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Internada em um hospital de São Paulo desde o dia 15 de abril, Eva Wilma foi diagnosticada com câncer de ovário. A atriz de 87 anos está em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), consciente, e, segundo os boletins médicos, responde bem ao tratamento. 

O diagnóstico de Eva foi divulgado na noite da última sexta (7), através de boletim assinado pela equipe médica que a acompanha. A atriz foi internada no Hospital Israelita Albert Einstein, no início do mês de abril, para tratar problemas cardíacos e renais e, segundo os médicos, seu quadro de saúde vem evoluindo bem. O tratamento oncológico também já foi iniciado com boa resposta da paciente.

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Em entrevista ao jornal O Globo, o filho da atriz, Johnny Herbert, falou com otimismo sobre o novo desafio da mãe. “A situação é delicada, mas está tudo caminhando bem. Estamos todos confiantes nesse tratamento. Ela está respondendo muito bem, muito consciente sempre. Há uma previsão de duas semanas para o tratamento, mas isso pode variar. Vamos em frente”.

O câncer de ovário é o segundo tipo de câncer ginecológico mais comum entre as mulheres, atrás apenas do de colo do útero e a sétima maior causa de morte por câncer em mulheres. Além disso, oito entre dez casos de câncer de ovário são descobertos em fase avançada.

Sintomas como dificuldade para se alimentar, dor pélvica e/ou abdominal, sangramento vaginal anormal, mudança no hábito intestinal, fadiga extrema e perda de peso, embora associados também a outras doenças, são alertas importantes para um diagnóstico mais precoce.

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Por não haver um método eficaz de rastreamento, o câncer de ovário é diagnosticado, na maioria dos casos, quando as mulheres apresentam sintomas que refletem a doença em estágio mais avançado. Em 80% dos casos, esse tipo de câncer é diagnosticado quando não está mais restrito ao ovário, tendo se disseminado para linfonodos, outros órgãos da região pélvica e abdominal ou até mesmo para órgãos como pulmão, osso e sistema nervoso central, mais raramente.

A alta taxa de diagnóstico tardio causa impacto no resultado do tratamento. Menos da metade das pacientes (48,6%) vive por mais de cinco anos após o diagnóstico. Comparativamente, quando a doença é identificada ainda restrita ao ovário, a chance de viver por mais de cinco anos sobe para 92,6%.

“Quando a doença é descoberta mais precocemente, pode-se oferecer um tratamento curativo, com melhores resultados, que será guiado com base na classificação realizada pelo médico patologista quanto ao tipo e à agressividade do tumor. É a avaliação anatomopatológica, entre outros fatores, que aponta a extensão da doença, assim como indica se a resposta à quimioterapia foi completa, alterando o destino das pacientes no que diz respeito a tratamento”, explica o médico patologista da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Leonardo Lordello.

Com o objetivo de identificar e difundir para o público as melhores estratégias para que a doença seja descoberta rapidamente, a SBP se une à World Ovarian Cancer Coalition - movimento global de conscientização sobre a doença - nesta sexta-feira (8), Dia Mundial do Câncer de Ovário. Criada em 2013, a organização reúne atualmente mais de 140 integrantes.

Alertas do corpo

Diferentemente do que ocorre com os exames de Papanicolau, mamografia e colonoscopia, que funcionam como métodos de rastreamento, respectivamente, do câncer de colo do útero, mama e colorretal, com o câncer de ovário não há uma metodologia eficaz. “Houve tentativas com o marcador CA125 ou exames de imagem, mas os estudos mostraram que oferecer essas avaliações para população assintomática não resultou em redução de mortalidade”, explica Lordello.

Outro complicador é o fato de que os sintomas que podem alertar para o surgimento de tumores de ovário também são comumente associados a outras doenças. Embora esses sinais de alerta sejam inespecíficos, a atenção a eles pode ser um caminho para o diagnóstico mais precoce. Os principais são aumento do abdômen, dificuldade para se alimentar, dor na região pélvica e/ou abdominal, sangramento vaginal anormal (principalmente pós-menopausa), mudança no hábito intestinal, fadiga extrema e perda de peso.

