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Entre os meses de outubro e dezembro de 2017, um colégio particular do município de Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR), registrou nove casos de meningite viral em alunos de três a cinco anos. A escola Anita Gonçalves fica localizada no bairro Vila Torres Galvão e chegou a antecipar o fim das aulas da Educação Infantil como medida de precaução. Por se tratar de uma doença considerada grave, familiares das crianças acometidas pela enfermidade denunciaram um "surto" e cobraram uma postura "menos negligente" da instituição de ensino e da Secretaria de Saúde de Paulista.

Em entrevista ao LeiaJá.com, Valdênia Barbosa, mãe de uma aluna de três anos que ficou internada por nove dias por causa da meningite, criticou a postura da direção do colégio. Ela pontua que se já tinham sido identificados dois casos em outubro, as medidas tomadas pela escola deveriam ter sido mais severas para evitar mais alunos infectados. De acordo com a Vigilância Sanitária da cidade, mais sete casos foram notificados no mês de dezembro. Segundo a equipe de Vigilância Sanitária da cidade todos casos são de meningite viral, mais brandos.

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“A diretora do colégio só queria saber o tipo de meningite porque tinha medo de ser bacteriana, mais grave. Mas, não é porque é viral que não deve ser levado em conta, é uma situação difícil e assusta os pais. Queríamos mais providências tanto da escola como da Prefeitura de Paulista”, denuncia Valdênia. Para a mãe, desde outubro, a instituição deveria ter suspendido as aulas para todas as turmas e até mudado de local. “Eles disseram que todas as mães seriam informadas de como proceder nessas situações, mas conheço mães da turma da minha filha que nem sabe como tratar a doença”, afirmou.

Ainda de acordo com a mãe, a escola foi comunicada do caso de sua filha no dia 12 de dezembro. “A direção me informou sobre um comunicado repassado informando a suspensão das aulas, mas não aconteceu. A escola continuou aberta funcionando normalmente. Ela só encerrou para uma turma. A gente que é mãe fica louca e desesperada, é uma escola boa e as pessoas são atenciosas, mas nesse procedimento houve falha e vou tirar minha filha de lá por causa da forma relapsa de tratar esse surto”, disse.

A mãe Aurita Maia também entende a postura da escola como falha. A filha foi socorrida para a emergência e já ficou internada após os médicos terem sido informadas de que a criança tinha tido contato com outras infectadas. Foram mais de dez dias no hospital tratando a doença e um medo enorme. "A escola me procurou e relatou existir um surto de meningite no município. O pessoal da Secretaria Municipal de Saúde negou e resumiu os casos apenas à época da doença. As duas instituições dizem que não houve responsabilidade legal porque são casos virais e não há controle”, informou.

Aurita diz que questionou sobre uma possível suspensão das aulas, já que eram muitos casos e a situação se agravou desde outubro. Mas, a resposta que ouvia era de que não havia necessidade desse cancelamento porque era uma "virose". “Eu não concordo com isso e acho extremamente esquisito uma escola ter esses casos de meningite e poucas providências terem sido tomadas para não chegar ao ponto que chegou”, lamentou.

O LeiaJá.com procurou a Escola Anita Gonçalves para buscar esclarecimentos sobre a denúncia dos familiares. Por telefone, uma das responsáveis pela direção que preferiu não se identificar, explicou que desde o início dos casos, em outubro, procurou os órgãos responsáveis tanto no município, como no Estado para tomar decisões. A escola informou que foram apenas sete casos, número diferente do repassado pela gestão de Paulista. “Realizamos palestras no colégio para tranquilizar os pais, fizemos uma transmissão ao vivo no Facebook, enviamos informativos e tomamos todas as medidas para minimizar a situação”, disse.

A escola afirma seguir todas as instruções da Secretaria de Saúde de Paulista e por isso não encerram todas as aulas.  “Em reuniões e encontros, a vigilância nos informou de que não havia motivos para suspender todas as aulas porque isso foge do alcance da escola. São crianças com imunidade baixa por serem mais novas. Fizemos a nossa parte, mandamos informativos para os pais e intensificamos a limpeza na estrutura do colégio”.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2014, foram registrados 17.347 casos da doença em todo o Brasil, número que caiu para 12.636, no ano passado. Em 2017, de janeiro a 20 de maio, foram 4.411 ocorrências, com 312 óbitos; em igual período de 2016, foram 4.536 casos e 469 óbitos.  No país, a meningite é considerada uma doença endêmica, com casos ocorrendo ao longo de todo ano, sendo mais comum a aparição das meningites bacterianas no inverno e das virais no verão.

