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Depois de fechar contrato de R$ 424 milhões com o governo da Bahia para construir um trecho do metrô de Salvador, a Camargo Corrêa Infra (CC Infra), do grupo Camargo Corrêa, virou alvo de ações judiciais que pedem o cancelamento da licitação. Nas últimas semanas, construtoras concorrentes e até pessoas de fora do processo entraram na Justiça para questionar a contratação. Eles argumentam que a Camargo teve informação privilegiada por ser controlada pelo mesmo acionista da CCR, que detém a concessão de um trecho do metrô de Salvador.

O consórcio - formado por CC Infra, Transformadores e Serviços de Energia das Américas (Tsea) e Engenharia Projeto Consultoria (EPC) - foi declarado vencedor da disputa no início do mês, após um processo conturbado. O trecho de 9,2 quilômetros (km) de extensão entrou numa disputa acirrada entre grandes empreiteiras do País, como a Queiroz Galvão e a Odebrecht.

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Ainda na esfera administrativa, as empresas questionaram a participação do consórcio da CC Infra durante o processo de licitação. A comissão julgadora chegou a desclassificar o consórcio por que um dos sócios (a Tsea) apresentou um balanço intermediário, o que foi classificado pela comissão como precário. Mas voltou atrás no início de maio e declarou o grupo vencedor.

Num momento de escassez de investimentos em infraestrutura, por causa da grave crise econômica do País, as construtoras estão disputando de forma acirrada qualquer tipo de obra. Além de descontos elevados, as grandes construtoras, envolvidas na Operação Lava Jato, passaram a enfrentar também a concorrência de uma série de empreiteiras menores.

Ação popular

Na semana passada o baiano Marcio Bacelar Pereira resolveu entrar com uma ação popular na 8.ª Vara da Fazenda Pública de Salvador. Movida contra a Companhia de Transportes do Estado da Bahia e a Camargo Corrêa Infra (CC Infra), a ação pede a anulação da habilitação do consórcio da Camargo no processo.

De acordo com o documento, o grupo Camargo Corrêa tem vínculo empresarial e econômico com a CCR Metrô Bahia e com a CC Infra. "Ou seja, controla tanto o grupo que administra o contrato de concessão do metrô de Salvador-Lauro de Freitas como a empresa líder que compõe o consórcio vencedor."

A ação popular também afirma que a CCR elaborou um anteprojeto para a licitação e que - conforme troca de e-mails constantes na documentação - a CC Infra teve acesso aos dados. Por isso, teria tido vantagem ao elaborar sua proposta, que saiu vencedora do certame. "Não pairam dúvidas de que o Consórcio CC Infra - Tsea - EPC, vencedor do certame, teve acesso prévio ao anteprojeto de engenharia por meio da CCR."

Além da ação popular, que ainda não foi julgada, Odebrecht, Queiroz Galvão e Serveng também recorreram à Justiça para questionar a decisão do governo da Bahia. Numa ação ajuizada em maio, a Odebrecht usou os mesmos argumentos da ação popular para pedir a anulação do resultado.

No pedido, a empreiteira argumenta que a própria comissão de licitação confirmou que a CCR tomou conhecimento prévio e anuiu com o anteprojeto. Segundo o pedido de mandado de segurança da Odebrecht, é injustificável a comissão julgadora ter aceitado novo documento (novo balanço), apresentado pelo consórcio vencedor com seu recurso administrativo, que culminou na reconsideração de sua inabilitação anterior.

Propostas. A Odebrecht ficou em quarto lugar, com uma proposta de R$ 551 milhões - quase 30% acima da proposta da CC Infra. A segunda melhor proposta ficou com a Queiroz Galvão, de R$ 429 milhões. A proposta da CC Infra foi 46% menor do que o valor estipulado no edital.