Classificação correta

Em um cenário no qual predomina uma doença com alta taxa de mortalidade, a correta definição do tipo de lesão, apontando se ela é benigna ou maligna (câncer), torna-se ainda mais importante, assim como a indicação de seu tamanho, grau de agressividade, perfil biológico, capacidade de se espalhar e potencial resposta aos tratamentos disponíveis no caso de malignidade.

Assim como a maior parte dos diagnósticos de câncer, apesar da anamnese e de exames de imagem poderem identificar a presença de um tumor ovariano, a natureza desse tumor quanto à malignidade só será definida a partir da avaliação feita por um médico patologista. No contexto do câncer de ovário, essa avaliação pode ocorrer antes da cirurgia, geralmente em casos avançados, para determinação de quimioterapia neoadjuvante; durante a cirurgia, por meio do exame intraoperatório por biópsia de congelação; ou após a cirurgia, para avaliação da extensão da doença e/ou resposta ao tratamento.

Em cerca de 90% dos casos, os tumores malignos do ovário são derivados de células epiteliais que revestem o ovário e/ou a trompa. O restante provém de células germinativas (que formam os óvulos) e células estromais (que produzem a maior parte dos hormônios femininos), sendo esses casos mais frequentes em adolescentes e mulheres mais jovens.

Entre os tumores malignos epiteliais de ovário, cerca de 70% são carcinomas serosos, que podem ser de baixo ou alto grau. “Embora agressivos, tumores serosos de alto grau, com disseminação mais rápida e comprometimento maior do ovário e órgãos adjacentes, são, geralmente, mais responsivos à quimioterapia”, comenta o patologista.

De maneira geral, o câncer tem início em um dos ovários. Embora em parte dos casos possa haver a doença em ambos os ovários (envolvimento bilateral), acredita-se que isso ocorra de maneira metastática de um ovário para o outro. Além dessa disseminação, as células malignas frequentemente podem acometer a cavidade pélvica e/ou abdominal, podendo formar tumores que causam compressão do reto ou da bexiga, além de comprometer útero e/ou vagina. Em casos mais avançados, a doença pode ainda disseminar para outros órgãos como o fígado, pulmão e osso, mais tardiamente.

Fatores de risco

Similarmente ao que ocorre com a maioria dos casos de câncer de mama, os tumores malignos de ovário surgem, em cerca de 80% dos casos, por influência direta dos hormônios. Infertilidade e questões associadas com maior frequência aos ciclos menstruais mensais, como menarca precoce, menopausa tardia, nuliparidade (nunca ter tido filhos), entre outras, assim como obesidade e tabagismo, são os principais fatores de risco.

Entre os efeitos protetores estão o controle do peso, alimentação equilibrada e prática de atividade física, assim como o uso de contraceptivos orais por pelo menos cinco anos. Gestação, assim como a amamentação, colaboram na diminuição do risco de desenvolver câncer de ovário.

Hereditariedade

Estima-se que cerca de 20% dos casos de câncer de ovário estão relacionados a mutações de origem hereditária, estando ligados principalmente à síndrome de câncer de mama e ovário, cuja principal mutação é no gene BRCA1. Em caso de história pessoal ou familiar de primeiro grau de câncer de mama e/ou ovário é válido procurar um oncologista, que poderá indicar uma avaliação com um médico geneticista, indica a SBP.

Faixa etária

O câncer de ovário é mais prevalente a partir dos 60 anos, quando a mulher não se encontra mais em fase reprodutiva. No entanto, a doença pode ser diagnosticada também em mulheres mais jovens, principalmente nos casos de hereditariedade. As mulheres mais jovens, em fase reprodutiva, que têm predisposição hereditária para desenvolver câncer de mama, podem optar por acompanhamento clínico mais precoce e frequente.

A paciente é orientada ainda sobre a possibilidade de fazer a cirurgia profilática (retirada preventiva dos ovários e trompas, para reduzir o risco de desenvolver a doença). É importante a paciente ser orientada por seu oncologista e ter acesso a um serviço de aconselhamento genético, coordenado por um geneticista, sugere a SBP.

