações e continuam inspirando e emocionando um sem número de fãs, o compositor, cantor e escritor iniciou nesta quinta (19) uma série de apresentações no Recife, trazendo a turnê de seu disco mais recente, Chico. Ele ainda faz mais três shows até o próximo domingo (22).
Chico é um criador sem pressa: seu último disco - Carioca - havia sido lançado em 2006, e sua última turnê aconteceu em 2007. Tanto tempo longe dos palcos parece ter aguçado o desejo de seus admiradores de assisti-lo, e o Teatro Guararapes esteve lotado na primeira apresentação da sua passagem pela cidade - os shows de sábado e domingo estão com os ingressos esgotados, e restam poucos lugares para hoje (20). Helena Matos e Vera Almeida vieram de longe - Fortaleza - para apreciar o show de seu artista favorito. "Quando eu era adolescente era apaixonada por Chico", afirma Helena, que acompanha a carreira do cantor desde o início e tem a discografia dele. As duas, no entanto, avisam que ainda não escutaram o disco mais recente lançado pelo artista, que está sendo divulgado nesta turnê.
O cantor entrou no placo às 21h20, todo de preto, para delírio do público, que o recebeu com muitos aplausos e barulho. O velho Francisco foi a primeira música, seguida por De volta ao Samba, Desalento e Injuriado. Em seguida, mostrou as músicas de seu novo disco, tocando as seis primeiras na mesma ordem em que estão em Chico. Com seu refinamento habitual, o artista ainda acerta ao compor canções como Rubato, Tipo um baião e Essa pequena.
A partir daí, o compositor passeou pelo lado feminino de sua poética, uma de suas características mais marcantes. Poucos - ou nenhum - são capazes de traduzir o mundo e os sentimentos das mulheres com a precisão e poesia de Chico Buarque. O meu amor foi cantada em coro pelo público do Teatro Guararapes, que abriga mais de duas mil pessoas, assim como Anos Dourados e Teresinha. O próximo bloco musical é marcado pela execução de Geni e o Zepelim, um clássico da música brasileira que o autor nunca tinha feito ao vivo até esta turnê. Outro clássico, Todo o sentimento, emocionou muita gente.
Também é marcante a participação de Wilson das Neves, apresentado por Chico como seu "personal baterista". Ele vem à frente do palco cantar e fazer um dueto com Chico em Sou Eu e Tereza da Praia. A animação e carisma de Wilson estimula o único momento do show em que Chico Buarque parece mais à vontade e deixa um pouco da tão falada timidez de lado, brincando e cumprimentando efusivamente o companheiro de banda.
Durante todo o show, Chico quase não fala. Além de um tímido "boa noite", se resume a apresentar a banda. Mas não há muitos silêncios, porque as músicas vão sendo tocadas em sequência, muitas delas puxadas pelo maestro e arranjador Luiz Cláudio Ramos, parceiro de longa data do artista. Mas sua introspecção não parece diminuir a empolgação do público, que aplaudia ao mínimo gesto do cantor. Houve até gritinhos de tiete chamando Chico de "lindo". O compositor não parou no tempo, e ainda atrai muitos jovens que se tornam admiradores da sua obra. Naira Sérvio, de 22 anos, fez questão de ir ao show, mesmo achando o preço do ingresso salgado e estando sozinha. "Vale o esforço. Muitas músicas de Chico serviram para me ninar", afirma a jovem, usando uma camisa com um desenho de Chico Buarque. (Ver vídeo com depoimentos também do governador Eduardo Campos).
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Ao final, o artista saiu do palco e voltou duas vezes para o bis. O público que lotou o Teatro Guararapes aplaudiu de pé e continuou assim para assistir à última música. Artista que há muito já é um ícone, Chico Buarque fez um show um tanto intimista, com arranjos minimalistas, que valorizam a composição, em que algumas músicas dispensaram a bateria e a percussão. Tudo muito bem tocado pela excelente e experiente banda que o acompanha há muito tempo.