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Com ascensão definitiva de forças políticas que se autodenominam conservadoras, discursos ditos cristãos passaram a protagonizar debates acalorados no congresso nacional, ministérios e presidência da república. Mas será que os posicionamentos da classe política que se coloca como representante da comunidade cristã realmente convergem com as falas de Jesus Cristo, documentadas - conforme estimam teólogos e historiadores - cerca de 50 anos após sua morte em quatro evangelhos presentes no Novo Testamento? Quem realmente foi Jesus?

O teólogo e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e da Faculdade Frassineti do Recife (Fafire) Luiz Moura considera que Jesus foi homem, messias, libertário e profeta. “Esta última característica é da pessoa que entrega seu tempo e se posiciona no sentido de criticar o que existia de ruim. Por isso, os profetas eram perseguidos, martirizados e presos. A morte de Cristo foi causada por sua condição de profeta, fazendo críticas à religião da época, que andava de braços dados com o poder”, elucida Moura.

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O professor lembra ainda que, provavelmente, Jesus era muito diferente do homem branco de olhos azuis retratado pela arte sacra europeia. “Cristo foi pintado como uma espécie de general romano, mas a verdade é que ele era de etnia semita, que possuía característica pele ‘amorenada’. Hoje em dia, eles seriam associados aos povos árabes que conhecemos”, coloca.

Em contraposição às considerações bíblicas, historiadores buscam reconstituir a figura que vem sendo chamada de “Jesus histórico”. “Os evangelhos não são livros de história, mas de fé. Temos poucos elementos para identificar o Jesus histórico, mas sabemos que a sociedade em que ele viveu estava submetida à opressão romana. Cristo fez uma opção pelos oprimidos e pobres, se colocou como líder libertador da condição humana”, completa.

Quiz

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Resultados

Frase por frase, o frei Marcos Carvalho, coordenador da Pastoral de Rua, explica as afirmações de Jesus. Confira:

1.       Vende tudo o que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus. (Lc 18, 22)

Esta é a exigência que Jesus faz a quem deseja ganhar a vida eterna: despojar-se de tudo para seguir seus mandamento de amor ao próximo. Não se trata de condenar os bem materiais, mas de fazer bom uso destes bens para favorecer a quem deles não dispõe em uma sociedade marcada pela exploração e pela injusta. Jesus dá esta recomendação a um homem que possuía certo prestígio econômico e social, que já se orgulhava de cumprir todas os mandamentos, mas lhe faltava ainda a caridade que busca reparar as injustiças sofridas pelos mais pobres.

2.       Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. (Mt 10, 34)

Uma consequência de quem segue os ensinamentos de Jesus é enfrentar a oposição dos que praticam a injustiça. A paz que Jesus rejeita é a paz garantida pela opressão das armas e do autoritarismo – a chamada “pax romama” – que mascara as realidades de tirania e dominação. A espada significa a própria Palavra de Deus que Jesus traz, que penetra até dividir alma e espírito, junturas e medula... (cf. Hb 4,12). A espada, que jesus veio trazer, isto é, a Palavra de Deus, é parâmetro para julgar as intenções dos corações, assim como a luz dissipa a escuridão. Com Jesus não é possível ficar em cima do muro, “servir a dois senhores” (Mt 6, 24), é preciso tomar partido pela prática do amor, da justiça e da solidariedade.

3.       Está aqui quem é maior do que o templo. (Mt 12, 6)

Jesus pronuncia esta frase para rebater as críticas feitas pelos fariseus, religiosos que pregavam o cumprimento da lei pela lei, ao verem os discípulos de Jesus colherem alimento para comer em dia de sábado. Jesus tenta mostrar-lhes que a vida humana supera todo poderio, seja ele religioso, político e econômico, justamente porque na lógica de Jesus o poder é serviço, então as religiões, governos e mercados deveriam estar à serviço da vida. “Eu vim para que tenham vida, e tenham vida plena” (Jo 10, 10). O Templo de Jerusalém, símbolo da religiosidade judaica e local do encontro das pessoas com Deus, passou então a ser local de cumprir obrigações, deixando de cumprir as função de religar (donde vem religião) o ser humano a Deus. O templo, as igrejas, as religiões só encontram pleno sentido quando promovem a vida.

4.  Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo (Mt 6, 34).

Jesus propõe a confiança na providência divina, isto é, uma espera ativa em Deus. Não significa esperar que tudo “caia do céu”, mas, fazer sua parte sem sobrecarregar a vida de mais preocupações do que já existem. Quando vai visitar uma família conhecida Jesus reclama com a dona da casa porque ela se inquieta e se agita por muitas coisas. Preocupada em receber bem Jesus em sua casa, ela esquece de dar-lhe o principal, a atenção (Lc 10, 41). Jesus também não é contra o planejamento, ao contrário, elogia a prudência do engenheiro para construir uma edificação e do rei estrategista numa guerra que calculam o necessário para alcançarem seus objetivos (Lc 14, 28-33). Jesus propõe colocar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, a partir desse objetivo todas as coisas virão por acréscimo.

5.       Todos os que pegam a espada pela espada perecerão (Mt 26, 52)

A recomendação dada a Pedro de guardar sua espada, mesmo que para defender seu mestre que estava sendo preso, é parte do ensinamento de Jesus pela não-violência. Jesus ensina que a violência só gera violência. As armas não podem ser usadas com o pretexto de alcançar a paz, porque essa paz é falsa, não se sustenta, é a paz que Jesus rejeita (Mt 10, 34). A revolução provocada por Jesus não vem das armas, mas pretende chegar ao coração das pessoas e modificar seu modo de agir no mundo, porque a segurança é fruto da paz e a paz é fruto da justiça (Isaias 32, 17)

6.       As raposas tem tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Mt 8, 18)

Jesus alerta aqueles que querem seguir seus ensinamentos para se comprometerem com o estilo de vida que ele leva: de peregrino que não tem morada, que não tem onde reclinar a cabeça e contava com a ajuda das pessoas. Jesus não promete palácios, conforto e dinheiro aos seus seguidores. Ele nasceu pobre numa manjedoura, viveu sua infância e juventude no pequeno povoado de Nazaré, onde era conhecido como o filho do carpinteiro, e na sua missão não só prega como vive a partilha dos bens. Ser cristão nos dias de hoje significa também identificar-se com este Cristo que não tem moradia, que vive nas ruas, mas acredita e luta pela vida.

Respostas:

1) Krishna 2) Jesus 3) Jesus 4) Jesus 5) Jesus 6) Min. Damares Alves 7) Paulo Freire 8) Jesus 9) Jesus 10) Jesus 11) Jesus

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