Um dos jornais locais afirma que “sem grandes estrelas midiáticas ou convidados internacionais, o último dia da festa literária deve ser mais animado ao ar livre, já que o feriado é um bom convite para passear nas ruas de Olinda”. Comentário duplamente infeliz, pela futilidade, e porque certamente desinformado.
Não são nomes tão reverberados, verdade. Mas oportuno não seria exatamente informar aos leitores que lugares eles mantêm na cena literária, ainda que bem menos conhecidos que Derek Walcott ou Fernando Morais? Vou cometer a indelicadeza de citar apenas alguns palestrantes desta terça-feira na Fliporto, para não cansar o leitor:
Alice Ruiz, poeta duas vezes vencedora do Prêmio Jabuti;
Samuel León, argentino editor da Iluminuras, dos principais debatedores sobre mercado de livros no Brasil;
Frederico Barbosa, poeta e produtor cultural, um dos coordenadores da famosa Casa das Rosas, em São Paulo (ah, também já levou duas vezes o Jabuti);
Manuel da Costa Pinto, jornalista e crítico literário, fundador da revista CULT, colunista da Folha de São Paulo, editor do programa Entrelinhas da TV Cultura;
João Cézar de Castro e Rocha, respeitadíssimo crítico literário e professor, doutor pela Stanford, autor de diversos livros e organizador da obrigatória coletânea de ensaios Nenhum Brasil existe.
Maioria dessas informações está no site da Fliporto. Então, não se trata de desinformação quanto aos dados, mas sim de desconhecimento sobre a credibilidade que esses nomes carregam. Além de uma espantosa bola fora, pois a mídia tem sido alvo de críticas severas exatamente por banalizar a literatura, por tratá-la como se fosse outro enlatado, algum item para estante de supermercado, onde marketing se sobrepõe ao mérito.
Pensando além, coisa é ainda pior. Se, por outro lado, são frequentes os ataques à Fliporto, feitos por aqueles que veem nas festas, bienais e congressos algo que prejudica ainda mais a literatura, situação fica de uma pobreza notável nos dois lados do muro. Porque são posições radicais. Ou eventos não se salvam justamente por serem coisa menor, produto de mercado, ou são atrativos somente quando seu caráter mercadológico é reforçado.
Com todos os defeitos e virtudes, qualquer evento literário pode muito, porque faz pensar. A sétima edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco não escapará à regra, deixará várias reflexões. Não só pelas ideias que circularam em sua programação – das quais o debate envolvendo Samarone Lima, Fernando Morais e Leandro Narloch, sobre Cuba, é um exemplo paradigmático. O modo como intelectuais, mídia e leitores se relacionam com tais eventos também revela inúmeras questões que merecem atenção.
Defender aquela matéria do jornal é tarefa difícil, sem dúvida. No entanto, ela é também desses elementos que estimulam análises, discussões. Embora equivocada, não espocou do nada. Antes, ela reverbera modo como muitos encaram a literatura, inclusive nos meios de comunicação. Se não tem gente famosa falando, melhor o público passear, sentar-se ou balançar sob as árvores, nesse feriado que promete ser de sol... Não?