Tópicos | República de Alagoas

No xadrez político de Alagoas, o futuro dos grupos de Arthur Lira (Progressistas) e Renan Calheiros (MDB) vai se cruzar novamente em 2022. O governador Renan Filho quer disputar o Senado e terá de se licenciar do cargo seis meses antes da eleição.

Como o ex-vice-governador Luciano Barbosa (MDB) se afastou para ser prefeito de Arapiraca, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Victor (Solidariedade), é o primeiro na linha sucessória. Mas o deputado estadual é aliado de Lira. Dessa forma, a máquina pública do Estado, influente nos 102 municípios, ficaria nas mãos do grupo rival.

##RECOMENDA##

É por isso que interessa aos Calheiros uma aproximação com os Lira. "O Palácio do Planalto fará qualquer lance para tirar forças de Renan e seu filho, inclusive cedendo mais apoio a Lira. Do ponto de vista nacional, o presidente da Câmara tem mais força e vai capitalizar isso para tentar conquistar o governo, mesmo sem ser ele o candidato", afirmou o cientista político Ranulfo Paranhos, professor da Universidade Federal de Alagoas.

Nos últimos anos, uma terceira força emergiu no Estado e busca furar essa polarização. Trata-se da aliança do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB), o JHC, com o senador Rodrigo Cunha (PSDB). JHC apoiou a eleição de Lira para a presidência da Câmara, contrariando seu partido, e tem se aliado a Bolsonaro. Cunha, por sua vez, é potencial candidato do PSDB ao governo de Alagoas.

Reforma

Em recente reforma do secretariado, Renan Filho acomodou forças políticas opositoras no governo, num sinal de que busca amplo apoio, já que ainda não escolheu o pré-candidato à sua sucessão. Oito secretários foram substituídos. Agora, fazem parte da administração alas rivais do clã Beltrão, a família do deputado Marx Beltrão (PSD).

Os Calheiros e os Lira já estiveram juntos na base dos governos Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. Em 2010, Renan e Benedito de Lira - pai do presidente da Câmara e prefeito de Barra de São Miguel - foram eleitos numa dobradinha para o Senado.

A campanha de 2014, no entanto, deixou fissuras nos dois grupos. Renan Filho disputou o governo contra Benedito de Lira. A vitória do filho do senador azedou de vez a relação com o deputado. Em 2018, Benedito não se reelegeu, perdendo a vaga para Cunha, e Renan ficou com a segunda cadeira. Naqueles embates, os líderes dos dois clãs trocaram ofensas até hoje lembradas.

Renan disse que Benedito de Lira ficara "velhaco". Um vídeo no qual Arthur Lira defende o pai e devolve o xingamento voltou a circular na semana passada. Na gravação, o deputado chama Renan de traidor. Nessa temporada de CPI da Covid, os sinais são confusos, mas há quem veja a possibilidade de uma trégua mais adiante. Até agora, porém, não é o que parece.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A eleição do líder do Centrão, deputado Arthur Lira (Progressistas), para a presidência da Câmara e a escolha do senador Renan Calheiros (MDB) como relator da CPI da Covid devolveram protagonismo à "República de Alagoas" no cenário nacional. Mais do que isso, transportaram para Brasília uma rivalidade que domina o Estado nos últimos anos.

À frente do Progressistas, a família de Lira desafia a cada eleição o domínio do clã Calheiros num dos Estados mais desiguais do País, famoso pelos destinos turísticos, mas que tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano e sofre para se reerguer economicamente.

##RECOMENDA##

Desde o governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992), o presidente que renunciou para não sofrer impeachment, Alagoas não figurava com tanto destaque nesse jogo do poder com reflexos não só no Congresso como no Palácio do Planalto. A força dos clãs Lira e Calheiros e a projeção do deputado e do senador se explicam pelo controle da máquina partidária do Progressistas e do MDB no Estado.

Agora, as rivalidades também estão expostas na CPI da Covid. Lira sempre discordou da abertura da comissão. Disse várias vezes que a investigação é inoportuna e serve mais à "briga política e ideológica". Para o presidente da Câmara, a CPI não terá efeito imediato, interpretação oposta à de Renan, que vê o governo cada vez mais pressionado a agir. Na lista das divergências, outro destaque: Lira apoia o presidente Jair Bolsonaro, enquanto Renan é aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro e Lula prometem se enfrentar na disputa de 2022. Mas onde estarão os dois alagoanos? "Desde 2014, tenho tentado fazer aliança com Arthur Lira. Ele que não quer. Eu sempre quis que a gente subisse junto no palanque", disse o relator da CPI ao Estadão.

Feijoada. No 1º de Maio, um sábado, os dois demonstraram descontração num almoço oferecido pela senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO), em Brasília. A feijoada preparada por Moisés, marido de Kátia, animou o encontro e serviu para Renan se aproximar do antigo adversário.

"Eu disse ao Arthur Lira que, no fundo, fiquei orgulhoso com a vitória dele. Torci pelo Baleia, mas a vitória do Lira é significativa. Foi a vitória da política", afirmou Renan. "Sei o que é uma pessoa de Alagoas se tornar presidente da Câmara", afirmou ele, que foi presidente do Senado por três períodos e pretende disputar mais uma vez o cargo, em 2023. Em fevereiro deste ano, o MDB de Renan ficou contra Lira e apoiou a candidatura de Baleia Rossi (SP).

Naquele Dia do Trabalho, o almoço na casa de Kátia reuniu também o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, o procurador-geral da República, Augusto Aras, e os ministros do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas e Vital do Rêgo Filho, além do ex-presidente do TCU José Múcio Monteiro.

A conversa tratou de CPI, economia, China e vacina, entre outros temas. A sucessão de erros cometidos por Bolsonaro também se fez presente. "Falamos sobre tudo", resumiu Renan. "Eles acham que eu sou terrorista, mas o Bin Laden lá é o Omar Aziz", afirmou o senador, rindo, numa alusão ao presidente da CPI. Questionado se Lira foi emissário de algum recado do Palácio do Planalto, o senador respondeu: "Absolutamente, ninguém me pediu nada". O deputado, por sua vez, tem dito que Bolsonaro nunca lhe solicitou ajuda para a articulação política da CPI. "Não sou senador", retruca ele, sempre que perguntado sobre o tema.

Viagem. Ao acompanhar, na sexta-feira, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, na entrega de casas populares em Junqueiro (AL), seu reduto eleitoral, Lira anunciou que Bolsonaro desembarcará em Maceió no próximo dia 13. Vinte e quatro horas antes, o presidente dava sinais de ter armas engatilhadas para fustigar Renan, prometendo investigar o filho dele, que é o atual governador de Alagoas.

O ataque ocorreu porque o senador destacou na CPI uma série de manifestações de Bolsonaro contrárias à vacinação. "As insinuações do presidente sobre Alagoas, sem apresentar fatos concretos, causam estranheza e soam mais como ameaça de retaliação à CPI", reagiu o governador Renan Filho. Seu pai foi na mesma direção. "O que mata é a pandemia, pela inação, inépcia, que, torço, não seja dele", disse o relator da CPI, numa referência a Bolsonaro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando