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A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, defendeu nesta quinta-feira, 18, em entrevista ao Broadcast Político, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, o debate amplo sobre o orçamento impositivo. De acordo com a ministra, a população precisa ser ouvida sobre o tema cuja discussão não deve ficar restrita ao Congresso e o Executivo. "No orçamento impositivo, o debate está em aberto e não pode ser feito só entre Congresso e Executivo", disse a ministra a jornalistas, logo após participar do programa Bom dia Ministro, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

De acordo com a ministra, a execução das emendas impositivas, caso aprovadas, resultará em perdas de recursos para outras áreas. "Imposição em uma parte do orçamento, para executar, terá que cortar de outras áreas", disse Ideli. "A população precisa saber precisamente aquilo que ela não vai ter de impositivo para que as emendas impositivas possam ser executadas".

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Perguntada também sobre como o governo lida com a possibilidade de novas desonerações de setores por meio de emendas às Medidas Provisórias, no Congresso, a ministra explicou que o governo tem compromisso com a responsabilidade fiscal. "O compromisso com a responsabilidade fiscal é quase uma cláusula pétrea para a gente se dar bem no enfrentamento da crise internacional. Responsabilidade fiscal em primeiro lugar".

CPMF

No programa Bom dia Ministro, Ideli afirmou que foi"quase criminoso" o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), ocorrido em 2007. Foi uma pena, eu diria que foi quase criminoso você ter retirado da saúde o recurso advindo da CPMF. Quando ela acabou, tivemos um corte significativo na saúde, de bilhões, que estavam vinculados", disse a ministra.

Para ela, a falta de financiamento é agravada por problemas de gestão e pela "roubalheira" no sistema de saúde. "Mas nós temos um problema de gestão também. Tem roubalheira no sistema de saúde, desvio de recurso, tem aplicação não adequada", afirmou. "Então vamos precisar trabalhar de forma muito articulada".

Segundo ela, com o programa Mais Médicos, a presidente Dilma Rousseff "não vai deixar nenhum município brasileiro sem médico". "E nós temos 700 municípios sem médico no Brasil". Ela defendeu a vinda de médicos estrangeiros para o País, mas ressaltou que isso só deve ocorrer, pelo programa, no caso das vagas não preenchidas por profissionais brasileiros. "Só se os médicos brasileiros não quiserem ocupar as vagas é que nós traremos médicos de fora", disse a ministra.

Ressaltou que uma das motivações do programa do governo federal para a área da saúde é a má distribuição de profissionais no País. Enquanto os grandes centros urbanos contam com um número de médicos compatível com o que estabelece a Organização Mundial da Saúde (OMS), as regiões da periferia e do interior do Brasil têm número insuficiente de médicos, segundo a ministra. Além do mais, há um descompasso entre a rede pública e a privada. "Na Bahia, o setor privado oferece 15 médicos para mil habitantes e o setor público oferece 1,2 médico por mil habitantes", justificou.

Defendeu ainda os dois anos a mais que os estudantes de medicina terão de cursar, pelo Mais Médicos. "São dois anos importantes, para que o médico tenha um estágio de aprendizado na atenção básica de saúde e na urgência e na emergência", disse. "Antes de se especializar, ele (o estudante de medicina) tem que entender a saúde como um todo". O programa Mais Médicos foi enviado pela presidente Dilma ao Congresso via Medida Provisória.

Marcha dos prefeitos

Para a ministras, as principais reivindicações que os prefeitos trouxeram à Marcha Nacional dos Prefeitos, que aconteceu em Brasília, foram atendidas. A ministra destacou que R$ 3 bilhões irão diretamente para o caixa dos municípios. "A presidente anunciou uma ajuda no total de R$ 3 bilhões, sendo a primeira parcela em agosto e a segunda, em abril (de 2014). É o equivalente financeiro ao 1% do Fundo Participação dos Municípios (FPM)", disse a ministra, no programa Bom Dia Ministro, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Além da ajuda de caixa dada pela presidente, a ministra alegou também que o total do anúncio superou R$ 20 bilhões. Entre os programas citados por Ideli, está a contratação de médicos, complementação de equipes médicas, reajuste do Programa de Atenção Básica e o "financiamento direto da saúde per capita". "Há também O Minha Casa, Minha Vida, creches, novas Unidades Básicas de Atendimento (UBAS). No total, são 20 bilhões anunciados pela presidente, sendo que 3 bilhões diretamente no caixa das prefeituras", concluiu a ministra.

A votação do projeto que estabelece orçamento impositivo para as emendas individuais, considerada uma das principais reivindicações dos parlamentares, foi adiada nesta terça-feira para a primeira semana de agosto. Cada um dos 594 parlamentares tem o direito, atualmente, a R$ 12 milhões em emendas individuais. A comissão especial marcou a votação do relatório final do tema para o dia 6. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), comprometeu-se a votar o assunto em plenário no dia 7.

