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O Centro Cultural Cambinda Estrela realiza a 17ª edição do Acorda Povo pelas ruas do bairro de Chão de Estrelas em Recife. A tradição celebra o sincretismo religioso e cultural católico junto aos povos de matriz afroindigena de Pernambuco e festeja São João e o orixá Sàngó (Xangô). A festa é gratuita e acontecerá no dia 22 de junho, a partir das 16h com apresentação do Maracatu Cambinda Estrela, toque de de Sàngó e cortejo com muito coco de roda pelas ruas do bairro. 

O grupo Coco dos Pretos é o anfitrião da celebração e recebe Mestras e Mestres com o microfone aberto durante todo o percurso do cortejo. O Acorda Povo é o momento de agradecer à fartura e à colheita a São João, conhecido como ‘o santo festeiro’. Com o passar dos tempos, a manifestação foi se incorporando ao ciclo do orixá Sàngó, tradicionalmente louvado no mês de junho em Pernambuco. 

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A importância de festejar o Acorda Povo está na valorização da nossa rica identidade cultural, na preservação da memória tradicional e na salvaguarda das memórias das culturas católicas e do candomblé. É sempre uma oportunidade de concretizar o respeito mútuo entre os povos e suas tradições. 

 

RIfa, Doações e Coletividade

 

Toda festividade é realizada de forma voluntária pelos integrantes do Centro Cultural Cambinda Estrela. Para ajudar no custeio da festa, os organizadores estão promovendo a venda de uma rifa no valor de R$ 10,00, que ajudará no custeio dos materiais para ornamentar o andor e também no banquete de Sàngó (Xangô), que é servido para todo o público gratuitamente ao final do cortejo. Quem desejar também pode fazer doações com qualquer valor, por meio de pix para o número 81 98150.9354

Programação Completa

16h -  Rufar dos Tambores do Maracatu Nação Cambinda Estrela 

18h - Fogueira e Xirê (Louvação de Sàngó)

21h - Intervalo 

23h - Beguiri (Comida de Sàngó)

00h - Saída do Cortejo com muito Coco dos Pretos & Convidados

3h - Banquete de Sàngó

*Via assessoria de imprensa.

No Nordeste, o 'dono' da festa junina, São João, costuma receber homenagens durante os 30 dias do calendário. Porém, uma delas, o Acorda Povo, transcende a devoção dos fiéis e se transforma em uma grande celebração de fé e alegria. A 'procissão dançante' percorre algumas comunidades da Região Metropolitana do Recife e, em 2018, uma em especial, o Acorda Povo da Vila das Lavadeiras, o mais antigo da capital pernambucana, é um dos grandes homenageados deste São João. 

Tudo começou em 1941, quando Dona Dida e o marido, Seu Antônio Marques de Almeida, chegaram à comunidade, localizada no bairro de Areias, e acharam tudo muito quieto. O casal iniciou em sua casa o movimento que rapidamente, ganhou a simpatia dos vizinhos. Até hoje, com 77 anos de história, a manifestação fortemente ligada às tradições da religião Católica e, ao mesmo tempo, do Candomblé, não deixou de ir às ruas nem uma vez. 

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Naquela época, a pequena Aurelina Marques de Almeida, filha de Dona Dida, acompanhava a mãe em tudo que ela fazia, sobretudo no dia da festa: "Eu acompanhava o Acorda Povo e fui aprendendo com ela", relembra Aurelina, a Dona Nenzinha, que hoje, aos 85 anos, dá continuidade à tradição. Ela até tentou deixar a comunidade durante um tempo e, morando no bairro da Mustardinha, fez o cortejo lá, mas não vingou e o "homem", seu orixá de cabeça, Xangô, pediu para retornar ao lugar de origem: "O recado dele era pra eu voltar aqui pra Vila. Até agora não me arrependi não. O pessoal tem muita consideração com a gente", diz. 

Nenzinha fez como sua mãe e manteve toda a família na celebração em homenagem ao santo católico, sincretizado como o orixá Xangô no Candomblé. Além de seus quatro filhos, netos e bisnetos estão envolvidos no costume e a ajudam a colocar o cortejo na rua todos os anos. Clésiton José Genésio de Almeida, de 55 anos, o Késinho, filho de Nenzinha, tinha cerca de 10 anos quando a avó faleceu e partiu dele a vontade de que a tradição continuasse sob o comando de sua mãe.