Segundo fonte, o governo da Bahia voltou a classificar a Camargo depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) declarou a Queiroz inidônea. Nesse caso, além de mandado de segurança contra a decisão, a empreiteira também fez uma denúncia no Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Contra todas as acusações, a CC Infra diz que as reclamações não procedem e que não teve informação privilegiada. "O Consórcio liderado pela Camargo Corrêa Infra não recebeu quaisquer informações privilegiadas para participar da licitação", disse a empresa, em nota.

Segundo ela, a autoria do anteprojeto de engenharia licitado é dos técnicos do governo da Bahia, conforme consta no próprio edital, sendo que o logotipo da CCR aparece por ela ter fornecido informações na qualidade de operadora dos trechos já construídos para garantir as mesmas especificações técnicas e continuidade da operação.

De acordo com a empresa, entre 2017 e 2018, a CCR, como operadora da Linha 1, poderia implementar o trecho 3 sem a realização de uma licitação pública e consultou empresas do setor para conduzir as obras. "Na ocasião, a CCR desenvolveu estudos próprios de forma independente. Esses estudos foram licitamente enviados à CC Infra (dentre outras empresas) e eram distintos em inúmeros pontos do anteprojeto efetivamente licitado, o que explica referida troca de e-mails."

Procurada, a Companhia de Transportes do Estado da Bahia informa desconhecer o teor das ações, mas que prestará as informações necessárias perante as autoridades competentes, dentro do prazo legal. Odebrecht, Queiroz Galvão e Serveng não quiseram comentar o assunto. A CCR afirmou que não é parte do processo e, portanto, não tem o que comentar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A comissão de sindicância criada pelo Senado para investigar a suspeita de combinação entre perguntas e respostas de depoentes e integrantes da CPI da Petrobras na Casa divulgou nesta sexta-feira (12) que "não houve nenhum indício de vazamento de informações privilegiadas, de documentos internos da CPI ou de minutas de questionamentos que seriam formulados aos depoentes". A apuração foi aberta no início do mês passado, após reportagem da revista VEJA ter revelado um vídeo no qual dirigentes da Petrobras combinariam o "gabarito" das investigações na CPI do Senado.

A investigação interna tinha por objetivo apurar se houve alguma conduta inadequada de servidores do Senado no âmbito da CPI. Em nota, o Senado informou que tomou uma série de providências durante a apuração que durou 37 dias e concluiu pelo "arquivamento" das investigações: "tomou 14 depoimentos, investigou as caixas-postais dos correios eletrônicos dos envolvidos, verificou o controle de acesso aos arquivos eletrônicos confidenciais, examinou os documentos utilizados como subsídio das reuniões da CPI e analisou os vídeos dos depoimentos, por diferentes câmeras, bem como o vídeo que originalmente fundamentou a denúncia".

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"Ao término das investigações, a comissão, composta por servidores com notável formação acadêmica e experiência profissional, contando com um doutor em Direito Penal, um mestre em Direito Processual e um especialista em Direito Constitucional, concluiu que não houve nenhum indício de vazamento de informações privilegiadas, de documentos internos da CPI ou de minutas de questionamentos que seriam formulados aos depoentes e manifestou-se pelo arquivamento do processo", conclui a nota.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que, entre os ouvidos pela comissão, estava o assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais Paulo Argenta e assessores dos senadores José Pimentel (PT-CE), relator da CPI e líder do governo no Congresso, e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

A Polícia Federal também investiga o caso, em um inquérito. A instituição já ouviu Bruno Ferreira, advogado da estatal que apareceu na gravação. A reportagem apurou que ele preferiu ficar em silêncio durante o depoimento. Na lista dos previstos a depor à PF estava o ex-chefe do escritório da Petrobras em Brasília José Eduardo Barrocas e o chefe do departamento jurídico da companhia na capital, Lenan Calderaro Filho.

Com R$ 122 milhões bloqueados pela Justiça, o empresário Eike Batista negou nesta quinta-feira (8) o uso de informação privilegiada para obter ganhos no mercado financeiro. Em nota, Eike informou que irá recorrer ao Tribunal Regional Federal da 2a. Região para revogar a liminar que sequestrou os bens.

