Tópicos | Scherer

D. Claudio Hummes e d. Odilo Scherer, respectivamente cardeal-arcebispo emérito e atual cardeal-arcebispo de São Paulo, expressam opiniões diferentes sobre o pontificado de Francisco. Enquanto o primeiro derrama elogios ao velho amigo, Scherer adota um discurso mais contido, no qual seria preciso tempo para interpretar os discursos e as ações do papa argentino.

Hummes, porém, é muito próximo de Francisco. Em reuniões oficiais no Vaticano, como o último conclave, o cardeal brasileiro e o argentino d. Jorge Bergoglio sentavam-se lado a lado nos últimos anos. "Acabei me tornando um grande amigo dele. Ele já o disse (que são amigos), está dito", resumiu o brasileiro, em evento realizado no fim do mês passado no Colégio de São Bento, na região central de São Paulo.

##RECOMENDA##

A amizade de ambos foi demonstrada em gestos públicos importantes - quando Bergoglio foi apresentado como papa, em 13 de março, fez questão de que Hummes estivesse ao seu lado; o brasileiro teria sido o mentor do nome Francisco, aliás. E deve se manifestar em parcerias políticas - Hummes é cotado para assumir um posto estratégico na administração da Igreja, ainda neste segundo semestre, conforme anteciparam alguns vaticanistas.

De linha progressista, Hummes é admirador confesso de Bergoglio, desde antes de o argentino se tornar Francisco. "Ele pretende orientar a Igreja, certamente", afirmou o cardeal ao jornal O Estado de S.Paulo. Quando a reportagem o questionou sobre a possibilidade de mudanças em questões como divórcio, celibato e homossexualidade, Hummes disse que o papa deve trabalhar "em todas as grandes questões". "São temas difíceis e bastante discutidos. Ele não faz disso algo que não será tocado. Para Francisco não existem temas que não devam ser tocados. Ele quer uma Igreja aberta. Não existem temas proibidos."

Sucessor de Hummes na administração da Arquidiocese de São Paulo e conhecido por uma linha mais conservadora, d. Odilo Scherer, apontado como um dos favoritos a assumir o trono de Pedro no último conclave, é mais cauteloso - sobretudo ao compará-lo com Bento XVI. "É evidente que um não é o outro, e cada papa transmite para o pontificado aquela que é a marca de sua personalidade. Ainda é cedo para fazermos análises", afirmou ao Estado.

"O papa Francisco tem um jeito muito simples, mas muito direto. Está preocupado com a autenticidade, a genuinidade das coisas", avaliou Scherer, para quem Bergoglio tem agradado o povo brasileiro. "Ele vem conquistando a simpatia de todos e já entrou no coração dos brasileiros por seu jeito direto de se comunicar, mas ainda é preciso avaliar o peso que tem o ‘fator novidade’ nas análises", disse Scherer, mais uma vez ao adotar posicionamento cauteloso.

Pós-Francisco

Hummes, por outro lado, acredita que o novo papa devolveu aos católicos o ânimo de praticar a fé. "Agora, todos estão de cabeça erguida, confiantes de que o papa vai resolver os problemas que estão aí", disse. Para ilustrar a situação atual da Igreja, ele relembra a parábola do bom pastor, aquele que tem cem ovelhas e, quando uma se desgarra, corre atrás dela. "Atualmente, temos uma só em casa e ficamos cuidando dela. É preciso buscar as 99 que estão perdidas", disse.

Sobre a amizade com Francisco, Hummes relembrou a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida, em 2007. Na ocasião, ambos trabalharam na mesma comissão e tiveram de produzir o relatório final. "Foram quase três semanas de trabalho intenso, muitas vezes madrugada adentro."

Hummes avalia que os pronunciamentos do papa, que têm chamado tanto a atenção pela simplicidade e pelo conteúdo, são "óbvios" - dentro do que se espera como mensagem cristã. "Mas a capacidade que ele tem de passar essas mensagens de modo incisivo e a maneira como ele fala, com autoridade, resultam em eficiência na comunicação", analisou. "Ele é isso: um papa que não deve construir muros, mas pontes. Ponte até os pobres, ponte até a cultura de hoje, ponte até as outras religiões. Papa Francisco, jesuíta como é, acredita no diálogo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A partir de amanhã (03), os 115 cardeais que ainda não completaram 80 anos - e, portanto, podem votar no conclave que definirá o próximo líder da Igreja Católica, com previsão de início nos próximos dez dias - terão como uma de suas principais tarefas formar um seleto grupo de nomes aptos a ocupar o trono de Pedro. Não há candidatos oficiais a papa - demonstrar tal ambição e fazer campanha são tabus.

Um dos possíveis nomes é Angelo Scola, o arcebispo de Milão, a potência econômica da Itália. O italiano de 71 anos é especialista em bioética e nas relações entre cristãos e muçulmanos. É a aposta dos italianos, mas, como Bento XVI, é considerado mais um intelectual que um comunicador carismático.

##RECOMENDA##

Outro é d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, a maior diocese do país com o número mais expressivo de católicos no mundo. Aos 63 anos, é considerado o papável mais forte da América Latina. Visto no Brasil como conservador, no Vaticano seria encarado como moderado. Mas pode ser prejudicado pelo rápido crescimento das igrejas evangélicas no País.

A lista de papáveis que por ora são destacados inclui outro brasileiro: d. João Bráz de Aviz, arcebispo-emérito de Brasília e, desde 2011, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Aos 65 anos, apoia a Teologia da Libertação, mas não os excessos de alguns de seus defensores. É considerado um renovador no Vaticano, mas também um homem muito discreto, o que pode pesar contra sua eleição.

Ainda na América Latina, outro nome lembrado é o de Leonardo Sandri, argentino, mas filho de italianos. Entre 2000 e 2007, ocupou o terceiro cargo mais importante no Vaticano, o de chefe de Estado-Maior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando