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"Parece que estou sonhando". Depois de treze anos de espera, foi assim que a cidadã pernambucana que prefere ser chamada de Alexandre resume a conquista do direito de mudar de sexo, garantida por uma decisão judicial inédita, divulgada no último dia 22, e que ganhou grande repercussão local. A cirurgia, que tem o complicado nome de metoidioplastia, poderá ser realizada nos próximos meses, no Hospital das Clínicas de Goiás, que é referência na área. De acordo com a sentença expedida pelo magistrado Marcos Nonato, da 4ª Vara da Fazenda de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, o procedimento, que custa cerca de R$ 40 mil, deverá ser custeado pelo Estado. Apesar de caber recurso, a expectativa de médicos, familiares e do próprio paciente é de que o Estado não tente reverter à decisão. A Procuradoria Geral do Estado afirmou, através da Assessoria de Imprensa que o assunto ainda não foi discutido pelo órgão.

Confiante, Alexandre não escondeu a emoção. "Eu nunca me senti mulher. Sabia que estava no corpo errado. É tanto que em 1999, ainda jovem procurei a ajuda de médicos. Era como se eu estivesse em uma prisão. Sofri bastante, mas também tive muito apoio. Decidi brigar na Justiça para que o Estado pagasse porque não tenho condições financeiras de arcar com a cirurgia", destacou o paciente, que prefere ser tratado como homem, apesar de ainda não ter a identidade masculina civilmente reconhecida.

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Fisicamente, as mudanças no corpo de Alexandre foram acontecendo ao longo dos últimos doze anos. "Tive acompanhamento clínico e psicológico desde o início. Passei por tratamentos hormonais, fiz cirurgia para a extirpação do útero e dos seios e aos poucos fui ganhando a aparência que tanto sonhei. Agora é a etapa final", comemorou. O Processo foi acompanhado de perto por vários profissionais do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. "Estamos todos felizes pelo Alexandre. Ele sabe o que quer e temos certeza de que será muito feliz com sua decisão", comentou a enfermeira Lúcia Silva, que há pelo menos seis anos acompanha o caso do paciente.

Com a metoidioplastia o clitóris hoje existente será atrofiado e será unido à uretra. Na sequencia será feito um enxerto de músculos na área, criando um pênis que terá as mesmas funções do pênis comum.

Respeitado no mundo jurídico, o juiz Marcos Nonato é conhecido por possuir um perfil conciliador. "Ele é um homem que tenta sempre se colocar no lugar do outro. Se tomou esta decisão, é porque sentiu que era o correto e que estaria ajudando este cidadão", declarou a advogada Sávia Dias, que atua no Fórum de Jaboatão há mais de dez anos. Apesar das tentativas a reportagem não conseguiu contato com o juiz.

A Organização Miss Universo declarou, nesta terça-feira, que poderá reverter uma decisão anterior e permitir que uma transexual possa participar do concurso de Miss Universo Canadá. Jenna Talackova, de 23 anos, nasceu homem, mas há quatro anos se submeteu a uma cirurgia de mudança de sexo e virou mulher. Isso fez com que os organizadores do concurso desclassificassem Talackova, uma vez que as normas da organização comandada pelo magnata Donald Trump, em Nova York, estabelecem que apenas mulheres "naturais" podem participar das competições.

A organização comandada por Trump anunciou que poderá reverter a decisão após Talackova ter anunciado uma coletiva de imprensa com a advogada Gloria Allred, ainda para esta terça-feira em Los Angeles. O advogado de Talackova no Canadá, Joe Arvay, disse nesta terça-feira que o último comunicado do Miss Universo Canadá é "incompreensível". O comunicado disse que Talackova poderá concorrer "uma vez que ela obtenha o reconhecimento legal de gênero pelo governo do Canadá e os padrões estabelecidos por outros competidores internacionais".

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Arvay disse que as exigências do Miss Universo Canadá não estão de acordo com a legislação de direitos humanos do país e que ele entrará com uma queixa na Comissão de Direitos Humanos do Canadá, que funciona na província canadense de Ontário. "Na ausência de clareza, nós vamos prosseguir", disse Arvay.

A desclassificação rendeu a Talackova uma ampla simpatia no Canadá. Ela disse que viveu sua vida como mulher desde os 4 anos, começou a fazer tratamento com hormônios aos 14 e realizou a cirurgia de mudança de sexo aos 19.

Connie McNaughton, eleita Miss Mundo pelo Canadá em 1984, disse que a desclassificação de Talackova foi uma decisão obsoleta e discriminatória. Do lado conservador da sociedade canadense, Gwen Landolt, vice-presidente da associação Real Women of Canada, disse que a organização do concurso agiu corretamente e foi simplesmente realista ao barrar Talackova.

As informações são da Associated Press.

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