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Os jesuítas dos Estados Unidos, que administram numerosas instituições de ensino, publicaram nesta segunda-feira (17) os nomes de dezenas de padres envolvidos em "acusações críveis" de pedofilia que remontam a 1950.

A lista com 89 nomes divulgada nesta segunda-feira se soma à publicada há algumas semanas por outros grupos da ordem, o que eleva a mais de 200 o número de padres envolvidos em supostos abusos.

A Companhia de Jesus, a ordem a qual pertence o Papa Francisco, segue assim os passos de numerosas dioceses dos Estados Unidos que abriram seus arquivos após a publicação, em agosto, do relatório estarrecedor sobre os abusos cometidos por padres na Pensilvânia.

Nesta segunda-feira, dois grupos regionais dos jesuítas - do Meio Oeste e Maryland - publicaram listas com 65 e 24 nomes de padres acusados de pedofilia, incluindo casos ocorridos há várias décadas.

Há dez dias, outros grupos regionais do centro-sul e do oeste dos EUA divulgaram listas com mais de 150 nomes. Alguns acusados integram as duas listas, pois atuaram em distintas dioceses. Todos os citados nas listas já deixaram a ordem. Parte dos envolvidos morreu e alguns foram condenados pela justiça.

"Hoje a Companhia de Jesus de Maryland publica os nomes dos jesuítas da nossa área e de outros grupos da região alvo de acusações críveis de abusos contra menores", declarou a sede local da congregação em um comunicado no qual pede perdão por uma série de supostos casos de abusos iniciados há quase 70 anos.

"Consideramos que a divulgação hoje da nossa vergonhosa história faz parte do nosso atual compromisso para prevenir a pedofilia", declarou a delegação de Maryland.

Em agosto, a promotoria da Pensilvânia publicou um devastador relatório sobre abusos sexuais especialmente sórdidos praticados durante décadas por mais de 300 padres, envolvendo cerca de mil menores durante sete décadas.

O venezuelano Arturo Sosa Abascal foi eleito nesta sexta-feira Superior Geral dos jesuítas, cargo popularmente conhecido como "Papa Negro", anunciou a ordem em um comunicado.

"A 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus escolheu o padre Arturo Sosa Abascal, da província da Venezuela, Superior Geral", afirma o comunicado da ordem, à qual também pertence o papa Francisco.

Sosa, 67 anos, sucede no cargo o espanhol Adolfo Nicolás, de quem era conselheiro geral e que renunciou ao posto no início de outubro.

Formado em Filosofia e com doutorado em Ciências Políticas, Sosa também atuava até agora como delegado para a Cúria e as casas e obras interprovinciais da Companhia de Jesus em Roma.

O novo superior dos jesuítas, que fala espanhol, italiano, inglês e compreende francês, tem uma longa trajetória na docência e pesquisa. Sosa publicou diversas obras, algumas delas sobre história e política venezuelana.

"Papa negro", "exército da sombra", os jesuítas, que têm o primeiro papa da História, têm uma reputação de contrastes, mas a escolha do nome do novo pontífice, Francisco, se refere a valores fundadores destes "servidores da Igreja", na linha de frente da defesa dos pobres. A Companhia de Jesus, fundada em 1540 pelo aristocrata basco e ex-militar Ignacio de Loyola, às vezes é descrita como um "exército da sombra", que controla o conjunto da Cúria romana e inclusive o sistema bancário americano.

"Os preconceitos e estereótipos sobre os jesuítas são tão válidos quanto os que dizem que as parisienses são carrancudas e antipáticas", ironiza o historiador católico italiano Alberto Melloni, consultado pela AFP. "É uma grande família na qual há de tudo, grandes conservadores e grandes reformadores, inclusive alguns fundadores da teologia da libertação", explicou. O apelido "papa negro" remonta à época em que o "superior general" dos jesuítas tinha se tornado tão poderoso que era percebido como o rival do pontífice de Roma.

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A ordem que Ignacio de Loyola levou seis anos para fazer o Papa reconhecê-la (em 1540), foi inclusive dissolvida por Clemente XIV, em 1773, antes de ressurgir 50 anos depois durante o pontificado de Pio VII. Henri Tincq, ex-vaticanista do jornal francês Le Monde, explicou esta quinta-feira na página slate.fr a "lenda negra" sobre esta ordem religiosa por, de um lado, a "disciplina jesuíta, a submissão a toda prova 'perinde ac cadaver' (como um cadáver), à lei do segredo, à obediência absoluta ao Papa, o papel dos jesuítas na erradicação das heresias protestantes e jansenistas, com o desejo de influenciar as elites burguesas" através da educação.

Mas, segundo os vaticanistas, os cardeais eleitores reunidos no conclave secreto não escolheram o argentino Jorge Bergoglio por pertencer à Companhia de Jesus, mas por suas qualidades do arcebispo-missionário sempre disposto a visitar as paróquias desfavorecidas às quais chega de metrô ou a pé, sendo capaz, inclusive, de lavar os pés dos dependentes químicos. "Não é como se tivesse havido um clube de cardeais jesuítas que o elegeu. Era o único jesuíta do conclave!", afirmou à AFP o sacerdote Louis Boisset, ironizando o poder superestimado atribuído à sua ordem religiosa, que conta com apenas 19.000 membros espalhados por 150 países.

O porta-voz do Vaticano, o sacerdote Federico Lombardi, também jesuíta, expressou sua surpresa: "Nós nos consideramos mais como subordinados do que como uma autoridade de governo (da Igreja), a vivi (a eleição de um jesuíta) como um chamado presente para colocar-se a serviço da Igreja Universal", comentou. Em 2005, o cardeal Bergoglio, apoiado na época pelo poderoso cardeal progressista de Milão Carlo Maria Martini, foi o principal rival do alemão Joseph Ratzinger, que viria a se tornar Bento XVI.

"É jesuíta por formação, demonstrou por exemplo um grande equilíbrio psicológico ontem à noite. Não estava nem mesmo especialmente emocionado, isso vem dessa espiritualidade que ensina a 'santa indiferença'", avaliou o historiador Melloni. O diretor da revista jesuíta de referência Civilta Cattolica, Antonio Spadaro, ressaltou a importância simbólica da eleição do novo Papa sob o nome de Francisco, em homenagem ao famoso santo, nascido em uma família rica e que se fez pobre entre os pobres.

A pobreza "está no coração da experiência dos jesuítas e (São) Francisco estava na raiz da vocação de Ignacio (de Loyola), que ficou impactado pela leitura de seus escritos, que foram o fundamento de sua conversão", destacou Spadaro. Ignacio de Loyola recuperou a fé quando foi ferido em 1521 na batalha de Pamplona. Ele lamentou depois ter sido na juventude "um homem consagrado às vaidades do mundo, cujo maior prazer eram os exercícios de atos marciais, com um grande e vão desejo de ser famoso".

Segundo o padre Spadaro, o Papa, que estará agora "à frente da Igreja Universal, terá uma visão do mundo inspirada pela vocação dos jesuítas, mas é a Companhia (de Jesus), a que está agora ao seu serviço".

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