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O mês de maio tem registrado os índices mais preocupantes relacionados à infecção e internação por Covid-19 em Pernambuco desde o início da pandemia. Com ocupação dos leitos de UTI acima dos 90% e uma nova alta que superlota as unidades de saúde no Agreste, o Estado chegou a um novo recorde na terceira semana de maio, tendo registrado 3.969 novos casos em 24h, no último dia 21. Apesar de, nos dias consecutivos, os registros terem ficado na casa dos dois mil casos, foi nesta sexta-feira (28) que houve a primeira queda significativa nas nofiticações diárias após semanas: 736 novos contaminados, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). Esse quadro compõe os quase 60.400 casos ativos da Covid, notificados pela SES-PE.

No total, são 15.657 mortos pela Covid-19 em Pernambuco. A fila de espera e internações em leitos de UTI também registraram novos recordes na última terça-feira (25). Eram 2.054 pacientes, sendo 1.686 internados e 357 na fila de espera. De acordo com a última atualização da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag-PE), ontem (27), eram 414 pacientes esperando por um leito, sendo 100 para a enfermaria e 314 para a UTI. No mesmo mês, em 2020, o Estado bateu recorde de 275 pessoas na fila de espera por um leito de UTI e, no dia 11 de maio, as autoridades sanitárias do Governo decretaram lockdown na capital, região metropolitana e cidades do interior e Agreste.

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Desde a quarta (26) até o próximo dia 6, as regiões administrativas de Pernambuco passam por um novo período de aplicação mais rígida das medidas restritivas, para tentar conter o avanço da Covid-19. As medidas mais severas são válidas para 65 municípios do Agreste, enquanto cidades do Sertão, Recife e RMR passam por normas mais brandas.

Para o médico infectologista e mestrando em Saúde Pública da Fiocruz, Bruno Ishigami, as atuais medidas restritivas têm se mostrado paliativas e pouco eficazes para conter o vírus em Pernambuco. O especialista que trabalha na linha de frente, atuando também no Hospital Oswaldo Cruz, emite alertas diariamente em suas redes sociais e, em entrevista ao LeiaJá, expõs suas preocupações enquanto profissional de saúde.

“Precisamos de medidas mais rígidas. Não vi grandes estudos sobre essa forma de restrição, que parte importante do Brasil tem adotado, que é restringir o funcionamento noturno e aos fins de semana. Claro que tem impacto, pois diminui a circulação das pessoas. Economicamente é ruim, porque acaba se prolongando por muito tempo medidas restritivas nocivas à economia. Os estudos que saem sobre isolamento social falam em lockdown mesmo, fechar tudo e deixar somente os serviços essenciais. Assim se consegue fazer uma restrição um pouco mais curta, mas com impacto populacional maior, onde se conseguiria diminuir a cadeia de transmissão do vírus”, pontua o médico.

Até a segunda semana de novembro de 2020, eram 9.380 casos ativos em Pernambuco, e desde então, não houve quedas significativas. Em 8 de janeiro deste ano, já eram mais de 23 mil. Um mês depois, chegavam a 30 mil. Durante todo o mês de abril, o número de pacientes com a doença em curso manteve uma média de 45 mil. Na primeira quinzena de maio, 50 mil, e agora, dez dias depois, mais de 60 mil casos.

Para Ishigami, fechar estabelecimentos, centros comerciais e áreas públicas compartilhadas de lazer à noite e aos fins de semana não é suficiente, pois durante a semana a população tem acesso a todos esses espaços, além de precisar conviver com o transporte público lotado diariamente.

“Defendo que as medidas atuais não têm sido suficientes. Desde fevereiro usamos essas medidas e desde fevereiro mantemos a taxa de ocupação de UTIs acima de 90%, com crescente na média móvel de casos. As medidas não conseguem conter os danos da pandemia no Estado de forma satisfatória. Ainda tem muita gente se contaminando e muita gente precisando de internação”, continua, no mesmo tópico.

O infectologista também chama a atenção para o recorde de risco de contaminação, registrado pelo diagrama de risco do Instituto para Redução de Riscos e Desastres em Pernambuco (IIRD). Segundo a organização, que atualizou o gráfico de sete dias na última terça (25), o Estado já ocupa a zona vermelha, que representa alto grau de infecção, há semanas.

Bruno também destaca que as informações sobre a Covid-19 em Pernambuco foram enviadas em relatório de sintomas para a iniciativa de pesquisa do Facebook em parceria com a universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Segundo as organizações, é possível prever piora nos internamentos com antecedência de aproximadamente 15 dias e no último boletim lançado o Estado bateu recorde de sintomas relatados. O especialista teme que essa fase vermelha ainda possa apresentar uma piora.

“Minha grande preocupação são as variantes novas. A partir do momento que a gente tem uma taxa de transmissão tão alta e uma pequena parcela da população vacinada, se favorece o surgimento de variantes, na teoria, resistentes à vacina. Como no Brasil a gente não tem uma análise genômica dos vírus circulantes de forma satisfatória, se surgir uma variante nova, a gente vai demorar muito a descobrir. Quanto mais vírus circulante, maior a multiplicação viral, maior a possibilidade de mutação e maior a possibilidade de variantes mais resistentes”, elucida Bruno Ishigami.

Já mapeando a presença de diversas variantes, o Brasil acompanha em maior evidência três variantes com casos confirmados em território nacional. São elas a P1, cujo primeiro caso aconteceu o Japão; a P4, registrada no interior de São Paulo; e uma nova cepa, mais letal e mais preocupante, conhecida como a variante indiana, que já possui oito casos ativos mapeados e confirmados pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (27).

Para o mestrando, também não tem sido possível confiar no ritmo de vacinação, que é lento no Estado. “Não dá para contar com a vacinação como a principal estratégia para conter a pandemia, pois vacinamos pouco. Pernambuco vacinou com as duas doses menos de 10% da população e isso não é suficiente”, comenta. Até a quinta (27), Pernambuco aplicou 2.656.224 doses da vacina contra a Covid-19, das quais 1.751.942 foram primeiras doses. Em relação à segunda dose, são 904.282 pessoas que já finalizaram a imunização necessária.

Quanto à chamada terceira onda de casos, divergente dentro da comunidade médica, Ishigami não se mostra adepto ao termo, pois acredita que ainda vivemos o primeiro momento da pandemia.

“Falar em terceira onda é um tanto polêmico. Observando a curva de casos e ocupação de leitos de UTI no Estado, nunca saímos da primeira onda. A gente deu uma diminuída no meio do ano passado, mas desde outubro os casos estão crescendo, assim como a ocupação de leitos. Aqui no Brasil não dá para falar em ondas, pois em momento algum conseguimos diminuir a quantidade de novos casos de forma significativa como foi na Europa”, completou.

Por último, o infectologista recomenda cuidado e seriedade ao considerar o assunto.  “Usem máscara de qualidade (PFF2), priorizem ambientes abertos e bem ventilados, evitem contato com pessoas que não são do seu convívio e só saiam de casa apenas para o que for essencial”, apela.

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