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Diretamente de Triunfo, município localizado numa região conhecida como o 'Oasis do Sertão de Pernambuco', para todas as ‘quebradas’ do mundo. Essa é a história de Nelson Gonçalves Campos Filho, mais conhecido como Nelson Triunfo ou ‘Nelsão’, dançarino, coreógrafo, arte-educador e ativista cultural do breakdance considerado um dos fundadores do movimento hip hop, na década de 1970. Um pouco dessa trajetória foi apresentada durante a noite de encerramento da sétima edição do Festival de Cinema de Triunfo, neste último sábado (9), no Cine Teatro Guarany, no filme Triunfo - O filme, dirigido por Cauê Angelim.

“Eu sempre fui diferente. Imagina em 1972 um cara maluco que veio de Triunfo e foi a Paulo Afonso fundar o primeiro grupo de black music e dança do Nordeste”, diz Nelson, referindo-se aos Invertebrados durante a solenidade no festival de cinema, antes da sessão começar. Triunfo faz um resgate da infância de Nelsão vivida no sertão pernambucano, passa pelos bailes da Chic Show, já em São Paulo, entre as décadas de 1970 e 80, e chega à consolidação do movimento Hip Hop. Em algumas cenas, a obra relembra o dançarino nordestino ao som de um toca-fitas que marcou época e atraía multidões ao dançar clássicos do soul e do funk.

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As marcas deixadas pelo Festival de Cinema de Triunfo

O longa traz também imagens de Nelson Triunfo em sua casa na favela do Tiquatira, Zona Leste de São Paulo, construída por ele mesmo, e depoimentos de artistas do rap como Criolo. Detalhes que mostram o quanto que a história da cultura black e a sua estão interligadas, como se fosse uma só. Mas tanta revolução cultural atraiu mals olhos, quando chamou a atenção da ditadura brasileira. “Fui preso muitas vezes pelo militarismo por não fazer o que eles queriam. Eles queriam colocar terno e gravata em mim, e eu jogava o cabelão na cara deles”, brinca Nelson, que décadas depois, ironicamente, ganhou do então presidente Lula a comenda da Ordem do Mérito Cultural. “Com a minha bermuda e o meu cabelo malucão, hoje entro em vários lugares do mundo onde muita gente de terno e gravata não pode entrar”, reflete.

Ativismo nos dias de hoje no Hip Hop

A correria do dia a dia não largou o pé de Nelsão, que ainda escolhe em quais eventos participar por conta da demanda. “Está meio difícil de lidar, porque tem muita coisa. Eu às vezes me dou o luxo de dispensar e não fazer porque sobrecarrega muito. Antes eu abraçava quase tudo, mas hoje eu sou mais seletivo”, comenta. 

Para Nelson Triunfo, o movimento Hip Hop no Brasil virou uma coisa popular, como o samba. “Não é à toa que estamos ai há mais de 40 anos”, explica. Apesar da seletividade na hora das aparições, Nelsão investe pesado na educação através da arte. Em 1994, fundou a Casa do Hip-Hop, em Diadema, no ABC Paulista, um centro de educação popular para jovens em situação de vulnerabilidade social e uma referência na formação de novos talentos do rap, do grafitti e do breakdance. “Eu trabalho numa construção de uma nova educação dentro do Brasil, dentro das escolas, porque eu acho que está ultrapassada a nossa didática escolar”, resume.

Homenagem no Festival de Cinema de Trinfo

Ao receber o troféu de homenageado do ano das mãos da secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, o artista começou um discurso cheio de saudades e lembranças engraçadas da infância, mas ficou emocionado e com a voz embargada quando falou dos pais. “Quando eu subi no palco eu até me emocionei, porque eu me lembro que em 1980 eu estava aqui em Triunfo para fazer um show e meu pai e minha mãe estavam ali, na primeira cadeira”, disse ao LeiaJá, com os olhos cheios de lágrimas. “Meu pai foi uma figura importantíssima pra essa cidade. Era uma pessoa muito inteligente. Foi o cara que me falou: ‘filho, você vale o que você sabe’”, relembra. “Quero aproveitar para dizer aos mais jovens que vocês têm que acreditar no sonho de vocês”, finaliza Nelson Triunfo, prova viva da persistência típica de quem faz a diferença.

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