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Cientistas anunciaram nesta quarta-feira (7) a adição de duas letras produzidas pelo homem ao código genético que forma o DNA, um feito inédito no mundo. Eles indicaram ter modificado uma bactéria para que ela incorporasse e replicasse dois ingredientes de DNA que não são encontrados na natureza. De acordo com eles, o experimento foi concebido para mostrar que o alfabeto do DNA, que existe há centenas de milhões de anos, pode ser expandido por intervenção humana. Este seria o primeiro passo de um caminho mais longo que pode levar à produção de remédios revolucionários e inovações na nanotecnologia.

O ácido desoxirribonucleico (DNA) é o conjunto de instruções hereditárias que geram e sustentam a vida. Situada no coração da célula, esta longa moléculao contém uma dupla hélice na forma de um zíper torcido. Seus "dentes" são formados por milhões das chamadas letras de pares de base, ou seja, elementos químicos que se ligam uns aos outros.

A adenina se une à timina para criar o par de base A-T, enquanto a citosina se liga à guanina para formar o par de base C-G. O novo trabalho, publicado na revista científica Nature, adiciona à dupla hélice um terceiro par de base, produzido pelo homem. No entanto, as inclusões só sobrevivem com ajuda externa e são removidas do genoma uma vez que esta sustentação é removida. "A vida na Terra, em toda a sua diversidade, é codificada por apenas dois pares de base de DNA, A-T e C-G", afirmou Floyd Romesberg, do Instituto de Pesquisas Scripps, em La Jolla, Califórnia. "O que produzimos é um organismo que, de forma estável, compreende aqueles dois, mais um terceiro par de bases não natural", prosseguiu.

O novo par - Cientistas trabalharam por quase duas décadas para descobrir novas moléculas que servem como bases novas de DNA, com a finalidade de criar proteínas que nunca existiram antes. Mas a pesquisa traz muitos desafios.

O novo par de base teria que se ajustar comodamente ao longo de bases naturais do código do DNA e não interromper a replicação ou a transcrição, primeiro passo na criação de uma proteína. Durante esses processos, o "zíper" do DNA é aberto, segmentos dele são copiados para fornecer um modelo e o zíper volta a se fechar.

Outro problema é garantir que os pares de base inseridos não sejam atacados e removidos pelo mecanismo de reparo de DNA celular. No novo estudo, os cientistas fizeram uma peça circular de DNA denominado plasmídeo, que continha as combinações naturais A-T e C-G, assim como um bar de base artificial, denominado d5SICs e dNaM. O plasmídeo foi, então, inserido em uma bactéria comum, a "Escherichia coli".

Mas, então, outro problema veio à tona: como o par de base não existe na natureza, os tijolos moleculares para reproduzi-lo na célula também estão ausentes. Os cientistas encontraram a resposta ao adicionar estes tijolos à solução na qual a "E. coli" estava em suspensão. Eles também manipularam geneticamente a "E. coli" de forma que exalasse uma proteína de alga que, como um burro de carga, carregasse estes tijolos através da membrana celular.

O novo plasmídeo recém-criado se replicou suavemente e com poucas falhas - algo essencial para manter o DNA saudável -, e os pares de base artificiais não foram extirpados do código. O cientista Denis Malyshev reforçou que o processo foi controlado por dois mecanismos: os "tijolos" no fluido e o transportador da proteína. Sem eles, os novos pares de base saíram do DNA, deixando a bactéria funcionar normalmente com sua combinação A-T, C-G. Em outras palavras, pode não ser possível replicar o código artificial.

O próximo passo será levar as novas letras para o RNA (ácido ribonucleico), um derivado enxuto do DNA que ajuda a produzir proteínas. Em um comentário também publicado na Nature, os biólogos Ross Thyer e Jared Ellefson, da Universidade do Texas, em Austin, alertaram que os cientistas tinham que responder aos temores do público sobre a manipulação do DNA ou a criação de organismos artificiais. "Tentativas de expandir o alfabeto genético questionam a ideia da natureza universal do DNA e, potencialmente, despertam críticas sobre a prudência ao manipulá-lo", afirmaram.

Há muito tempo os cientistas acreditavam que o DNA diz às células como produzir proteínas. Mas a descoberta de um segundo código secreto de DNA, nesta quinta-feira, sugere que o corpo na verdade fala dois idiomas diferentes.

A descoberta, publicadas na revista Science, pode ter fortes implicações em como especialistas médicos usam os genomas dos pacientes para interpretar e diagnosticar doenças, afirmaram os pesquisadores.

O recém-descoberto código genético, encontrado no interior do ácido desoxirribonucleico, o material hereditário existente em quase todas as células do corpo, foi escrito bem acima do código de DNA que os cientistas já tinham decodificado. Ao invés de se concentrar nas proteínas, este DNA instrui as células sobre como os genes são controlados.

Sua descoberta significa que o DNA muda, ou que mutações que ocorrem com a idade ou em resposta a vírus podem fazer mais do que os cientistas pensavam anteriormente.

"Por mais de 40 anos, presumimos que as mudanças no DNA que afetam o código genético impactavam unicamente a forma como as proteínas são feitas", disse o principal autor do estudo, John Stamatoyannopoulos, professor associado de ciência do genoma e de medicina da Universidade de Washington. "Agora nós sabemos que esta suposição básica sobre a leitura do genoma humano está incompleta", afirmou.

"Muitas mudanças no DNA que parecem alterar a sequência das proteínas podem na verdade causar doenças interrompendo programas de controle genético ou inclusive ambos os mecanismos simultaneamente", prosseguiu.

Os cientistas já sabiam que o código genético usa um alfabeto de 64 letras denominado códons. Mas agora os pesquisadores descobriram que alguns desses códons têm dois significados. Denominados "duons", estes novos elementos da linguagem de DNA só têm um significado relacionado ao sequenciamento proteico e outro que é relacionado ao controle genético.

As últimas instruções "parecem estabilizar certas características benéficas das proteínas e de como são feitas", destacou o estudo. A descoberta foi feita como parte de uma colaboração internacional de grupos de pesquisa conhecidos como projeto Enciclopédia do Elementos de DNA ou ENCODE.

Ele é financiado pelo Instituto Nacional de Pesquisas do Genoma Humano com o objetivo de descobrir onde e como as direções de funções biológicas são armazenadas no genoma humano.

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