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O candidato presidencial boliviano Carlos Mesa, adversário do presidente Evo Morales nas eleições de domingo passado, anunciou nessa quarta-feira (23) a formação de uma "Coordenação de Defesa da Democracia" visando pressionar para que haja um segundo turno.

O objetivo da aliança com os partidos da direita e líderes centristas é "conseguir que se cumpra a vontade popular de definir a eleição presidencial no segundo turno", destaca uma nota publicada no Twitter.

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A aliança articulada por Mesa é formada pelo governador de Santa Cruz, Rubén Costas, o candidato de direita Óscar Ortiz, o empresário Samuel Doria Medina, líder da Unidade Nacional (UN, centro direita), e Fernando Camacho, executivo do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, da direita radical, entre outros.

Mesa acusa Evo de orquestrar uma fraude para vencer no primeiro turno, com o auxílio das autoridades eleitorais. O comunicado convoca os bolivianos à "mobilização pacífica até que se consiga o objetivo democrático da declaração do segundo turno eleitoral".

Uma missão de observadores da OEA já recomendou que, diante da desconfiança sobre o processo eleitoral, "continua sendo uma melhor opção convocar o segundo turno".

Ainda na quarta-feira, a Conferência Episcopal Boliviana (CEB) defendeu a realização de "um segundo turno, com uma supervisão imparcial, como a melhor saída democrática para o momento em que vivemos". "Nos preocupa o risco de confrontação entre os bolivianos diante de um processo eleitoral que, apesar do comportamento exemplar dos eleitores, perdeu a credibilidade pelas irregularidades", destacaram os bispos.

Faltando menos de 2% dos votos para a conclusão da apuração, Evo se declarou "quase seguramente" vencedor da eleição. "Estou quase certíssimo de que, com os votos de áreas rurais, vamos vencer no primeiro turno", disse o presidente.

O site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrava às 2h07 desta quinta-feira (3h07 em Brasília) que Evo tinha 46,32% dos votos válidos, contra 37,08% para o ex-presidente Mesa, pouco mais de nove pontos de diferença. Evo vencerá no primeiro turno se obtiver ao menos 10 pontos de vantagem sobre Mesa.

O ministro da Justiça, Héctor Arce, declarou que é preciso esperar o resultado oficial final do TSE antes de qualquer decisão, pois convocar o segundo turno diretamente "seria ignorar" a Constituição, "o que é pior que ignorar a vontade popular".

Pressão

Uma greve geral indefinida começou na quarta-feira. Grupos leais e opositores ao presidente entraram em confronto na cidade de Santa Cruz. Evo denunciou que "está em processo um golpe de Estado", em aparente referência aos protestos e à greve indefinida. "Quero que o povo boliviano saiba que até agora suportamos humildemente para evitar a violência e não entramos em confronto", disse.

As declarações foram acompanhadas por seu aliado venezuelano Nicolás Maduro, que afirmou: "é um golpe de Estado anunciado, cantado e, posso dizer, derrotado. O povo boliviano derrotará a violência".

Mesa, por sua vez, pediu "a mobilização permanente" de forma "democrática e pacífica" em defesa do voto, até que o tribunal eleitoral "reconheça que o segundo turno deve ser realizado". "Não vamos permitir que nos roubem uma eleição pela segunda vez", acrescentou, referindo-se ao resultado de um referendo que não foi reconhecido por Evo para se candidatar a um quarto mandato.

A greve convocada por um coletivo de organizações civis dos nove departamentos do país começou a tomar corpo em Santa Cruz, onde manifestantes queimaram parte da sede do tribunal eleitoral na noite de terça-feira. A greve também avança na rica região mineradora de Potosí e em outras áreas.

Prisões

Um juiz da Bolívia determinou na quarta a prisão preventiva de seis acusados de incendiar uma sede do tribunal eleitoral do país durante os protestos contra a suposta fraude na apuração de votos.