Sobre os casos de meningite no colégio, o superintende de Vigilância em Saúde de Paulista, Fábio Diogo, afirmou que desde a primeira notificação, a Vigilância Epidemiológica acompanhou os casos, orientando a diretoria e os pais. O superintendente explicou que ainda é cedo para afirmar que os nove casos são um “surto” porque ainda são esperados os resultados do sorotipo viral, encaminhados para análise no Rio de Janeiro. Por enquanto, a situação deve ser trata com um “aglomerado de casos”.

“As medidas de controle seguem protocolo de controle de uma infecção viral, como cuidados de higiene e tratamento sintomático. Também foram feitas reuniões com a diretoria e responsáveis para repassar informações e orientações. Em dezembro, a Vigilância Sanitária realizou uma inspeção no colégio e verificou que os reservatórios de água, bebedouros, ar condicionados haviam sido higienizados e reforçou a necessidade dos cuidados com higiene com os alunos”, disse Fábio, que garantiu acompanhar todos os casos de perto. “As crianças foram liberadas e agora aguardamos os resultados de outros exames”.

A Secretaria Estadual de Saúde também confirmou o acompanhamento dos casos através da gestão de Paulista. O órgão não deu mais detalhes sobre providências tomadas ou medidas mais sérias.

Confira a nota de esclarecimento da Escola Anita Gonçalves na íntegra:

“O Colégio Anita Gonçalves vem aos pais e responsáveis prestar esclarecimentos sobre os casos de MENINGITE VIRAL, que sofrem aumento de incidência no período do verão, acometendo, inclusive, nas crianças do Grupo 03 e 05 da Educação Infantil, da nossa escola. Desde primeiro caso de Meningite Viral tomamos todas as providências com orientações das instituições que acreditamos e confiamos no seu trabalho SÉRIO E VERDADEIRO: a Secretaria de Vigilância Epidemiológica do Município, a Secretaria de Saúde do Estado, 1º GERES e o Hospital Correia Picanço. Realizamos palestra com a Diretora Vigilância Epidemiológica do Município, sobre a qual enviamos informativo interno e externo, para conhecimento dos pais e comunidade. Higienizamos as salas de aula com a desinfecção das bancas, brinquedos, quadros, portas, janelas, ar-condicionado, ventiladores, banheiros e estantes, com álcool 70%, cloro, hipoclorito de sódio (Água Sanitária), jato de vapor de alta pressão térmica. Por se tratar de meningite viral e ao analisar as condições das instalações da nossa Instituição, assim como os rotineiros procedimentos adotados, os órgãos competentes não determinaram a suspensão das aulas. Porém, por precaução, a direção da escola decidiu antecipar o encerramento das aulas da Educação Infantil, diminuindo o risco de contato entre as crianças. Ainda assim, tomando todas as medidas preventivas e afastada qualquer tipo de omissão da escola, conforme narrado acima, houve grande repercussão de mensagens sobre o caso de Meningite Viral, sentimo-nos na obrigação de REPUDIAR o cunho viralizado nas mensagens em redes sociais. Em nenhum momento a escola foi negligente com os casos ocorridos, como fora veiculado em grupo de WhatsApp. Estivemos sempre em contato com a família dos alunos e com os profissionais de saúde acima citados, que sempre mantiveram total controle e ciência da situação, inclusive abrimos as portas de nossa escola para averiguação das condições de salubridade das nossas amplas e confortáveis instalações, pois somos uma instituição que preza pela qualidade e excelência, conquistada ao longo dos 45 ANOS DE EDUCAÇÃO, que fazem da instituição umas das mais bem-conceituadas na região. As crianças que apresentaram o quadro de meningite viral, que é transmitida por gotículas de salivas contaminadas, passam bem e estão fora do quadro clínico crítico. A principal virtude das redes sociais é também o seu principal defeito: informações verdadeiras e falsas em tempo real disseminadas de forma errônea. Lamentamos, principalmente, a atitude impensada em expor a nossa instituição atrelada a foto da criança, em grupos de WhatsApp”.

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