Sem apelo para o nordestino, de viés extremamente lulista, o presidente Michel Temer (PMDB) tem feito algumas tentativas para conquistar a simpatia de quem sempre o olha com desconfiança. Acelerar as obras da Transposição foi o seu maior feito. A água, finalmente, chegou a dois Estados – Pernambuco e Paraíba - e em breve pode molhar o chão seco e matar a sede de mais dois Estados – Ceará e Rio Grande do Norte.
A investida na Transposição do São Francisco provocou ciumeiras no PT, que abriu um precedente histórico e preocupante no País, fazendo um ex-presidente, no caso Lula, inaugurar uma obra sem ter mais autoridade nem legitimidade para tal. Em ato na cidade de Monteiro, domingo passado, Lula e Dilma disseram que Temer quer pegar carona na obra que tem o DNA deles.
Temer sabe que, em qualquer projeto que esteja na sua cabeça para 2018, minar as bases de Lula no Nordeste não é meta, mas obrigação seja ele candidato à reeleição ou o nome que venha a apoiar. Saíram dos bolsões de miséria da região os votos que elegeram Lula, carimbaram seu passaporte para reeleição e, consequentemente, elegeram o poste Dilma.
Por isso, algo tem que ser feito em favor dessa gente fiel, eleitora de cabresto de Lula. Reunido com Temer na semana passada, o senador Fernando Bezerra Coelho, líder do PSB no Senado, aliado de primeira hora do Governo, colocou na mesa aquela que pode ser a grande cartada do Governo para o presidente mostrar seu apreço aos nordestinos: a Bolsa Estiagem.
Trata-se de um complemento de R$ 70 ao valor recebido pelos agricultores cadastrados no programa Bolsa Família. Vigoraria entre maio a dezembro, sendo suspenso mediante a chegada das primeiras chuvas no Nordeste. Fernando disse que Temer está convencido de que algo precisa ser feito para minorar os estragos causados ao semiárido pela frustração das chuvas. Esperava-se um bom inverno, com chuva em abundância, mas as expectativas não estão sendo confirmadas.
Diante disso, o Governo será fortemente cobrado a criar um amparo, uma tábua de salvação. Se a bolsa estiagem vingar, o que ainda depende da boa vontade da equipe econômica de Henrique Meireles, estará assegurado ao criador de gado o mecanismo para comprar o milho subsidiado da Conab, por R$ 35 a saca, metade do preço praticado no mercado.
A ajuda emergencial pode até ser encarada como mais uma esmola da União, que trata o Nordeste como um enteado desde o Império, mas certamente fará a alegria e a felicidade de muita gente humilde, que não aguenta mais tamanho prejuízo provocado pelo mais longo período de seca no Nordeste, completando sete anos consecutivos.
DESINFORMAÇÃO – Em meio aos discursos na etapa Petrolândia – Sertão de Itaparica – do seminário regional Pernambuco em ação, o senador Fernando Bezerra (PSB) teve que rebater as críticas do deputado Rodrigo Novaes (PSD). Numa fala anterior, Novaes afirmou que a Codevasf, que os Coelhos exercem forte influência, teria que chegar com presença mais robusta no Sertão de Itaparica, sendo hoje um órgão com ações restritas a Petrolina. De imediato, o senador disse que a Codevasf está perfurando mais de 60 poços em regiões além do São Francisco, sendo mais de 20 em Itaparica. FBC não chegou a tanto, mas deixou a entender que o deputado estava desinformado.
A vaia da claque – Aliado fiel acaba pagando um preço caro em algumas ocasiões. Na quinta-feira passada, na inauguração da estrada que liga Flores ao distrito de Fátima, o secretário estadual de Transportes, Sebastião Oliveira, provou deste fel. Por uma questão de lealdade, citou que a ex-prefeita Soraya Murioka (PR), do seu grupo, teria tido papel importante para a pavimentação sair do papel, mas a reação não foi boa. Uma claque do prefeito Marconi Santana e, por tabela ligada ao deputado Danilo Cabral, atores que insistem em assumir sozinhos a paternidade do projeto, vaiou o secretário.
Prefeito ficou de fora – O prefeito de Floresta, Ricardo Ferraz (PRP), recebeu, ontem, em seu gabinete, o governador Paulo Câmara. A visita foi incluída na agenda de Câmara porque o prefeito faltou ao seminário Pernambuco em ação pela manhã, em Petrolândia, alegando que teria dificuldades em dividir o mesmo ambiente com seus adversários – o grupo da ex-prefeita Rorró Maniçoba, hoje liderado pelo deputado federal Kaio Maniçoba – e o grupo do deputado Rodrigo Novaes (PSD). Floresta, aliás, é sempre uma dor de cabeça para o governador. Ele teve que almoçar na casa de Rodrigo e lançar na casa de Rorró.
Em maus lençóis – O ex-executivo da Odebrecht José de Carvalho Filho disse em depoimento ao TSE que negociou pessoalmente com Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, a distribuição de R$ 4 milhões para o PMDB em 2014. Segundo Carvalho, parte dos R$ 4 milhões que Padilha distribuiria seria entregue ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E que a entrega seria feita no escritório do advogado José Yunes, em São Paulo. Esse montante era parte de uma doação maior, de R$ 10 milhões, que a construtora destinaria para o partido naquele ano. Carvalho disse que esteve pessoalmente com o ministro quatro ou cinco vezes para pegar endereços e distribuir senhas. Na semana passada, Padilha decidiu manter silêncio sobre denúncias.
Dinheiro tem, apesar da crise – Na passagem, ontem, pelo Sertão de Itaparica, o governador Paulo Câmara liberou recursos da ordem de R$ 35 milhões para os sete municípios que integram a região. Só na área do secretário de Agricultura e Reforma Agrária, Nilton Mota, foram R$ 7 milhões para fortalecer programas de agricultura familiar. “O PAA Alimentos garante também segurança nutricional à população. Serão adquiridos 262 mil quilos de alimentos de 240 agricultores familiares, beneficiando 6.550 pessoas. Já o PAA Leite prevê a distribuição de 620.500 litros diariamente, para atendimento a 1.724 famílias”, disse Mota.
CURTAS
NORONHA – O projeto da Administração de Fernando de Noronha na área de Meio Ambiente denominado “Jogue Limpo com Noronha – Coleta Seletiva e Compostagem” - foi aprovado pela Fundação Banco do Brasil. A iniciativa tem como objetivo estimular a separação e destinação dos resíduos sólidos pela população para um local ambientalmente adequado, além de estabelecer o desenvolvimento sustentável do arquipélago.
FIASCO – Os prefeitos da região de Itaparica, especialmente o anfitrião Pastor Ricardo (PR), ficaram mal na foto, ontem, com o governador Paulo Câmara: não mobilizaram as lideranças políticas para o seminário Pernambuco em ação. Diferentemente do primeiro em Afogados da Ingazeira, o de Petrolândia estava esvaziado. Foi preciso recorrer aos alunos do ensino médio para fazer plateia.
Perguntar não ofende: Se Arcoverde bombar hoje, Petrolândia vai virar o patinho feio do seminário “Pernambuco em ação” ?