O diretor José Padilha, aclamado com o filme Tropa de Elite, explora no remake do cult dos anos 80 Robocop preocupações existenciais e políticas próprias da atualidade, como o lugar dos drones na sociedade civil. O filme, que já estreou em algumas regiões do mercado asiático com arrecadação de 5,5 milhões de dólares, chega aos cinemas dos Estados Unidos no dia 12 de fevereiro e estreia no Brasil no dia 21.
A ação começa em Detroit no ano de 2028, com um programa de televisão do apresentador de ultradireita Pat Novak (Samuel L. Jackson), um aliado da OmniCorp, a megacorporação comandada por Raymond Sellars (Michael Keaton) que fabrica robôs-soldados.
Ao contrário do filme original de Paul Verhoeven, de 1987, nesta versão o exército americano já utiliza os robôs da OmniCorp nos combates no Oriente Médio - apesar dos resultados colaterais às vezes indesejáveis -, mas o uso civil das máquinas está proibido nos "robofóbicos" Estados Unidos, em uma referência evidente à discussão atual sobre os drones.
Para satisfazer as inquietações do povo americano, Sellars encomenda a Dennett Norton (Gary Oldman), um cientista eticamente ambíguo, a produção de um policial com a precisão de um robô e as emoções de um ser humano: o resultado é o oficial Alex Murphy (Joel Kinnaman), gravemente ferido e que tem a cabeça amputada e transplantada a um androide.
Robôs na vida real: uma decisão em breve
"Estamos perto do momento em que os robôs substituirão os soldados. Já observamos drones no exterior", disse Padilha à imprensa em Beverly Hills. "Em breve, todos os países terão que decidir se permitirão o uso de robôs nas agências de segurança. Será necessário legislar sobre o que será permitido e o que não será. Vai acontecer", completou o cineasta carioca de 46 anos, que dirige o primeiro filme nos Estados Unidos.
"Ambientamos o filme em um momento no qual os Estados Unidos já decidiram que não permitirão robôs policiais. E como a corporação quer vender seus robôs deve buscar uma maneira de evitar a lei (...) e colocar um homem dentro da máquina". Em contraste com a versão de Verhoeven, o novo Robocop desperta com as memórias e emoções intactas. O objetivo é lutar para proteger a pouca humanidade que lhe resta e que esbarra no caminho de seu "dono", o imoral CEO da OmniCorp.
Kinnaman, um ator sueco de 34 anos e conhecido pelo papel do policial Stephen Holder na série The Killing, afirmou que atuar com o asfixiante traje de Robocop possibilitou ferramentas para encontrar o personagem. "Era extremamente incômodo. Me fazia suar como um porco. Depois de 20 minutos queria retirar o traje", disse. "Mas virou a semente que levou minha imaginação a entender a vulnerabilidade de Alex Murphy", completou o ator.
"O corpo dele é poderoso, mas ele fica muito incomodado. O traje que deveria ter feito com que me sentisse poderoso, no fim me deixava vulnerável". A vulnerabilidade termina despertando a simpatia de seu criador, o doutor Norton, que tem com Robocop "uma relação similar a de Frankenstein e seu monstro", afirmou Oldman.
"O monstro e o cientista desenvolvem um vínculo de pai e filho", disse o ator britânico, responsável por grande parte da carga emocional do filme.
Com menos cenas de ação do que os fãs do gênero estão acostumados, "Robocop" já começou a receber elogios.
O crítico Guy Lodge, da revista Variety, destacou: "Este remake é mais inteligente do que se esperava e repara boa parte do dano que o justiceiro de punho de aços sofreu por das estúpidas sequências e spin-offs".