Os seis detidos são suspeitos de ter ateado fogo na sede do órgão eleitoral na região de Pando, na Amazônia boliviana, segundo a Promotoria-Geral do Estado da Bolívia. Eles serão acusados pelos crimes de roubo agravado, destruição e deterioração de bens do Estado, associação criminosa e instigação pública para delinquir.

De acordo com os procuradores, o grupo levou "paus, pedras, foguetes e outros objetos" para atacar o escritório do órgão eleitoral em Cobre, capital de Pando. Eles teriam, segundo o Ministério Público da Bolívia, invadido o local, roubado computadores e destruído três veículos.

A Polícia Nacional da Bolívia deteve 25 pessoas. Mais tarde, 16 delas foram libertadas pela Justiça porque os promotores não conseguiram provar que havia vínculo entre elas e os fatos registrados na sede do órgão.

Três das pessoas detidas eram menores de idade e foram levadas a um juizado especial. Os outros seis tiveram a prisão preventiva decretada por um juiz boliviano. (Com agências internacionais).

O presidente Evo Morales ficou muito perto de conquistar a reeleição no primeiro turno na Bolívia, mas seu rival Carlos Mesa denunciou uma fraude, em meio a protestos violentos após a divulgação de uma surpreendente mudança de tendência na apuração dos votos em favor do atual governante.

A missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) manifestou "preocupação e surpresa" com a mudança "drástica" na contagem dos votos - que permaneceu suspensa por 20 horas após o fim da votação no domingo -, depois a tendência inicial antecipava o segundo turno.

Após a guinada inesperada e a denúncia da oposição, milhares de pessoas protestaram em cinco das nove regiões da Bolívia. Os incidentes mais graves foram os incêndios em centros eleitorais de Sucre (sudeste) e Potosí (sudoeste).

Uma multidão enfurecida incendiou a fachada da sede do Tribunal Eleitoral de Sucre, a capital administrativa boliviana, aos gritos de "fraude".

Um protesto similar foi registrado na sede eleitoral de Potosí.

A oposição também protestou e entrou em conflito com a polícia em Oruro (sul), Cochabamba (centro) e La Paz, enquanto simpatizantes do governo reivindicavam a reeleição do presidente, de 59 anos, no primeiro turno.

Alguns sectores da oposição defenderam uma "rebelião" em caso de vitória de Morales no primeiro turno, em um clima de grande suspeita.

A A apuração rápida de atas (TREP), retomada no fim da tarde de segunda-feira, mostrou de modo surpreendente Morales com 46,87% dos votos e Mesa com 36,73%, após a apuração de 95,30% das urnas, o que significa que o presidente está muito próximo de evitar o segundo turno com o principal rival.

Um clima de suspeita domina a Bolívia desde que o Órgão Eleitoral Plurinacional (OEP) suspendeu a apuração na noite de domingo.

"Não vamos reconhecer estes resultados, que são parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa e que está colocando a sociedade boliviana em uma situação de tensão desnecessária", declarou Mesa a meios de comunicação de Santa Cruz, no leste do país.

Em um comunicado, a missão de observadores da OEA expressou sua "profunda preocupação e surpresa pela mudança drástica e difícil de justificar na tendência dos resultados preliminares conhecidos após o fechamento das urnas".

Mesa, que presidiu o país entre 2003 e 2005, denunciou algumas horas antes aos observadores da OEA que o organismo eleitoral "interrompeu arbitrariamente" a contagem dos votos e repetiu que acredita no segundo turno.

O OEP suspendeu a divulgação da apuração no domingo, após um único boletim da contagem rápida de 84% das atas que mostrava 45,28% para Morales e 38,16% para Mesa, resultado que antecipava o segundo turno em 15 de dezembro.

Segundo a Constituição boliviana, para vencer no primeiro turno o candidato deve obter mais de 50% dos votos votos válidos ou aos menos 40% com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado.

Diversos países, incluindo Estados Unidos, Argentina, Brasil e Colômbia, também manifestaração preocupação com a situação na Bolívia.

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