Pessoas feridas, confrontos com a Polícia, prisões e uma mobilização que ecoou internacionalmente. Após a reintegração de posse, na última terça-feira (17), no Cais José Estelita, a repercussão sobre o movimento Ocupe Estelita, contrário ao projeto Novo Recife, atingiu talvez seu ápice nas redes sociais e nos veículos midiáticos. Agora acampados sob o viaduto Capitão Temudo, os manifestantes mantêm-se com a determinação de impedir a construção das 12 torres residenciais e empresariais no local.
Representante do Consórcio Novo Recife, conjunto de empresas responsável pelo projeto que tem causado tanta polêmica na capital pernambucana, o engenheiro Eduardo Moura é um dos únicos integrantes das empreiteiras a falar sobre o caso. E falou, com exclusividade, ao LeiaJá, nessa quinta-feira (19), numa breve conversa por telefone. Na concepção do empresário, há muita desinformação por parte dos ocupantes e o momento serve para apresentar o projeto à sociedade.
##RECOMENDA##LeiaJá – São vários os pontos questionados pelos manifestantes acerca do projeto Novo Recife. A área pública é uma das principais preocupações; há um sentimento de que, mesmo se houver um parque aberto à população, apenas uma parcela de moradores do empreendimento poderá usufruir do local.
Eduardo Moura – Há pouco conhecimento sobre o projeto, as pessoas falam de forma equivocada e têm uma ótica distorcida. Recife terá o parque mais eclético, multifuncional da cidade, com quadras poliesportivas, um projeto urbanístico que agrega os moradores do Coque, São José e Cabanga. Haverá uma passarela do Coque até o parque, quiosques, academias da cidade, biblioteca pública. A ideia é se tornar um parque como a Jaqueira, onde não só os moradores das proximidades frequentam.
LJ – Mas há a queixa de que o projeto é um “culto ao carro”, com garagens de vários pavimentos nos edifícios. Em que o projeto contribui para a mobilidade da cidade?
EM – Nos residenciais, serão dois pavimentos de garagem e, nos edifícios empresariais, não lembro agora de cabeça, mas são mais ou menos cinco. Não é como em alguns projetos que constroem edifícios-garagem. A mobilidade é o grande problema das cidades e todo o nosso projeto foi levantado pensando a questão. O Novo Recife é localizado num ponto da cidade onde não há residência. Muita gente trabalha na Ilha do Leite, no Fórum, tem o Shopping RioMar, é uma área de intenso movimento profissional e as pessoas agora terão a opção de morar a poucos minutos do trabalho. Com isso, diminuímos o fluxo de veículos na Zona Sul e outras regiões da cidade. Além disso, tem o Metrô ali perto, as ciclovias da Avenida Norte e da Via Mangue que serão interligadas.
LJ – Com essas intervenções, como a retirada do viaduto do Forte das Cinco Pontas, vem à tona a necessidade de um estudo de impacto ambiental da área, elemento bastante criticado pelo Ocupe Estelita e por quem é contra o projeto. Há, de fato, uma avaliação de impacto ambiental da área?
EM – Muitas inverdades são faladas. Pela lei, todo projeto de um tamanho específico, que faz uso do solo da cidade, deve apresentar um Memorial de Impacto Ambiental, com relação ao transporte e ao entorno do projeto. O projeto tem esse Memorial e isso é uma inverdade (a informação de que não há o estudo).
LJ – E o leilão de venda do terreno? As pessoas afirmam enfaticamente que o leilão foi ilegal.
EM – As pessoas veem de forma errada, porque o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) não se pronunciou no tempo certo. O leilão foi realizado pela Caixa Econômica Federal, que ouviu vários personagens do projeto. Depois, o Iphan se posicionou e não se opôs ao empreendimento. No Ministério Público Federal, o processo foi julgado por três desembargadores e os três foram a favor. Depois, no pleno da Justiça Federal, de 15 desembargadores, um esteve ausente e os outros 14 foram unânimes a favor do projeto. Então, dizer que o leilão é ilegal é o maior absurdo do mundo, já que 17 desembargadores nacionais aprovaram o projeto.
LJ - Logo após o início das demolições, no mês passado, fizemos uma matéria com os moradores das três casas localizadas no terreno da antiga Rede Ferroviária. Até o momento, sabemos que ainda não foi fechado um acordo indenizatório com essas famílias. Há alguma dificuldade?
EM – Estamos chegando a um entendimento com essas pessoas para que possam sair dali. Ali onde existem as três casas, será parte do parque e também da via. Mas estamos dialogando e não vamos ter problema com isso, não.
LJ – A Prefeitura emitiu uma “Proposta de Procedimentos”, na qual se levanta a possibilidade de um redesenho do projeto. Por exemplo, se pedirem para reduzir o tamanho das torres, é possível? O Consórcio se mostra disposto a realizar, de fatos, mudanças?
EM – Depois que abrimos ao diálogo, qualquer mudança pode ser incorporada. Quando fazemos um prédio de 40 andares, ao invés de dois de 20, quando há essa verticalização, há menos uso do terreno. Da área total do terreno, é exigido que 35% sejam de ruas e áreas verdes. Nós cedemos um adicional e o projeto terá 45% de área para a cidade, quase metade do terreno cedido. Mas, sobre a altura dos edifícios, não acredito que seja uma coisa tão importante, tão fundamental em relação aos outros questionamentos.
LJ – Uma última pergunta, Eduardo. Vimos que funcionários estão no terreno e inclusive uma cerca foi levantada para isolar a área onde, anteriormente, os ocupantes estavam acampados. Já é previsto, portanto, o reinício das obras de demolição dos antigos armazéns?
EM – Não existe reinício das demolições. Toda preocupação é em relação à segurança do terreno para evitar uma tentativa de invasão. O terreno está na nossa posse e teve muitos muros derrubados. A demolição só será possível quando tiver a liberação dada pelo prefeito, o que será fruto do debate, dos ajustes vindos do diálogo. Com certeza, voltaremos ao curso normal das obras com o alvará de autorização para demolir os galpões autorizados.