Um grupo de pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Itália, coordenado por um professor brasileiro, desenvolveu um composto com ação potente e seletiva contra o câncer de ovário. O estudo realizado com o novo composto à base de paládio - metal raro de alto valor comercial - demonstrou sua eficácia contra células de tumor de ovário sem afetar o tecido saudável. Além disso, testes em células tumorais indicaram que o composto age contra tumores resistentes ao tratamento mais utilizado atualmente no combate ao câncer de ovário, que é feito com um fármaco chamado cisplatina.

O trabalho foi conduzido durante a pesquisa de doutorado da professora Carolina Gonçalves Oliveira, atualmente no Instituto de Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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A cisplatina é um quimioterápico eficiente para tumores no ovário, mas o tratamento pode causar efeitos colaterais severos aos pacientes, afetando rins, sistema nervoso e audição. Segundo o pesquisador do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) Victor Marcelo Deflon, que coordenou o estudo, isso acontece porque a molécula não é muito seletiva, ou seja, afeta também células saudáveis.

“[O novo composto] tem alta seletividade para células de câncer, isso traz uma expectativa de menos efeitos colaterais. E ele é ativo em células de câncer resistentes à cisplatina, isso é ótimo porque é uma alternativa para tratar câncer nesses casos que são resistentes à cisplatina”, disse Deflon. “Algumas células de câncer aprendem a se defender da cisplatina, então ficam resistentes”, complementou.

Os pesquisadores identificaram o mecanismo de ação do novo composto e concluíram que há diferenças em relação à cisplatina. “O fato de ele [novo composto] atuar em células resistentes à cisplatina mostra que o mecanismo de ação dele é diferente, então a gente foi estudar qual era o mecanismo e acabou encontrando que o potencial alvo dele é uma enzima, não o DNA”, disse.

O composto à base de paládio teve ação na topoisomerase, uma enzima presente em tumores e que participa do processo de replicação do DNA, sendo um alvo potencial para quimioterápicos. “Essa enzima tem altas concentrações em células de câncer porque são células que se reproduzem muito rápido e ela está relacionada com metabolismo celular para replicação das células”, disse.

Já a cisplatina age diretamente no DNA, causando mudanças estruturais nele, impedindo a célula tumoral de copiá-lo. Deflon explicou que são alvos diferentes, mas tanto a cisplatina como o composto de paládio inibem o processo de divisão celular do tumor. 

A partir dessa descoberta, os pesquisadores devem buscar o desenvolvimento de versões ainda mais eficientes do composto para obter uma molécula que possa ser testada em animais com boas chances de sucesso. Depois de testes bem-sucedidos em animais, a molécula pode ser levada para testes clínicos.

“É uma tentativa de desenvolver um fármaco que tenha menos efeitos colaterais que a cisplatina e, nesse caso, ele é mais seletivo tanto para célula que é sensível à cisplatina quanto para célula que é resistente à substância”, acrescentou.

Os pesquisadores sabem pouco sobre o câncer de ovário, que muitas vezes nem sequer surge nos ovários - é o que aponta um painel de cientistas norte-americanos nesta quarta-feira.

A Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos fez um pedido para que a comunidade científica trabalhe para preencher o que chamou de "surpreendentes lacunas no conhecimento fundamental sobre o câncer de ovário e sua compreensão".

"O comitê conclui que uma proporção substancial dos carcinomas classificados como 'de ovário' na verdade de desenvolvem fora do ovário ou surgem de células que não são consideradas intrínsecas do ovário", apontaram os especialistas num relatório de 377 páginas, encomendado pelo Congresso dos Estados Unidos.

Muitos destes tumores "surgem em outros tecidos fora do ovário, como nas trompas uterinas, e depois produzem metástases no ovário".

Cerca de 14.000 mulheres morrem anualmente de câncer de ovário nos Estados Unidos, onde este tipo de câncer é o quinto mais frequente no país e é diagnosticado em 21.000 mulheres todos os anos.