A proposta tem como principal adversário o governo. Isso ocorre porque a imposição do pagamento das emendas "engessa" ainda mais os recursos da administração federal. De acordo com integrantes da base aliada, uma fatia de 88,5% dos recursos previsto no Orçamento está atualmente "carimbada" - tem destinação obrigatória. A proposta estabelece que parcela de mais 1% dos recursos seja destinada às emendas dos congressistas.

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Durante a discussão da proposta no colegiado, apenas os integrantes da bancada do PT tentaram impedir a votação do texto. O projeto, após passar pela comissão, seguirá para o plenário da Casa. Um a um, os petistas revezaram-se no microfone criticando a medida, numa tentativa de obstruir a sessão.

"O governo não quer negociar o objeto dessa PEC (Proposta de Emenda à Constituição). O governo não quer negociar qualquer aspecto que torne as iniciativas dos parlamentares minimamente factíveis. Esta Casa está de quatro", criticou o deputado Esperidião Amim (PP-SC), diante da situação. "Somos aliados do governo e não subordinados", reclamou o deputado Giovani Queiroz (PDT-PA).

Durante o debate, Alves entrou na sala e sugeriu o adiamento da discussão, mas com previsão de a proposta ser votada no colegiado no dia 6 e no plenário da Câmara no dia seguinte, 7. "A questão das emendas está desmoralizada. A questão das emendas individuais serem impositivas não é favor de governo algum. É respeito a este Parlamento", disse.

A aprovação da proposta é uma das principais promessas da campanha do presidente da Câmara durante a disputa pelo comando da Casa, em fevereiro. Ciente da resistência dos integrantes da bancada do PT, Alves disse que o partido "sabe que terá de aprovar" a matéria. "Eu sei que o PT está enfrentando dificuldades. Sabe que é bom aprovar. Sabe que terá de aprovar. Sabe que não terá como não aprovar, pois sabe tanto quanto todos nós que é um direito nosso", afirmou.

Apesar de a maioria dos parlamentares da comissão declarar apoio ao adiamento proposto por Alves, o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE) se disse surpreendido com a medida, uma vez que a ideia do PMDB era votar o projeto na comissão ainda nesta terça-feira. "A bancada do PMDB é solidária com o senhor, como foi em todos os momentos. Mas a bancada se sente diminuída porque, até duas horas atrás, quando entrei em contato com o senhor e com a bancada, me autorizaram a dar sequencia a essa votação. Em alguns momentos, até entrei em desgaste com alguns companheiros, no intuito de fazer valer a determinação da bancada", queixou-se.

O uso pelo governo do Orçamento Geral da União como instrumento de barganha junto ao Congresso pode estar com os dias contados. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta quarta um conjunto de 16 emendas à Constituição que transformam o Orçamento em impositivo. Ou seja, o governo passará a ser obrigado a executar o Orçamento exatamente como aprovado pelos parlamentares.

Aprovada simbolicamente com os votos de deputados de todos os partidos, à exceção do PT, a proposta impede o Executivo de bloquear verbas colocadas no Orçamento por emendas individuais de deputados e senadores. Atualmente, o Palácio do Planalto libera as emendas de parlamentares a seu bel-prazer, usando como critério o grau de fidelidade ao governo. O relatório favorável ao orçamento impositivo foi feito pelo deputado Paulo Maluf (PP-SP). O governo é contra a proposta e vai trabalhar agora para aprovar um texto "palatável" na Comissão Especial. O relator deverá ser um deputado peemedebista.

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"Hoje, o Orçamento coloca o Parlamento em subordinação total ao Executivo", reclamou o deputado Marcos Rogério (PST-RO). A votação da proposta dividiu o PT: sete deputados marcaram posição do governo votando contra a admissibilidade das emendas constitucionais. O deputado José Genoino (PT-SP) fez um voto em separado, afirmando que a proposta atrofia as relações entre o Executivo e o Legislativo. Já o ex-ministro Ricardo Berzoini (PT-SP) posicionou-se a favor das emendas, apesar de reconhecer que os textos não são os ideais. "Temos de sair do debate rasteiro sobre emendas individuais. O debate central é a execução orçamentária", afirmou.

Para aprovar a proposta, integrantes da oposição argumentaram que o atual modelo orçamentário prejudica não só o Legislativo como também os municípios. Segundo dados apresentados pelo deputado Felipe Maia (DEM-RN), dos R$ 20 bilhões de emendas ao Orçamento de 2012, apenas R$ 5,7 bilhões foram empenhados até agora. "O Orçamento, que é muito debatido, transforma-se em uma peça fictícia. As emendas se transformam apenas em números no papel, não são respeitadas", disse Maia.

Com a admissibilidade aprovada na CCJ, a proposta agora será apreciada por uma comissão especial, que será criada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). A votação do Orçamento impositivo foi uma das promessas feitas por Henrique durante sua campanha à presidência da Câmara. A proposta tem, no entanto, um longo trajeto a percorrer até entrar em vigor. Depois de aprovado na Comissão Especial, o Orçamento impositivo terá de ser apreciado pelo plenário da Câmara e, mais tarde, pelo Senado.

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