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O Congresso Nacional derrubou, nesta sexta-feira (16), o veto do presidente Jair Bolsonaro à proposta que proíbe o uso de materiais e estruturas destinados a afastar as pessoas em situação de rua de locais públicos – a chamada arquitetura hostil (VET 55/22). O texto segue agora para promulgação.

No Senado, a derrubada do veto teve 60 votos favoráveis e apenas 4 contrários. Na Câmara, foram 354 votos pela derrubada do veto e 39 pela manutenção.

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O Projeto de Lei 488/21, do senador Fabiano Contarato (PT-ES), ficou conhecido como “Lei Padre Júlio Lancellotti”. No ano passado, o religioso viralizou nas redes sociais ao protagonizar cena em que tentava quebrar estacas pontiagudas de concreto instaladas pela Prefeitura de São Paulo sob um viaduto.

O veto havia sido publicado na quarta-feira (14). A Presidência da República disse em nota que a expressão “técnicas construtivas hostis”, empregada no projeto, poderia gerar insegurança jurídica, por se tratar de “terminologia que ainda se encontra em processo de consolidação para inserção no ordenamento jurídico”.

Contarato comemorou a inclusão do veto na pauta antes do prazo e afirmou que a lei tem preocupação humanitária. “O Estatuto das Cidades tem de ser inclusivo. Essas técnicas de utilização de vergalhões, correntes, instrumentos pontiagudos, têm o único objetivo de valorizar o patrimônio em detrimento do acolhimento da população em situação de rua”, disse.

Ele ressaltou que a pandemia aumentou o número das pessoas que moram na rua e elogiou o trabalho social do Padre Júlio Lancelotti. “É um verdadeiro humanista, aguerrido, que tem um olhar voltado aos marginalizados, aos que mais precisam”, disse.

O deputado Orlando Silva, que foi relator da proposta na Câmara, disse a lei é uma ferramenta contra o preconceito e o ódio aos pobres e às pessoas em situação de rua. “É muito importante que o poder público adote medidas para a humanização das cidades, adote medidas para o acolhimento dessas pessoas. Ninguém vive na rua por opção, por querer, são as circunstâncias que levam a isso”, disse.

Silva cobrou que os municípios revejam os planos diretores das cidades para romper com as construções agressivas à população mais vulnerável.

O líder do PT, deputado Reginaldo Lopes, afirmou que a proposta é um marco no acolhimento da população. “Os gestores públicos deveriam ter um diálogo e políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da nossa população em situação de rua e não ter métodos construtivos hostil a essa população”, disse.

Apenas o partido Novo votou a favor da manutenção do veto. A deputada Adriana Ventura afirmou que o texto tem boa intenção, mas fere a autonomia dos municípios. “Eu entendo a questão humanitária, mas desumano é o poder público não dar conta de cuidar da população de rua: dar barraca, cobertor e não dar moradia”, disse.

*Da Agência Câmara de Notícias

O presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou, nessa terça-feira, o projeto de Lei Padre Júlio Lancelotti, que proíbe a utilização da "arquitetura hostil" em intervenções urbanas e na construção de espaços públicos e para o bem comum. A prática consiste na construção de áreas com estruturas que expulsem ou impeçam a permanência de pessoas em situação de rua e com limitações na acessibilidade.

O nome da lei foi inspirado no padre paulista, que tem como marco em seu ativismo social a crítica à arquitetura hostil e ao higienismo social, além da proteção às pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Alguns exemplos da arquitetura hostil, que Padre Júlio enquadra como “aporofobia” - aversão à população pobre - são pinos de concreto em viadutos e praças, pregos em muros e paredes, ou mesmo disparadores de água.

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De autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES), o Projeto de Lei 488 de 2021 foi aprovado na Câmara dos Deputados em novembro. O resultado foi quase unânime entre os parlamentares, com exceção do Partido Novo, que foi contrário à proposta. O problema da arquitetura hostil ganhou maior visibilidade em 2021, quando Padre Júlio Lancellotti publicou um vídeo em suas redes sociais quebrando pedras instaladas pela prefeitura de São Paulo, embaixo de um viaduto.

A justificativa do presidente para o veto é que, após ouvir os ministérios, entendeu que a medida poderia causar uma interferência no planejamento da política urbana, "ao buscar definir as características e condições a serem observadas para a instalação física de equipamentos e mobiliários urbanos". Também afirma que o fim da arquitetura hostil poderia gerar insegurança jurídica, por se tratar de um conceito que ainda não é consolidado no ordenamento legal.

"O veto presidencial preserva a liberdade de governança da política urbana", diz nota divulgada pelo Planalto a respeito da decisão. O Congresso ainda pode derrubar o veto de Bolsonaro ao projeto de lei. Nas redes, Pe. Júlio repudiou o veto e disse que buscará formas de articular a derrubada da decisão.

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