Alguns dos primeiros sintomas da doença são inchaço, dor ao urinar ou desconforto abdominal, mas frequentemente nenhum sintoma é percebido nos estados iniciais.

Cerca de duas em cada três mulheres que são diagnosticadas com este câncer descobrem a doença ja em estágio avançado e com expansão para outros tecidos.

Entre as mulheres que recebem estes diagnósticos tardios, menos de 30% sobrevivem mais de cinco anos após recebê-lo.

Apesar da falta de conhecimento sobre este câncer, existem oportunidades para investigar "que, caso fossem aproveitadas, poderiam incidir da melhor maneira na redução da quantidade de mulheres que são diagnosticadas ou que morrem de câncer de ovário", disse o informe.

Entre os passos que serão dados, o painel destaca que é preciso priorizar a pesquisa sobre o subtipo mais comum e letal de câncer de ovário: o carcinoma seroso de grau elevado.

Também é necessário compreender uma série de outros subtipos deste câncer, disseram os especialistas.

Sabe-se que mulheres com mutações em certos genes específicos correm um risco elevado de desenvolver câncer de ovário, mas o relatório constata que "apesar desta importante descoberta (...) não foram adotadas medidas de maneira geral para fazer testes genéticos ou aconselhar famílias sobre este risco", apontou o texto, propondo que o acesso a mapeamentos genéticos seja ampliado.

No campo do tratamento de câncer de ovário também existem grandes dificuldades. A maioria das mulheres com esse tipo de câncer inicialmente recebem quimioterapia composta por platina.

Muitas delas respondem bem a este tratamento numa fase inicial, mas depois "praticamente todos os cânceres de ovário recorrentes terminam desenvolvendo uma resistência aos tratamentos farmacológicos atuais", concluiu o relatório.

Mulheres com uma anomalia no gene BRIP1 têm três vezes mais risco de desenvolver câncer de ovário, revela um estudo publicado nesta terça-feira (19). O gene alterado já havia sido identificado como um fator de predisposição de câncer de ovário, mas esta é a primeira vez que tal risco é quantificado, em um estudo publicado no Jornal do Instituto Americano do Câncer (JNCI).

"Em torno de 18 mulheres em cada mil desenvolvem câncer de ovário, mas este risco sobe para 58 por mil entre as mulheres que apresentam esta anomalia", destacam especialistas britânicos ligados ao estudo.

Difícil de diagnosticar porque geralmente não provoca sintomas até se encontrar em estado avançado e por ser associado a outras patologias, o câncer de ovário é o mais fatal dos tumores genecológicos.

O câncer de ovário é a origem de cerca de 150 mil óbitos ao ano no planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Na França, ele atinge cerca de 4.400 mulheres por ano, com mais de 3 mil mortes. O índice de óbito cinco anos após o diagnóstico é de 60%.

O estudo publicado nesta terça-feira compara os genes de mais de 8 mil mulheres europeias, compreendendo um grupo de pacientes, um grupo em bom estado de saúde e um grupo com antecedentes familiares de câncer de ovário.

"Recensear estas mulheres (com mutação do gene) contribuirá para prevenir mais casos e salvar vidas", assinalou um dos pesquisadores.

Uma equipe médica da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, anunciou ter descoberto um novo tratamento para o câncer de ovário, que pode atrasar a progressão da doença. Os resultados de uma pesquisa feita por investigadores do Centro Médico St. Joseph indicam que o novo tratamento pode melhorar as taxas de respostas, com aumento da taxa de redução do tumor. Os estudos mostram a tendência de melhoria na sobrevivência, mas os dados ainda não são garantidos.

O responsável pela Divisão de Oncologia Ginecológica na Universidade do Arizona, Bradley J. Monk, alertou que o câncer de ovário é quase sempre fatal. Segundo ele, é necessário buscar novos tratamentos para a doença. Bradley J. Monk garantiu que a nova terapia não aumenta riscos de hipertensão arterial e a perfuração do intestino, como acontece com outros medicamentos já existentes para tratar o câncer de ovário.

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