Késinho ainda lembra do Acorda Povo comandado por Dona Dida: "O que eu achava mais bonito era o pessoal acordar de madrugada, abrir as portas, e o pessoal chegar na porta da minha avó pra participar, o rapaz que tocava chegava primeiro que todo mundo, pegava um bombo e já começava a bater, chamando o pessoal; e o meu avô soltando fogos". A relação afetiva da família falou mais forte e Dona Nenzinha decidiu tomar as rédeas do Acorda Povo. Ela garante que o cortejo continua fiel à suas tradições, tendo mudado quase nada desde o seu início. 

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O Acorda Povo da Vila das Lavadeiras sai da casa de Dona Nenzinha, após uma queima de fogos, pontualmente às 4h do dia 23 de junho, e vai percorrendo as ruas da comunidade. São feitas algumas paradas, nas casas de pessoas devotas do santo, para que sejam hasteadas as bandeiras. Nesse percurso, vão se juntando moradores, crianças e visitantes que, segundo Késinho, vêm de todos os lugares da cidade. Eles cantam ladainhas em homenagem a São João durante todo o trajeto. Na volta, cerca de duas horas depois, a chegada no mesmo ponto de partida se transforma em uma grande festa com muito samba de coco e mungunzá para todos.

E, apesar de ser dado como uma manifestação em extinção, a família Marques de Almeida garante que o Acorda Povo está mais vivo do que nunca: "A gente está mais próximo dele, todo ano a gente sabe que vai acontecer", diz Késinho. Dona Nenzinha concorda e com sua fala mansa e tranquila, explica o motivo da permanência do costume: "O compromisso é grande. E tem muito amor e fé, na verdade". 

 

Tradição viva

O pesquisador Mário Ribeiro concorda com Dona Nenzinha de Xangô. Ele coordena uma pesquisa sobre as Bandeiras de São João, como também são chamados os Acorda Povo, e garante que os grupos estão cada vez mais ativos em seus costumes: "Até o início da minha pesquisa eu também tinha essa ideia (de extinção do movimento), mas o que eu percebi agora é que o que existe mesmo é falta de visibilidade porque a manifestação acontece fortemente nas comunidades ainda hoje", diz. 

Ele conta que esta é uma "prática religiosa" trazida pelos colonizadores e que no "processo de contato com outras culturas, aconteceu uma hibridização". A manifestação foi se transformando à medida que ganhou a adesão de negros escravizados que seguiam o cortejo tocando instrumentos percussivos: "A procissão tomou um caráter dançante e isso a igreja passa a condenar com o processo de romanização. (Atualmente) Essas práticas são salvaguardadas com as pessoas do segmento do Candomblé e hoje, alguns grupos passam o cortejo pela frente da igreja mas a igreja está de porta fechada (para eles)". 

Mario lista alguns bairros no Recife que mantém a tradição: Ibura, Várzea, Amaro Branco, Santo Amaro e Areias; e revela que contabilizou, agora em 2018, cerca de 16 grupos atuantes. O pesquisador também explica alguns dos motivos que levam o senso comum a pensar que a manifestação está em vias de acabar: "A invisibilidade e o silenciamento dessa prática têm muito a ver com a sua ligação religiosa com as práticas culturais afro brasileiras, por todo aquele processo histórico de perseguição do Estado, discriminação, racismo. Você tem muitos vestígios dessa perseguição, desde a época da Colônia, passando pelo Estado Novo, pela ditadura militar, isso ecoa até hoje".

Fotos: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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Sítio Histórico, Amaro Branco e a Praça do Carmo, em Olinda, têm programação junina entre os dias 21 e 24 de junho. No sábado (21) os grupos de coco saem do polo Amaro Branco, a partir das 21h, para percorrer as ruas do Sítio Histórico com o “Acorda Povo” e inicar os festejos da cidade.

Confira a programação completa dos Polos:

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Amaro Branco
Sábado (21)
21h – Acorda Povo
Rua Alto do Serapião até a Praça dos Correios
(percorre ruas do Sítio Histórico)

Sítio Histórico
Segunda-feira (23)
22h – São João Popular
Rua da Palha
(paralelo ao Cantinho da Sé)

Praça do Carmo
Sábado (21)
18h – Daniel Bento
19h30 – Quadrilha Raio de Sol
21h – Zeca do Rolete
22h – Daniel Bento

Domingo (22)
18h – Abimael Gomes
19h30 – Quadrilha Pisa no Espinho
21h – Mestre Gervásio do Coco
22h – Abimael Gomes

Segunda-feira (23)
19h – Trio Canidé
20h – Quadrilha Lumiar
21h – Coco Rabecado
22h – Trio Canidé

Terça-feira (24)
18h – Explosão do Forró
19h30 – Quadrilha Aquarela Nordestina
21h – Estrelinhas do Coco
22h – Explosão do Forró

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