Tópicos | 100 anos de Jorge Amado

Comemorado em 10 de agosto, o centenário de Jorge Amado inspira milhares de homenagens, tamanha é a riqueza de sua obra, responsável pela construção da identidade do povo brasileiro. Ao mesmo tempo em que se debruçava sobre a cultura popular, a riqueza descritiva de Jorge Amado o aproximava dos mestres acadêmicos, tendo integrado a Academia Brasileira de Letras nos anos 1960. O Portal  LeiaJá preparou, até a próxima sexta-feira (10), uma série de matérias sobre os desdobramentos da obra do autor para outras mídias. Na última quarta-feira (8), você conheceu as obras de Jorge Amado que ganharam versão no cinema.

Nesta quinta-feira (9), você confere as obras deste mestre, que inspiraram releituras para a televisão. As adaptações das obras de Amado renderam rostos, pele e cor aos personagens e  colaboram para a afirmação do baiano como um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos. O dinamismo da TV ajuda a imortalizar o brilhantismo deste autor e cria novas referências para o seu trabalho.

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A primeira obra de Jorge Amado a ganhar uma versão na TV chega, em 2012, à sua terceira edição na telinha. Gabriela, Cravo e Canela foi escrita pelo baiano em 1958 e já em 1961 ganhava novas formas, na extinta Rede Tupi, adaptada por Antônio Bulhões de Carvalho e dirigida por Maurício Sherman. Mais tarde, em 1975, foi a vez da Rede Globo interpretar o romance, consagrando a obra como uma das mais importantes da teledramaturgia brasileira. As cenas de Sônia Braga como Gabriela marcaram época: a moça desprendida, subindo no telhado para buscar uma pipa, faz parte da memória coletiva dos brasileiros. O apelo de Gabriela é tanto que a própria Globo exibe atualmente um remake da trama, onde a personagem principal é interpretada por Juliana Paes. Apesar dos anos passados entre a obra original e suas adaptações, o enredo ainda é provocante e consegue questionar padrões como sexualidade, submissão e moral.

Depois de Gabriela foi a vez de Terras do Sem Fim (1943) ganhar sua versão na telinha. Em 1981 a Globo exibiu uma interpretação da história, adaptada por Walter George Durst e dirigida por Herval Rossano. E quem não lembra de Tieta do Agreste (1977)? A novela Tieta foi ao ar, também pela Rede Globo, em 1989, dirigida pelo trio: Paulo Ubiratan, Reynaldo Boury e Luiz Fernando Carvalho. A personagem principal, interpretada por Beth Faria, carregava consigo a liberdade sexual - característica presente em muitas produções de Amado. A trama assume a marca de maior audiência das releituras do autor para a TV e até hoje, mais de 20 anos depois, garante sua presença na memória popular.

Outra campeã de audiência foi a releitura de Tocaia Grande (1984), que em 1995 ganhou uma versão na Rede Manchete, adaptada por Duca Rachid, Mário Teixeira, Marcos Lazzarine e Walter George Durst. A obra foi dirigida por Régis Cardoso e Walter Avancini. Já em 2001 a Globo se inspirou nos romances Mar Morto (1936) e A Descoberta da América Pelos Turcos (1994), para produzir Porto dos Milagres. A novela, dirigida por Aguinaldo Silva, questionava valores e escrúpulos.

Minisséries

Além das novelas, as obras de Jorge Amado também ganharam minisséries, versões menores e mais densas das histórias. Tenda dos Milagres (1969) foi a primeira, exibida em 1985, pela Globo, contou com adaptação de Aguinaldo Silva e Regina Braga e direção de Paulo Afonso Grisolli, Maurício Farias e Ignácio Coqueiro. O enredo contava a história do ogã Pedro Arcanjo (Nelson Xavier), que lutava em prol da resistência da cultura negra na Bahia. Depois foi a vez de Capitães de Areia (1937), que teve versão na Rede Bandeirantes, em 1989, dirigida por Walter Lima Júnior.

Em 1992 a Rede Globo exibia Tereza Batista, baseada em Tereza Batista Cansada de Guerra (1972), adaptada por Vicente Sesso e dirigida por Afonso Grisolli. Tereza (Patrícia França) era uma mulher que, ainda muito jovem, foi vendida por sua tia e teve que lutar para ser, finalmente, feliz. Mais tarde um dos maiores títulos de Amado, Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966), também teve seu espaço na TV. Em 1997 a Rede Globo exibiu a minissérie, com adaptação assinada por Dias Gomes e direção de Mauro Mendonça Filho. Dona Flor (Giulia Gam), após ficar de viúva de Vadinho (Edson Celulari), casa com Teodoro (Marco Nanini). Inconformado, Vadinho volta a aparecer, nu, para a viúva, que fica dividia entre os dois amores. 

