Tópicos | O jumento sedutor

Ariano Suassuna, importante nome da cultura brasileira que faleceu na última quarta-feira (23), estava nos últimos 30 anos dedicado a um projeto literário, o último escrito em vida pelo escritor paraibano: o livro O jumento sedutor, em processo de edição pela José Olympio, mesma editora de grandes nomes da literatura brasileira como José Lins do Rego e Rachel Queiroz. 

Durante coletiva de imprensa realizada na casa de Ariano Suassuna em Casa Forte no começo do ano, o escritor deu detalhes do novo livro. "Sobre o romance, não tenho muita liberdade para falar. Mas eu posso dizer o que tenho dito: sempre fui meio preocupado, porque escrevo três gêneros literários principais, poesia, teatro e romance. Sou conhecido como dramaturgo, acho que mais por causa d’O Auto da Compadecida na televisão, menos como romancista, e como poeta sou inteiramente desconhecido. Tem gente que nem sabe que escrevo poesia”, argumentou Ariano naquela ocasião.

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Bastante perfeccionista, Suassuna queria fazer novas modificações na obra que chegou a ser entregue à editora, mas voltou para as mãos do escritor para mais revisões. “Nesse livro estou tentando colocar meu teatro, meu romance e minha poesia. Agora, é um livro trabalhoso, porque escrevo à mão e eu mesmo ilustro. Todas as páginas são ilustradas. Hoje mesmo eu passei a manhã trabalhando nele“, explicou Suassuna, com ar de orgulhoso com o novo ‘passatempo’. 

O LeiaJá conversou com Maria Amélia Mello, responsável pela José Olympio, que adiantou alguns detalhes sobre o lançamento desta obra. Segundo Maria Amélia, não há previsão de quando O jumento sedutor será lançado, mas ele está pronto e passará apenas por alguns ajustes feitos pelo próprio Ariano. “Este processo de edição vai levar um tempo. Vamos fazer tudo em acordo com a família, mas o mais importante foram as definições que ele deixou. Esta obra terá o tempo dela para ser lançada”, revela a responsável pela editora.

Lançamento da obra e envolvimento com Ariano

Perguntada sobre detalhes de O jumento sedutor, Maria Amélia foi categórica. “Não tenho autorização nem para divulgar algum trecho da obra nem para comentar sobre o livro. Mas essa definição não é por conta do falecimento de Ariano. Essa era uma decisão antiga e do próprio autor”, explica ela. Apenas amigos e familiares tiveram acesso a trechos da publicação, tais como Raimundo Carreto, que assinará a orelha do livro.

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De acordo com Maria Amélia Mello, Ariano Suassuna estava animadíssimo com o novo livro. “Foram muitos anos convivendo com este projeto, um livro grande e complexo de ser editado, diferente de uma obra comum. Não é uma coisa que será feita rapidamente. A gente fala de um autor importantíssimo e que será tratado como deve ser”, comenta a responsável pela editora.

A parceria com a José Olympio é antiga. Ao longo de toda a vida, Ariano Suassuna foi parceiro da casa de nomes como Rachel Queiroz e Ferreira Gullart. “É um espaço pronto para revelear projetos de talentos como Ariano Suassuna. A gente tem muito orgulho de tê-lo no nosso catálogo. A obra dele está toda editada em catálogo. Vamos honrar seu legado e torná-lo mais conhecido”, promete Maria Amélia, que trabalhava diretamente com Ariano desde 2002. 

 

 

A criação artística de Ariano Suassuna é, para o senso comum, quase um sinônimo da palavra teatro. Mas o escritor paraibano, que faleceu na última quarta-feira (23), também inspirou com seu legado literário o surgimento de obras exibidas através outras linguagens artísticas, a exemplo do cinema e da TV. Entre tantos casos, os exemplos mais conhecidos são O Auto da Compadecida e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, transformados em minisséries e em longas-metragens.

Na TV, suas obras ganharam adaptações pelas mãos de diretores como Luiz Fernando Carvalho e Guel Arraes. Em 2007, ano que Ariano Suassuna completou 80 anos, o diretor Luiz Carvalho homenageou o autor através da microssérie A Pedra do Reino, escrita com Luís Alberto de Abreu e Braulio e exibida em cinco capítulos na Globo. Participaram do elenco Irandhir Santos, Nill de Pádua e Mayana Neiva. Outro detalhe é que Carvalho incorporou à trama elementos de Torturas de um Coração e O Santo e a Porca, também peças de Suassuna. 

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Mas a relação do escritor paraíbano com a televisão já estava consolidada nesse período. Em 1994, a atriz Tereza Seiblitz interpretou Rosa Maranhão na peça Uma mulher vestida de sol, dirigida por Carvalho e exibida na Globo. Sob o comando de Guel Arraes, O Auto da Compadecida também foi adaptado para a TV e a minissérie - que contou com Selton Mello e Matheus Nachtergaele como protagonistas - teve bastante sucesso. No ano seguinte, os quatro capítulos que narram a trajetória de Chicó e João Grilo viraria filme.

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No entanto, a chegada de Suassuna ao cinema é antiga e data o ano de 1969, quando George Jonas assinou dirigiu A Compadecida, estrelado por Regina Duarte e Armando Bógus. Anos mais tarde, em 1987, outro filme que se inspirou na mesma obra foi Os Trapalhões no Auto da Compadecida (1987), de Roberto Santos.

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As adaptações para o teatro existem desde os anos 1950, através de nomes como Zbigniew Ziembinski (O Santo e a Porca), Antunes Filho (A Pedra do Reino), Ademar Guerra (O Auto da Compadecida) e Aderbal Freire-Filho (A Farsa da Boa Preguiça). Entre os espetáculos mais recentes, estão O Casamento Suspeitoso, com direção de Sérgio Ferrara, e As Conchambranças de Quaderna, de Inez Viana. 

Para 2014, Ariano Suassuna planejava lançar novo romance, O jumento sedutor, pela Editora José Olympio. O escritor chegou a declarar publicamente que era mais conhecido como dramaturgo, menos como romancista e pouquíssimo como poeta, e que para esta obra tentaria fundir estes três elementos. Será que virá um filme ou uma série nova por ai?

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