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Um dia após o surfista de 21 anos Arthur Andrade ser mordido por um filhote de tubarão na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, na tarde dessa terça-feira (24), pesquisador alerta para crescente presença do animal no litoral pernambucano devido à omissão do poder público pernambucano. O ataque aconteceu quando o jovem resolveu dar um mergulho em frente ao hotel Grand Mercure Atlante Plaza e sentiu a mordida na mão direita.

De acordo com o surfista, a maré estava secando e a água estava na altura da cintura. "Eu vi uma movimentação na água, mas quando fui sair do mar, um filhote de tubarão mordeu a minha mão", disse Arthur. A vítima conta que quando saiu do mar não viu nenhum salva-vidas circulando pela área e resolveu ir direto para casa. 

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"Eu senti uma dor muito forte, é como se eu tivesse prendido a minha mão em uma porta com dente", lamentou o surfista. Ele relata que familiares o levaram ao hospital e foi feito o procedimento de lavagem do corte. "Tomei antibiótico, anti-inflamatório e vou tomar vacina antitetânica, mas depois do susto, estou bem", disse aliviado.

Em Pernambuco, a contagem de ataques de tubarão começou a ser feita pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), há 25 anos, quando os casos passaram a ser mais recorrentes. As estatísticas do órgão apontam que desde o ano de 1992, 61 pessoas já foram vítimas dos ataques no litoral pernambucano. Dessas, 24 não resistiram aos ferimentos e morreram.

 

Impasse

O engenheiro de pesca e presidente do Instituto Propesca, Bruno Pantoja, diz que o aumento da presença de tubarões no litoral de Pernambuco é uma anomalia ambiental causada pelas intervenções do homem no ambiente marítimo. Ele explica que o caso de Arthur não é isolado e relembra do mês de dezembro de 2016, quando alguns pescadores da praia de Boa Viagem capturaram filhotes de tubarão na maré ainda seca e o mostraram. 

"De uns anos pra cá a situação se tornou rotineira e perigosa para quem frequenta Boa Viagem, principalmente", disse o engenheiro. Para ele, uma série de fatores contribui para o alerta. Desmatamento, poluição e lançamento do esgoto sanitário no mar e destruição do mangue, além da construção do Porto de Suape, no litoral sul do estado, são as principais causas que atraem os animais ao litoral, segundo Bruno Pantoja. 

O presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), Clóvis Ramalho, discorda do pesquisador e diz não haver uma crescente dos ataques no litoral pernambucano. Ramalho disse não ter motivos para uma situação de pânico e informou que o caso do ataque ao surfista Arthur ainda será investigado. "Não há confirmação de que foi um filhote de tubarão que mordeu o jovem", falou. 

"A presença dos tubarões no litoral pernambucano data do século 20 e já é muito antiga. Fazemos um trabalho de vigilância todos os dias com o Corpo de Bombeiros, mas, além disso, também temos parcerias com o centro de pesquisa da UFPE para ampliar nosso monitoramento em nosso litoral", disse Ramalho. Ele acrescentou também que não há confirmações científicas de que a construção do Porto de Suape tenha contribuído para o aparecimento dos animais na orla da Região Metropolitana do Recife (RMR). "Isso é especulação", argumentou. 

Segurança na orla

O pesquisador Bruno Pantoja defende a instalação de uma tela de proteção ao longo da orla de Boa Viagem como medida efetiva em curto prazo para tentar sanar os ataques. "Elas são feitas com um material especial e fixadas no mar, a partir da faixa de areia, e submersas, impedindo que o tubarão ultrapasse a faixa de segurança", explicou. Bruno diz não haver perigo quanto a impactos ambientais no habitat marinho. "Os tubarões circulando depois dos arrecifes na RMR é que são as verdadeiras problemáticas ambientais". 

Em longo prazo, o engenheiro de pesca pede que sejam criadas políticas públicas de gestão ambiental para tratar a causa com mais seriedade. "Esses tubarões estão perto da gente por falta de alimento e não víamos isso 20 anos atrás. É o resultado da falta de legislações e de interesse político pela área ambiental', lamentou o pesquisador. 

Para o presidente do Cemit, a instalação das 'redes de proteção' são descartadas por várias medidas. "O impacto ambiental seria grande e a manutenção seria de alto custo pelo tamanho da orla. Estamos no habitat deles e temos de respeitar", afirmou. Ramalho acrescentou que a população tem que ter cuidado e os acidentes são inevitáveis. "Colocamos placas e alertamos, mas muitos ignoram", pontuou.

Segundo o assessor de comunicação dos bombeiros, o major Aldo Assis, são dez postos de salva-vidas desde o Pina até Jaboatão dos Guararapes. Ele afirma que os profissionais caminham pela orla e fazer intervenções nos banhistas. "Os incidentes têm diminuído não é por acaso. Em 2015, foram 52 mil intervenções e, em 2016, 108 mil abordagens", contou. 

O major Aldo disse ainda que averiguou o local onde o surfista foi atacado e nenhum comerciante das redondezas viu o incidente. "Cabe até ser questionado", alertou. Ele disse que há um posto de salva-vidas próximo ao local do ataque e muitas placas informando o perigo de entrar no mar naquela região. "O comportamento dos banhistas as vezes é relaxado", concluiu.

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A morte da turista Bruna Gobbi, de 18 anos, na última segunda-feira (22), está abrindo mais uma vez o debate para práticas eficazes no que diz respeito aos ataques de tubarão. Nesta sexta-feira (26), o navio Sinuelo (que realiza pesquisas) voltou ao mar exatamente sete meses depois de ter ficado parado por falta de recurso. 

O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) vai testar uma rede de 200 metros na praia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, no local onde são recorrentes os ataques de tubarão. De acordo com o pesquisador do comitê, Jonas Rodrigues, foram feitos dois testes com a malha. 

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O primeiro não foi eficaz, pois capturou fauna marinha. Já o segundo, quando a malha foi transformada para uma forma mais quadrada, foi aprovado pelo Cemit. “O processo está tramitando e esperando licenças ambientais”, disse o pesquisador. No entanto, não há prazo para a rede ser implantada. 

Já o Instituto Propesca defende uma tela de proteção resistente atendendo uma questão ambiental. Segundo o engenheiro de pesca, Bruno Pantoja, a projeto conta com uma boia eletromagnética que afasta os animais da parte estuárias, mais próximas dos banhistas. “A finalidade da tela de proteção é simplesmente impedir a passagem de animais (tubarões). Os outros (golfinhos, tartarugas) recuam”, relatou. 

O fundador da Associação das Vítimas de Ataques de Tubarão (Avituba), Charles Heitor, espera que alguma medida seja tomada de forma rápida para impedir outros casos triste como o da última vítima Bruna Gobbi. “Tem que fazer algo efetivo. Vai ficar sempre nessa de pesquisa, pesquisa e não vai haver solução nunca”, lamentou.

Ainda de acordo com engenheiro de pesca, falta educação ambiental eficaz para orientar o banhista sobre os reais perigos do banho de mar em áreas de risco: 

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Na próxima segunda-feira (29), vai ao ar o Opinião Brasil, da TV LeiaJá, que reuniu os especilaistas para um debate sobre o ataque à turista Bruna Gobbi e as soluções para que o incidente não se repita.

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