Comemorado em 10 de agosto, o centenário de Jorge Amado inspira milhares de homenagens, tamanha é a riqueza de sua obra, responsável pela construção da identidade do povo brasileiro. Ao mesmo tempo que se debruçava sobre a cultura popular, a riqueza descritiva de Jorge Amado o aproximava dos mestres acadêmicos, tendo integrado a Academia Brasileira de Letras nos anos 1960. O Portal  LeiaJá preparou, até a próxima sexta-feira (10), uma série de matérias sobre os desdobramentos da obra do autor para outras mídias. Nesta quarta-feira (8), você confere a primeira delas, que aborda as adaptações do trabalho do escritor baiano para o cinema.

Com temáticas regionalistas que exploram o homem brasileiro espalhado nos mais distantes recantos de nosso país, as obras de Jorge Amado levam para o cinema características intrísecas: cores tipicamente brasileiras, festas, erotismo, aspectos sensoriais, tais como o cheiro e os sabores, tudo isso ambientado no cotidiano de personagens nordestinos de veias essencialmente tropicais. Amado é o escritor brasileiro com maior número de obras adaptadas para o audiovisual. Sua parceria com a sétima arte teve início em 1948, quando sua obra Terras sem fim ganhou as telas com a adaptação intitulada Terra Violenta, protagonizada por Anselmo Duarte.

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Visto por dez milhões de pessoas, Dona Flor e seus Dois Maridos foi dirigido por Bruno Barreto, em 1976, e teve Sônia Braga no papel da professora de culinária Dona Flor. José Wilker e Mauro Mendonça completaram o time, interpretando o fogoso ex-marido Vadinho, que ressuscita para apimentar a vida de Dona Flor, e o farmacêutico Dr. Teodoro, que se casa com a viúva, respectivamente. A situação deixa a mulher em dúvida sobre o que fazer com os dois maridos, que passam a dividir o seu leito. O filme ficou marcado como o segundo maior sucesso da história do cinema brasileiro por seu recorde de bilheteria, ficando atrás somente de Tropa de Elite 2, a partir de 2010.

Cenas de nudez e o caráter cômico fazem da adaptação um dos grandes fenômenos do cinema nacional, no que diz respeito ao reconhecimento da obra do escritor como fundador do imaginário brasileiro. Sônia Braga também foi responsável por eternizar a audácia feminina de Gabriela, adaptada da obra Gabriela, Cravo e Canela em 1983. Levando sensualidade e sabor para o Brasil, o segundo filme de Bruno Barreto baseado na obra do escritor é um clássico desdobramento amadiano, que também ganhou adaptação para a TV, em 1975. A narrativa é conduzida por duas principais vertentes: o campo amoroso - que tem o romance entre a mulata retirante Gabriela e o turco Nacib, vivido por ninguém menos que Marcelo Mastroianni - e o campo social-político, com a chegada do progresso na cidade de Ilhéus, interior da Bahia, onde a história é ambientada. Parte do sucesso da adaptação se deve à relação apimentada da protagonista com o comerciante turco e da imagem feminina criada por Sônia Braga para interpretar o papel.

Amigo e fã declarado da obra de Jorge Amado, Nelson Pereira dos Santos encabeçou Tenda dos Milagres (1977), que o levou à disputa pelo Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 1977. Dez anos depois, o cineasta filmou Jubiabá. Na história, Nelson deu vida ao romance literário entre uma rica filha de um comendador e Antonio Balduíno, negro órfão do morro do Capa-Negro, de Salvador, protegido pelo feiticeiro e macumbeiro centenário Jubiabá.

A vida dos Capitães da Areia ganhou versão cinematográfica o ano passado, com direção da neta do escritor, Cecília Amado. Foi a última obra de Jorge adaptada para o cinema. Cecília deu autenticidade à narrativa, evocando os problemas sociais da "quadrilha" de meninos de rua de Salvador por meio de uma fotografia rica e de adolescentes de ONGs da Bahia selecionados para interpretarem os Capitães da Areia. Antes do longa homônimo, Tieta do Agreste (1996), dirigido por Cacá Diegues, e Quincas Berro D'Água (2010), assinado por Fernando Machado, estrearam no Brasil como adaptações de novelas, que reproduziram as respectivas obras do baiano.

O "namoro" de Jorge Amado com a sétima arte não se restringia a filmografia de seus romances. Não foi à toa que o escritor participou do Festival da Cannes como membro do júri em 1985. Entretanto, coube a Bohumila S. de Araújo, Maria do Rosário Caetano e Myriam Fraga registrar a relação do escritor com o cinema, indo além das adaptações de seus livros. As autoras assinam a publicação Jorge Amado e a sétima arte, que tem lançamento na Fundação Casa de Jorge Amado, nesta sexta-feira (10), dia oficial do centenário. A obra traz depoimentos de cineastas, autores, roteiristas, diretores e atores, além da bibliografia e filmografia completas. Nomes como Calasans Neto, Sônia Braga, Walter da Silveira, João Carlos Sampaio, Guido Araújo, entre outros, assinam os textos do livro, que é uma mistura de trabalho acadêmico com livro de depoimentos.

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