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Uma pesquisa mostra que 86% dos profissionais da voz apresentam algum problema vocal. O levantamento foi realizado pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Fonoaudiólogas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os sintomas mais frequentes são rouquidão e perda de voz, afetando vários trabalhadores como, por exemplo, os professores. 

A saúde vocal por vezes é negligenciada. Profissionais como cantores, vendedores, professores, operadores de telemarketing e outros acabam tendo a voz como ferramenta de trabalho. A falta de cuidado com ela pode resultar em diversos problemas, incluindo rouquidão, nódulos e edemas nas cordas vocais, disfonia crônica com alterações na qualidade do som produzido, e até mesmo perda de voz temporária ou permanente.

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Caso o profissional apresente algum sintoma, ou também queira fazer tratamento preventivo, deve-se procurar um fonoaudiólogo. “Existem algumas medidas que os profissionais que dependem de suas vozes podem adotar para a saúde vocal, como a hidratação regular, o descanso vocal, a realização de exercícios de aquecimento da voz, o uso de técnicas para a produção saudável do som, como a postura e respiração, além de evitar fatores de risco”, é o que aponta a fonoaudióloga da Clínica Três Marias, Dra. Taciana Amorim.

Neste ano, a campanha pelo Dia Mundial da Voz, celebrado nesta sexta-feira (16) e organizada pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, tem o tema "Sua Voz Diz Muito Sobre Você". A mensagem quer incentivar a conservação da voz como identidade e alertar para a preservação da fala, ainda mais em meio à pandemia.

O isolamento social fez com que inúmeros profissionais migrassem para os meios digitais e precisassem fazer maior uso da voz para se comunicar via aparelhos. Foi o caso da professora de canto Marisa Brito, 37 anos, que passou a dar aulas apenas no ambiente virtual e começou a sentir cansaço vocal.

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Marisa iniciou as performances musicais aos 15 anos e, por conta disso, sempre teve o hábito de cuidar da voz. Mas após sentir o desgaste da rotina virtual, a professora teve receio de a situação gerar um problema maior. "Decidi iniciar um tratamento fonoaudiológico para melhorar meu desempenho vocal não apenas como cantora, mas também como professora. Eu comecei a sentir que minha voz melhorou muito com novos exercícios e estímulos pontuais. O cansaço começou a desaparecer", afirma.

A professora de canto Marisa Brito | Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com a fonoaudióloga da Plenavox e especialista em voz e comunicação profissional, Marcia Menezes, após sentir qualquer sintoma de desgaste vocal, que pode levar a rouquidão, é importante que o paciente tenha um diagnóstico profissional com a intervenção específica que será aplicada e os exercícios direcionados. "Rouquidão é um sintoma de que alguma coisa não está funcionando bem", explica. Segundo a especialista, os tratamentos podem ou não envolver medicamentos, dependendo de cada situação. "Casos de rouquidão podem estar associados a tosse persistente, por conta de secreções, inchaço ou paralisia das pregas vocais por intubação prolongada", complementa.

É o que corre nos casos de pessoas que passaram pelo procedimento por conta da Covid-19. O processo de intubação tende a ser uma variante negativa para o desempenho da voz. Segundo a fonoaudióloga, o tubo respiratório passa entre as pregas vocais e pode causar algum tipo de irritação ou trauma. Marcia atende um paciente que precisou passar por intubação e conta que, mesmo após estar completamente curado da Covid-19, desenvolveu a sequela da rouquidão. "Alguns quadros evoluem por conta da fraqueza muscular e o dano geral do sistema, causados nesse processo", explica.

Para preservar a voz

Para preservar o bom desempenho da voz, a especialista Marcia indica a hidratação como um recurso que facilita a saúde vocal em todos os casos. A laringe bem lubrificada permite que as duas pregas vocais sofram menos atrito uma com a outra. Assim, todo o sistema funciona melhor.

Este é o caso da professora de inglês Kiara Arantes de Souza, 35 anos, que passou a seguir as orientações da fonoaudióloga para ter um melhor desempenho vocal nas aulas, que passaram a ser remotas por causa da pandemia. Durante as interações online acontecem problemas da conexão com a internet ou problemas de áudio, que exigem mais esforço do sistema vocal da professora. "Mas a prática de aquecimento vocal, junto a hidratação, me fizeram estar preparada para essas situações. Eu programo a cada três aulas fazer trinta minutos de pausa. É quando fico sem usar a voz, faço hidratação e me alimento", conta Kiara.

A professora de inglês Kiara Arantes de Souza | Foto: Arquivo Pessoal

A fonoaudióloga Marcia comenta que a passagem de ar e do alimento são dois sistemas muito próximos na região do pescoço. Por isso é necessário evitar o consumo de alimentos que possam agredir o estômago, como frituras, molhos, café e refeições com excesso de tempero para que a acidez estomacal não volte em forma de refluxo. Este problema digestivo ataca a mucosa da laringe, provoca a irritabilidade do sistema e causa a rouquidão.

A importância da voz em tempos de pandemia

O papel da voz no processo de socialização é essencial para aproximar as pessoas, segundo a fonoaudióloga Marcia. Mesmo em período de pandemia, a internet disponibiliza inúmeros recursos que ajudam a evitar o sedentarismo vocal. "As pessoas podem estar distantes fisicamente, mas se puderem estar conectadas via voz, vai aumentar a conexão entre elas. Isso ajuda a passar o dia, porque nós estamos vivendo assim, um dia de cada vez", diz.

Na análise da especialista, ao ficarem sozinhas, as pessoas tendem a entrar em um cansaço físico, emocional e social. Quando estão inseridas em atividades de interação, como reuniões e chamadas de vídeo, elas passam a ter um equilíbrio psicossocial melhor por conta da emoção, componente inserido na comunicação vocal. "A voz entrega o que as palavras escritas não conseguem dizer. No momento que a palavra ganha voz, ela permite uma infinidade de possibilidades de acesso e interpretação. Por isso ela é fundamental", finaliza.

Falar, explicar e às vezes gritar. Os professores trabalham bastante com a voz em dias de aula e acabam desgastando suas cordas vocais. E visando proporcionar saúde vocal para os professores, a Comissão de Educação e Cultura aprovou nessa semana as emendas do Senado ao Projeto de Lei 1128/03, do ex-deputado Carlos Abicalil, que autoriza o Executivo a criar o Programa Nacional de Saúde Vocal do Professor da Rede Pública. A deputada Fátima Bezerra (PT-RN) fez o pedido da aprovação.

De acordo com informações da Agência Câmara de Notícias, o programa realizará exames de prevenção odontológica, atendimento médico e fonoaudiológico para reabilitação vocal e treinamento semestral ministrado por médicos e fonoaudiólogos sobre saúde vocal e uso adequado da voz.

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Ainda segundo a agência, a deputada Fátima Bezerra frisou que problemas com a voz são causadores do afastamento dos professores do trabalho. Ela entende que a implantação do Programa de Saúde Vocal “poderá reduzir as despesas com as contratações de professores substitutos”, diz.

As comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) analisarão as emendas do Senado, porém, o projeto ainda vai passar pelo plenário.

Com informações da Agência Câmara de Notícias

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