Mais Quartas Intenções – dicas de leitura da coluna Redor da Prosa! Esta semana, elas vêm direto dos EUA. O o professor, crítico e escritor Cristhiano Aguiar fez uma pausa ligeira nos estudos e nos mandou suas ótimas pedidas. Confiram:
O enteado, Juan Jose Saer. Falecido há poucos anos, Saer é considerado um dos mais importantes escritores argentinos e latino-americanos da safra pós-borges. O enteado foi uma das leituras que mais me impressionou nos últimos meses. Romance ambientado no século XVI, acompanhamos a história de um navegador espanhol que passa mais de dez anos vivendo com uma tribo de antropófagos da região do Rio da Prata. Mas não esperem nenhum tipo de “exotismo” ou mesmo um relato antropológico: em Saer, todos os elementos narrativos convergem para uma obcecada análise sobre o que constitui o próprio real. É como se os seus personagens entrassem em um transe místico; porém sem qualquer Deus.
Histórias fantásticas, Adolfo Bioy Casares. Esses argentinos são uns danados! Já que falamos em Argentina e Borges, não poderia deixar de divulgar a obra de Casares, um escritores que tenho lido com mais prazer nos últimos anos. Seus contos fantásticos têm sempre um quê de ficção científica, crônica de costumes e muita, muita ironia. Embora em nos contos seu parceiro de quase uma vida, Borges, tenha proposto desafios teóricos e “pós-modernos” à teoria cultural contemporânea (característica que não está presente em Casares), não sei, acho que que as histórias de Casares são mais “narrativas”. Há também uma representação aguçada do mal que me interssa em Casares.
Os invisíveis, Grant Morrison. Assim como meu xará Ramos, eu tenho um lado geek e não poderia deixar de citar alguma história em quadrinhos. O roteirista escocês Grant Morrison é um nome muito famoso no mainstream dos quadrinhos estadunidenses; nos anos 90, quando ainda não era tão famoso, ele criou uma série em quadrinhos chamada os Invisíveis, que misturava literatura beat, pulp fiction, sexo tântrico, conspirações, budismo pop, Marquês de Sade, Kula Shaker e Blur, H.P. Lovecraft, invasões alienígenas, viagens no tempo e anarquismo em histórias de aventuras com fortes referências literárias e psicodélicas.
Homens em tempos sombrios, Hannah Arendt. Esse livro, que me foi indicado por um amigo escritor, me acompanhou durante boa parte de 2011. Trata-se de ensaios biográficos que Hannah Arendt escreveu sobre Brecht, Benjamin, Rosa Luxemburgo, entre outros personagens que viveram momentos turbulentos no século XX. É uma aula de como compor um personagem. Veja o retrato vívido que Arendt faz de Brecht, por exemplo. É tocante perceber o quanto ela o admira como artista, mas essa admiração não a permite perdoá-lo por ele ter se aproximado do totalitarismo nascido na esquerda.