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Nesta semana, um dos maiores filmes de Ingmar Bergman completa 55 anos desde o dia em que estreou nos cinemas de todo o mundo. A obra em questão é “Persona” (1966), que no Brasil recebeu o nome de “Quando Duas Mulheres Pecam”. O filme é considerado por muitos críticos de cinema como atemporal, visto que dentro de sua temática há um profundo debate sobre a mulher como protagonista de sua própria história, além de questões sobre psicologia e filosofia.

De acordo com o historiador e cineasta Pierre Grangeiro, “Persona” é um dos filmes mais importantes para entender como funciona o cinema de Bergman, de maneira mais experimental e mais radical. “Bergman é o cineasta do sofrimento, do existencialismo e da alma. É o grande filósofo do cinema, e talvez o grande pensador no sentido existencial, no sentido da morte, da finitude humana, do silêncio de Deus, das dificuldades dos relacionamentos, do isolamento e da solidão. Bergman vai abranger todas essas questões que vão ser estudadas pela filosofia e aparecem em sua obra de maneira brilhante”, explica Grangeiro.

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Isso o faz ser um dos diretores responsáveis pelo cinema de autor, uma vertente voltada mais para a arte do que para o entretenimento. “Você assiste um filme do Bergman, você sabe que é do Bergman. Nesse sentido, ele é muito parecido com Alfred Hitchcock [1899 – 1980] e Federico Fellini [1920 – 1993]. O cinema dele tem uma marca muito autoral”. Vale lembrar que em entrevista, Bergman chegou a revelar que o filme preferido de seu currículo é justamente “Persona”, junto com “Gritos e Sussurros” (1972).

Uma das principais características que diferenciam “Persona” de outras obras, é a temática envolvida, que aborda duas personagens principais, uma enfermeira (Bibi Andersson) e uma atriz (Liv Ullmann), que após o término de uma peça, passa a não falar mais. Posteriormente, a profissional da saúde e atriz agora quase que muda, vão passar alguns dias em uma casa de praia. Segundo o especialista, a partir dessa premissa, as personagens passam a ser desenvolvidas, seja a enfermeira com os dilemas existenciais ou a atriz com o silêncio. “É um jogo duplo, que já foi abordado muitas vezes na literatura por grandes autores como Fiódor Dostoiévski [1821 – 1881]”, esclarece.

Grangeiro conta que, na época, o filme gerou muita polêmica devido aos diálogos chocantes sobre violência e sexualidade. “A fotografia é sensacional e vai mostrar toda essa profundidade, como se fosse um estudo do subconsciente das duas mulheres. Isso é feito de forma extremamente brilhante e por isso é um filme tão cultuado”. O especialista ainda ressalta que dizendo que, “Persona” é fundamental para aqueles que querem conhecer o cinema de Bergman.

Legado para o cinema

De acordo com o especialista, as características do cinema de Bergman alcançaram proporções mundiais, visto que influenciou diversas obras e autores diferentes, assim como Woody Allen, um dos seguidores do cineasta sueco. “Além dele, Andrei Tarkovski [1932 – 1986], cineasta russo muito influenciado por Bergman. Até mesmo David Lynch, em sua obra prima, ‘Cidade dos Sonhos’ [2001], que mostra a relação de duas mulheres de maneira muito forte e muito envolvente. É um cinema que vai influenciar muita gente”, declara.

Vale lembrar que não é apenas no cinema hollywoodiano que Bergman deixou seu legado. “Aqui no Brasil, um dos grandes cineastas brasileiros Walter Hugo Khouri [1929 – 2003], também teve influência de Bergman, e fez filmes como ‘Noite Vazia’ [1964] e ‘As Deusas’ [1972], que retratam muito essa questão do universo feminino”. O especialista finaliza dizendo que “Persona” inspira e se transforma a cada dia por ser muito atual, principalmente com os debates sobre feminismo, a questão da autonomia e a mulher vista como uma figura principal, não mais um reagente. Não mais uma figura passiva.

 

 

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