A torcida do Sport esperava uma grande contratação. A diretoria prometia um jogador para ser buscado no aeroporto. O reforçou chegou, mas não foi carregado e seguido no carro de bombeiros, como especulado pelo otimista presidente Gustavo Dubeux. Porém, preenche todas as expectativas criadas. Na tarde desta sexta-feira, a sala de imprensa da Ilha do Retiro esteve lotada para primeira entrevista do lateral-direito Cicinho.
O diretor Aluísio Maluf, responsável pela palavra oficial do clube na apresentação, aproveitou para dispensar a apresentação. “Cicinho não precisa de explicações. Fazia parte do nosso sonho de consumo”, resume o sorridente gestor. Já o lateral-direito, que teve passagens pelo São Paulo, onde conquistou Libertadores e Mundial, que já foi galáctico do Real Madrid, e vestiu a camisa da Seleção Brasileira, adotou o discurso de recuperação e responsabilidade.
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Cicinho garante que não veio por dinheiro e muito menos para jogar em um clube “menor”. Pelo contrário, sabe da grandeza do Sport. “É o maior do Nordeste. Não existe isso de jogar aqui para sair para um time grande. Já estou em um clube grande”, afirma. Também garante que os problemas extracampo acabaram. “Sei da minha responsabilidade, sei que o nome pesa. Assumo tudo isso e quero retribuir dentro de campo. Gosto dessa cobrança”, diz o confiante e experiente jogador.
Aos 31 anos, Cicinho assinou contrato de um ano com o Sport. Sem privilégios, sem salário estratosférico. Tudo na política financeira do clube. A única regalia é uma cláusula de renovação. O rendimento será reavaliado depois de 60 dias e, quem sabe, o vínculo ampliado por duas ou três temporadas.
Confira a entrevista com Cicinho em tópicos:
Posição: lateral ou meia?
Eu fui contratado como lateral, mas também tive essa conversa com o treinador (sobre jogar no meio de campo) e com a comissão técnica. Me perguntaram e eu não encontro problema nenhum nisso. Estou aqui para fazer parte na equipe, que tem um comandante e precisa ser respaldado. Vou ajudar e quero ser ajudado. Minha vontade é de jogar de lateral, mas não descarto a possibilidade de fazer outra função.
Problemas extracampo: ainda existe motivação?
Primeiro a respeito do dinheiro. Quando sentamos para conversar, não foi criada nenhuma dificuldade. Não estou pensando em dinheiro, Deus foi feliz a respeito disso na minha vida. Também quero ressaltar que não trouxe minha esposa para comover os torcedores e diretoria. Mas, sim, porque ela me ajudou muito. Quero que ela faça parte dos momentos bons, assim como participou de momentos difíceis.
Nunca quis comover, falei apenas aquilo (entrevista para um site nacional) que vivi. Foi em 2010, quando não tinha mais vontade de jogar. De um ano e meio para cá consegui me livrar dos vícios, dos prazeres que a vida me dava. Tive problemas com bebidas, baladas, mulheres, cigarro. Com quase tudo. Mas nunca mexi com drogas, graças a Deus. Abri mão disso devido ao que vivi, hoje sou experiente, mas também quero aprender muito.
Sinto-me 100%, estou pronto para mostrar o meu melhor. Não levo como demérito jogar aqui. O Sport é time grande, o principal time do Nordeste. Não tem isso de que quero jogar aqui para ir para time grande. Tanto que existe possibilidade para jogar mais dois ou três anos, depende do meu desempenho.
Comissão técnica: o nome de Sylvinho fez a diferença na negociação?
Sylvinho faz parte da comissão e quando foi citado meu nome é óbvio que eles entraram em contato para saber sobre o jogador. Ligaram para o Luis Henrique (treinador da Roma, último clube de Cicinho) e ele deu as melhores informações possíveis. Ele foi fundamental passando a verdade.
Existem regalias? Tinham outras propostas?
Meu contrato é como o de qualquer outro jogador. Sem benefícios, sem regalias, sem nada de diferente. Tinha algumas propostas, sim, antes ser contratado pelo Sport. Até hoje estamos recebendo ligações perguntando se tem como voltar para Europa, já que a janela ainda está aberta.
Dinheiro não é algo que vai me iludir, mas não é o que coloco como princípio. Vale a confiança que o Sport depositou em mim. Então vou tentar fazer o máximo. Em 60 dias vamos sentar e conversar um novo contrato, mas isso se for da minha vontade ou do clube.
Quando estará pronto para jogar?
É difícil falar de condição física. Faz um mês que acabou a competição por lá. Mas tem uns dez ou 15 que venho dando uma manutenção. Sabia que existia essa possibilidade de retornar ao Brasil (a última partida de Cicinho foi em fevereiro).
Não gosto de colocar um prazo, pois acaba criando expectativa para si, para os jornalistas e torcedores. Mas até conversei com minha esposa e falei que seria bacana estrear contra o Corinthians (a partida seria dia 8 de julho, mas foi adiada).
Então, tem toda uma readaptação física e do modo de atuar. Prefiro que a comissão técnica veja o desenvolvimento e diga. Quero ficar pronto para jogar 90 minutos. 45 não vale, quero ajudar o tempo todo.
Ambições
Não é pelo fato de jogar no Nordeste que você não é visado. Lá na Europa tem vários canais passando competições de todos os campeonatos do Brasil. Aqui quero tentar resgatar aquele bom futebol que eu jogava.
E não adianta falar que coloco como objetivo a Seleção. Aí é falta de ética. Tem laterais excelentes desempenhando o papel lá. Primeiro tenho que conquistar espaço no clube, depois pensar em Seleção.
Liderança
Não vejo dessa maneira. Tem gente mais antiga e mais experiente. Mas posso falar que cheguei para ajudar e ser ajudado. Sei da minha responsabilidade. O nome pesa. Tenho várias conquistas, joguei em excelentes clubes e o Sport é mais um que faz parte da minha história no futebol. Assumo toda responsabilidade e vou retribuir dentro do campo. Gosto de cobrança, não vai me abalar o que você escrever.