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É desnecessário ser entusiasta dos filmes de Jean-Luc Godard para embarcar na história tão bem contada por Michel Hazanavicius (O Artista) em "O Formidável". Apesar de ser um recorte, vezes tragicômico, da vida e obra do icônico cineasta francês entre os anos de 68 e 69, o olhar de Hazanavicius possui vida própria e se estende por sobre um Godard desconhecido de grande parte do público.

Aqui, o maestro de "Acossado", "O Desprezo" e "O Demônio das Onze Horas", vivido por um inspirado Louis Garrel, se vê em conflito com sua própria produção - e o que ela representa - em ocasião da estreia de "A Chinesa", filme protagonizado por Anne Wiazemsky, na época esposa do cineasta. Na pele desta última, Stacy Martin assume a responsabilidade de exalar a curva sentimental à qual o relacionamento da atriz/diretor, gradativamente, viu-se fadado. E o faz com louvor, dando à personagem ares de uma fragilidade idílica enquanto, simultaneamente, assume as vezes da mulher que cede à paixão mas não à subserviência. E é justo a faceta autoritária e veladamente machista do cineasta, contraposta à verve revolucionária que começa a reger seu pensamento artístico, um dos motes pra que a narrativa se expanda para além do "chapabranquismo" cinebiográfico.

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Hazanavicius se atreve a, caprichosamente, questionar a miopia ideológica de Godard - em tela, utilizando até o simbolismo das várias quebras dos óculos do diretor - enquanto usa alguns de seus principais artifícios na direção, roteiro e até montagem, como a exposição de mensagens cravadas em segundo plano, as internas em carros (muito semelhantes às cenas de "O Demônio das Onze Horas"), as falas de personagens direto para câmera (vezes interrompendo fluxos de trilha sonora e mise en scéne, vezes apenas surgindo em quebras secas da quarta parede) , as locuções em off pontuais, a narrativa divida em capítulos e as trucagens de efeito visual / sonoro ou nos próprios diálogos. Estes e outros elementos fazem com que o espectador encontre-se imerso no universo de Godard, enquanto veja sua escalada cada vez mais fanática, contra tudo e todos que se contrapõem a seus ideais. 

Conseguindo navegar muito bem pelo drama, comédia e ainda lançar luz sobre a França em plena Revolução de 68, "O Formidável" é mais um trabalho sólido de Hazanavicius, mesmo que no quesito "cinema e metaliguagem" seja menos eficiente que "O Artista", filme que lhe rendeu o Oscar. 

Nota: 4 / 5

 

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