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Choveu demais em Amaraji. O rio, com o estouro da barragem, logo engoliu a cidadezinha de pouco mais de 20 mil habitantes, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, e a casa de Fagner Guedes da Silva, então com 10 anos de idade, rompeu o silêncio da noite em gritaria e desespero. A mãe e os irmãos do menino saíram em busca de algum refúgio. Foi quando Fagner enxergou o colorido Companhia da Alegria. “Eu fui pular na cama elástica. Sempre ia escondido para o parquinho, quando não tinha ninguém olhando”, lembra Fagner, que aos 21 anos de idade, continua sobrevivendo da Companhia da Alegria, da qual se tornou funcionário, e se prepara para mais um Dia das Crianças como “parqueiro”. 

De acordo com Luciano Silva, proprietário da Companhia da Alegria, no entanto, a paixão de garotos como Fagner pelos parques de diversão itinerantes é cada vez mais rara. “De uns cinco anos para cá, acho que o movimento caiu uns 50%. As crianças agora procuram mais internet e videogame. O parque está um pouco esquecido”, lamenta. Há 13 anos no ramo, o “parqueiro” conta que começou com uma barraquinha de tiro ao alvo. “Vi muito menino crescer. Às vezes você chega numa cidade e reencontra as crianças já adultas. Comecei no ramo com apenas uma barraca de tiro ao alvo, mas veio dinheiro extra e resolvi investir num parque de diversões. Hoje em dia tem motinha, jipe, barca, piscina de bolinhas, entre outros brinquedos, mas não é sempre que a gente consegue sair no lucro”, comenta. 

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Fagner sempre sonhou em trabalhar em parques de diversão. (TV LeiaJá/Reprodução)

Apesar das dificuldades, Fagner não se queixa. “Depois da enchente, minha família recebeu outra casa da Prefeitura, mas eu decidi ir embora com um circo e a vida lá é difícil, a gente não arrumava nem o pão pra comer”, comenta. Aos 16 anos, trocou a vida de artista pela plantio do algodão, mudando-se para Goiás. Seu sonho de infância, contudo, nunca havia mudado. “Trabalhar num Parque de Diversão. Eu queria ter feito isso antes, mas Seu Luciano não permitia, enquanto não fizesse 18 anos. Eu continuei falando com ele e quando completei a idade, voltei”, diz, enquanto monta a cama elástica do parque, sua velha conhecida, no Fortim de Olinda. A noite está chegando e, com ela, as primeiras crianças. “Fico triste quando as crianças chegam para brincar e o parque não está pronto, isso é a alegria do pessoal”, justifica a pressa. 

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Na expectativa de faturar um pouco mais no mês das crianças, a Companhia, composta por Luciano, Fagner e mais dois funcionários, pretende passar pelo menos um mês na pracinha. As certezas, contudo, são poucas. “Sempre depende do movimento. Sexta, sábado e domingo a gente espera que rodem cerca de 2 mil crianças, mas se o público não estiver bom a gente vai ter que ir pra outro canto. Esse parque acaba sendo nossa segunda casa. Eu trago um trailer com cama e durmo por aqui”, explica Luciano Silva. Já os funcionários se acomodam nas barracas e brinquedos do parque. “Eu e Fagner dormimos na barca, mas o outro rapaz, às vezes, fica pelo tiro ao alvo”, comenta Wellington, funcionário do Parque. Além das dificuldades que passa, Wellington reclama ainda do preconceito que sofre por ser um profissional itinerante. “Onde a gente chega, as pessoas discriminam e julgam muito. Estamos aqui para trabalhar, mas somos chamados de bandidos, traficantes e coisas do tipo. O importante é que estaremos aqui de braços abertos recebendo a todos no Dia das Crianças”, garante.

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