Os recursos estão depositados no BTG Pactual. Na cifra bloqueada, o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, apurou que constam também R$ 4 milhões do empresário depositados no Citibank. Foi o banco que comunicou Eike do bloqueio determinado pela 3a. Vara Criminal do Rio de Janeiro.

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Em nota, os advogados do empresário disseram ainda que o juiz federal determinou a liberação dos demais valores bloqueados em outras instituições financeiras, "impedindo o excesso." Segundo uma fonte próxima ao empresário, o sequestro chegou a R$ 128 milhões. "Eike Batista mais uma vez nega a prática de qualquer irregularidade e irá apresentar recurso ao Tribunal Regional Federal da 2a. Região para revogar a liminar e cancelar o bloqueio efetivado", diz o comunicado assinado pelos advogados Ary Bergher, Sergio Bermudes e Darwin Corrêa.

O congelamento dos bens foi solicitado à Justiça pelo Ministério Público e se originou de um processo aberto após investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ter apontado supostos indícios da prática de "insider trading" (uso de informação privilegiada). Na mira estão negociações de ações supostamente irregulares, enquanto Eike estava à frente da petroleira OGX (rebatizada de Óleo e Gás Participações).

Desde 17 de abril, a Polícia Federal do Rio de Janeiro está investigando a possibilidade de Eike ter cometido os crimes de manipulação de mercado, lavagem de dinheiro e de uso de informações privilegiadas. O sequestro dos bens busca impedir que o empresário se desfaça de seu patrimônio antes que a Justiça determine o pagamento de credores e acionistas prejudicados.

Além de elos com políticos, a organização criminosa comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tinha sob suas ordens dois delegados da Polícia Federal e 30 policiais militares, que vazavam informações privilegiadas e driblavam até a ação da Força Nacional de Segurança, quando atuava na repressão a jogos ilícitos em Goiás e nos arredores de Brasília.

De acordo com investigações da Operação Monte Carlo, que levou o contraventor - acusado de comandar uma rede de jogos ilegais - à prisão em fevereiro, R$ 200 mil teria sido o valor pago por Carlinhos Cachoeira para contar com os serviços do delegado da Polícia Federal Fernando Antonio Heredia Byron Filho, também preso na operação.

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Byron integrava o time de interlocutores de Cachoeira que, como o senador Demóstenes Torres (Sem partido-GO), se comunicava com o contraventor por meio de aparelhos de rádio Nextel habilitados no exterior para tentar escapar de escutas telefônicas. Seu papel era garantir a exploração de máquinas de caça-níqueis, vazar e direcionar investigações, a pedido de Cachoeira, a quem se refere como "guerreiro velho". O contraventor o chamava de "doutor".

Em agosto do ano passado, Byron prestou contas de um serviço para o contraventor e aproveitou para pedir um adiantamento de dinheiro para pagar um apartamento. A conversa telefônica foi interceptada pela operação Monte Carlo. A outro delegado da PF preso na operação, Deuselino Valadares dos Santos, o preço pago por Cachoeira foi bem mais alto.

Conhecido na organização como "Neguinho", Deuselino Valadares foi cooptado quando chefiava a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Superintendência da Polícia Federal em Goiânia. Auditores fiscais atestaram enriquecimento do delegado, incompatível com os rendimentos declarados ao Fisco. Em 2011, ano em que foi afastado do cargo, Deuselino e sua mulher, Luanna Bastos Pires Valadares, teriam comprado à vista uma fazenda no município de Juarina, no Tocantins, por mais de R$ 1 milhão.

As investigações mostram que Carlinhos Cachoeira mantinha esquema de contatos políticos e com agentes da área de segurança, para garantir prosperidade aos seus negócios. Demóstenes Torres transitou nos dois grupos. Do esquema do contraventor também fariam parte seis delegados da Polícia Civil e 30 policiais militares.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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