Tópicos | Millôr

Millôr Fernandes (1923-2012) deixou uma legião de fãs e alguns discípulos, como o humorista Reinaldo Figueiredo, membro do Casseta & Planeta que, quando pequeno, se divertia lendo o autor na revista O Cruzeiro. "Aquilo dava vontade de sair desenhando e escrevendo", relembra. Depois, passou a acompanhar todos os passos do mestre na Pif Paf, no Pasquim, na Veja, etc. "Mais adulto, pensando nisso de novo é que entendi o motivo dessa minha reação de leitor infantojuvenil. É que aquelas páginas davam uma sensação de liberdade total e de que tudo é possível. Duas páginas onde podia acontecer muita coisa: artes gráficas, desenho, poesia, sátira política, fábulas, filosofia, teatro, crônica, paródias de estilos variados. Isso tudo me influenciou", explica.

Reinaldo está lançando A Arte de Zoar, uma coletânea de cartuns, e é um dos convidados da Festa Literária Internacional de Paraty que reúne, a partir desta quarta-feira, 30, até domingo, 02, no litoral fluminense, escritores de 15 nacionalidades e presta homenagem ao profissional de múltiplos talentos que foi Millôr, jornalista, humorista, artista gráfico, caricaturista, cartunista, escritor, dramaturgo, tradutor e colaborador do jornal O Estado de S.Paulo entre 1996 e 2000. Além de trazer o autor para o centro de debates, a homenagem motivou o lançamento e relançamento de mais de uma dezena de livros.

##RECOMENDA##

A conferência de abertura do festival será feita pelo crítico de arte Agnaldo Faria nesta quarta à noite. Na sequência, Reinaldo e Hubert, também do Casseta & Planeta, entrevistam o cartunista Jaguar. Na sexta, 01, Cássio Loredano, Claudius e Sérgio Augusto, colunista do jornal O Estado de S.Paulo, participam da mesa O Guru do Méier. Os encontros serão na Tenda do Autor. No sábado, 02, Reinaldo e Chico Caruso estarão na mesa O Estilo Millôr, na Casa de Cultura, que sediará a exposição Millôr, 90 Anos de Nós Mesmos, com fotos, cartazes e imagens que contam sua vida e trajetória profissional. E durante o evento circularão cinco edições do Daily Millor, jornal com textos e desenhos de nomes como Luis Fernando Verissimo e Antonio Prata.

"Millôr escreveu certa vez que aceitaria tudo, menos uma estátua. Então nós nos esforçamos para não erguer uma estátua de bronze e fazer uma homenagem calorosa, colorida", comenta o curador Paulo Werneck.

Entre os lançamentos, destaque Millôr 100 + 100: Desenhos e Frases, com material selecionado por Sérgio Augusto e Loredano no acervo do homenageado, que está sob a guarda do Instituto Moreira Salles. A obra será lançada na quinta, 31, na Casa IMS, que abrigará ainda uma mostra de desenhos de Millôr.

Pela Nova Fronteira, sairão o inédito Guia Millôr da História do Brasil: de Cabral a Lula e os infantis ABC do Millôr e Poesia Matemática, com novas ilustrações de Ana Terra e Ivan Zigg, respectivamente. Já a Companhia das Letras lança Tempo e Contratempo, primeiro título dele, publicado em 1949 com poemas, contos, crônicas, sátiras e piadas visuais que saíram na Pif Paf, e ainda Esta É a Verdadeira História do Paraíso, Essa Cara Não me É Estranha e Outros Poemas e The Cow Went to the Swamp - A Vaca Foi Pro Brejo - seu antimanual de tradução.

Mas Millôr foi, também, tradutor sério e a L&PM reúne, em Shakespeare Traduzido por Millôr Fernandes, seu trabalho com as peças Hamlet, Rei Lear, A Megera Domada e As Alegres Matronas de Windsor. A editora gaúcha manda para as livrarias a 16ª edição de Millôr Definitivo - A Bíblia do Caos, que está completando 20 anos e que traz 5.299 frases, e relança os livros de bolso Kaos, O Homem do Princípio ao Fim, Poemas e Hai-Kais. Por falar em haicais, sairá, pela Edições de Janeiro, Haicai do Brasil, organizada por Adriana Calcanhotto - Millôr é um dos 33 autores da obra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O jornalista, escritor e cartunista Millôr Fernandes, morto na última terça-feira aos 88 anos, foi cremado às 15 horas desta quinta-feira no Crematório da Santa Casa, no cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. A cerimônia foi restrita a amigos e familiares, que não informaram o destino das cinzas. Antes, vários artistas foram ao velório para se despedir de Millôr. Debilitado desde fevereiro de 2011, quando sofreu um acidente vascular cerebral, o escritor morreu em decorrência da falência múltipla dos órgãos.

"Se juntar os grandes frasistas europeus e bater em um liquidificador não dá meio copo de um Millôr", reverenciou o escritor e jornalista Ruy Castro. "Não havia um dia em que uma frase sua não iluminasse o que estivesse acontecendo de obscuro no Brasil e no mundo".

##RECOMENDA##

"A geração que fez `O Pasquim' não era humorista, era de pensadores com bom humor. Não vejo ninguém com estofo perto dele. Ele vai fazer falta à minha geração", afirmou Marcelo Madureira, um dos criadores do programa "Casseta & Planeta Urgente", da TV Globo. Seu colega Hubert ressaltou que Millôr "foi o sujeito que mais e melhor exerceu a liberdade de expressão". "Ele ensinou que o humor pode ser uma forma de ataque, mas nunca deve ser usado para humilhar ninguém", afirmou Ivan Fernandes, filho de Millôr, que deixou também uma filha, Paula, e um neto, Gabriel, além da mulher, Wanda.

O jornalista Hélio Fernandes, de 90 anos, irmão de Millôr, reforçou os elogios. "Ele vai reascender, assim como o Chico Anysio, a polêmica sobre as palavras gênio e insubstituível. Fui seu primeiro amigo e fã", contou. "É como perder Pelé, Garrincha e (o baterista) Wilson das Neves de uma só vez", comparou o cineasta Walter Salles. A jornalista Cora Rónai, que teve um relacionamento de 30 anos com o escritor, revelou o lado conquistador de Millôr. "Ele era um sedutor nato. Quando o conheci, havia um consórcio de mulheres atrás dele. Era impossível conhecê-lo e não se apaixonar", disse.

A atriz Marília Pêra lembrou o lado humano do cartunista e a ajuda que recebeu durante a ditadura militar. "Ele me apoiou publicamente quando isso era politicamente incorreto. Ele não tinha time de futebol, religião ou partido político, era um homem livre", afirmou. Os cartunistas Ziraldo e Chico Caruso, os atores Antonio Pitanga e Fernanda Torres e o cineasta Luiz Carlos Barreto também prestaram homenagens a Millôr.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando