Tópicos | Dia Nacional das Artes

Nesta quinta-feira (12) comemora-se o Dia Nacional das Artes, data que visa homenagear todas as manifestações artísticas em suas mais variadas formas, seja cinema, teatro, pinturas ou música. O reconhecimento surgiu por meio do decreto de Lei nº 82.385, de 5 de outubro de 1978 e também, pela Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978, responsáveis por regulamentar a profissão do artista.

Durante suas jornadas, o artista precisa lidar com inúmeros desafios, que vão desde a concepção de suas obras artísticas até a divulgação desses trabalhos. Na cidade de Guarulhos (SP) não é diferente,  a atriz Pamela Regina explica que o município sofre com a falta de políticas públicas para a cultura, uma vez que esta é uma necessidade e um direito do povo. “As ações realizadas pelo governo poucas vezes vão beneficiar de maneira gratuita a população”, lamenta. “Muitas vezes os artistas precisam se organizar de outras formas, para garantir que seus trabalhos sejam feitos e pagos e, ao mesmo tempo, fazer com que a população seja atendida”, complementa.

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Pamela iniciou sua carreira de atriz pelo desejo de vivenciar outras realidades, por querer estar próxima do público e abordar temas que não fariam sentido em uma palestra. Em seu percurso artístico, ela conta que um de seus aprendizados, foi a possibilidade de se colocar no lugar do outro para compreender uma determinada realidade. “Estamos em uma sociedade, agir de maneira coletiva é fundamental para que possamos continuar a existir como sociedade e cada vez mais de maneira igualitária”, destaca.

O educador, mestre em artes visuais, doutorando em artes visuais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e História da Arte pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Alexandre Gomes Vilas Boas ressalta que os desafios encarados pelo artista na cidade de Guarulhos são  semelhantes ao que ocorre em outras localidades do Brasil.

Segundo Vilas Boas, Guarulhos poderia ter uma forte estrutura de educação e cultura, mas a administração da Secretaria de Cultura da cidade deixa a desejar nesses pontos. “Quando digo isto, não me refiro, é claro, aos funcionários públicos sérios, comprometidos, que fazem esforços individuais para fazer com que as suas pastas funcionem para além da demagogia de secretários e prefeitos”, critica.

Embora possua bons profissionais em sua área de atuação, que são as artes visuais, Vilas Boas lembra que elas costumam ser interpretadas da maneira errada. De acordo com o educador, os políticos preferem investir em segmentos que agradam às massas. “Claro, me refiro aos politiqueiros. Não aos que têm projeto de governo, o que não é o caso do atual, que desconhece os artistas de Guarulhos.  Não sabe o que se passa nas periferias da cidade. Esse tipo de político só pensa em números”, conta.

Para Vilas Boas, esse tipo de atitude dificulta o trabalho dos artistas, uma vez que locais públicos começam a ser ocupados por interesses que não condizem com a sociedade e espaços que poderiam atender iniciativas de artistas populares, são voltados para o serviço de instituições privadas. “Penso que esse é um retrato quase que espelho do atual governo federal. Desprezam a cultura e a educação como nunca antes”, afirma.

Outro ponto destacado por Vilas Boas, é referente a lei de incentivo à cultura,  a Lei Rouanet, que teve sua ideia distorcida por muitas pessoas. O artista visual explica que embora a Lei possua suas falhas, ela também contribuiu de maneira positiva com diversos projetos. “A sociedade está disposta a entender e estudar sobre? Não, preferem repetir como zumbis que a lei é para artistas ficarem ricos”, lembra o professor.

Diante de toda a situação, Vilas Boas pontua que muitos artistas, para garantir seus empregos, se aliam a pautas que desfavorecem a cultura e apoiam a ditadura. “Já representei e represento a cidade com meu trabalho até fora do país. Mas, sempre, sem qualquer tipo de apoio público (e faço questão que seja assim). Odiaria ter meu nome vinculado a corruptos”, declara.

 A busca pelo reconhecimento

Segundo Vilas Boas, a busca pelo reconhecimento é um conceito que pode gerar inúmeras interpretações. “Penso que todo artista, quando mais jovem, corre o risco de se deixar seduzir por essa ideia. O reconhecimento é sedutor. É um objeto de desejo. Um fetiche”, define. Para o educador, a arte é conhecimento, que nem sempre será convertido em dinheiro.

Apesar do ser humano estar sempre tentado a permanecer em uma zona de conforto, o conhecimento, de acordo com Vilas Boas, gera dúvidas, questionamentos incômodos e mudanças de atitudes. O educador lembra que ao consumir arte, o indivíduo começa a refletir sobre o que acabou de ler, ouvir ou assistir. “Esse conhecimento te promove um reconhecer. Ou seja, você passa a ver algo que não via, revê e reconhece”, descreve.

Vilas Boas define que o reconhecimento pode ser a apreciação por parte da sociedade, pelo trabalho do artista. “As pessoas que compartilham contigo a realidade passam a refletir sobre o que você cria. Trocam, falam, aprendem, ensinam e criam também. Penso que esse seja o maior reconhecimento para alguém que cria. Possibilitar que a vida se transforme a partir do trabalho e assim por diante”, finaliza.

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