Tópicos | Descriminalização do aborto

Tem início nesta sexta-feira (22) o julgamento virtual, no Supremo Tribunal Federal (STF), acerca da descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. O processo, de autoria do PSOL, ainda em 2017, e que ocupa espaço de debate na suprema corte desde então, é relatado pela presidente da Casa, a ministra Rosa Weber. Prestes a se aposentar, a magistrada desengavetou o texto e abriu ação de julgamento, reacendendo as polêmicas trazidas com a pauta. 

Ao LeiaJá, o cientista político Victor Barbosa esclareceu uma das razões pelas quais a ministra escolheu por finalizar sua atuação no STF com essa decisão tomada. “A ministra Rosa Weber tem se esforçado para encaixar na agenda do STF os processos dos quais quer participar. Tanto é que o julgamento será iniciado no plenário virtual, devido a sua ‘agilidade’. Neste modelo, os ministros postam seus votos por escrito. Caso fosse no plenário presencial, uma sessão inteira seria consumida por sustentações e debates, por exemplo, o que provavelmente impossibilitaria a ministra de expressar seu voto”, explicou. 

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O aborto é permitido no Brasil em apenas três circunstâncias: casos de estupro; se há risco de morte para a gestante; ou se o bebê é anencéfalo (má formação cerebral). Segundo o processo feito pelo PSOL, a proposta visa alterar o entendimento existente no Código Penal, vigente desde 1940, que criminaliza o aborto voluntário, conforme seus artigos 124 e 126. A temática ainda é considerada polêmica nas mais variadas esferas, interferindo, portanto, na tomada de decisões por meio das autoridades pertinentes, como os poderes Legislativo e Judiciário. 

Segundo Victor Barbosa, a simples expressão de uma opinião pode ser considerada cara demais a um partido ou coalisão política, tendo em vista o peso que o conservadorismo agrega ao debate. “No geral, a sensibilidade em torno da questão da descriminalização do aborto está enraizada nas convicções morais e religiosas da população. Temos, sim, uma grande quantidade de políticos que levantam abertamente bandeiras contrárias ao aborto, mas outra parcela significativa tenta se distanciar do assunto para não alienar uma parte de seu eleitorado”, analisa Barbosa. 

A dificuldade em se chegar em um acordo está, inclusive, presente na forma com que os debates vêm sendo levantados no decorrer dos anos. Como é o caso de um estudo, citado por Victor Barbosa, feito em 2017 por Luis Miguel, Flávia Biroli e Rayani Mariano. Eles analisaram os debates acerca da descriminalização do aborto no Congresso Nacional no período de 1991 a 2014, observando as bancadas que cresceram e as que diminuíram ao longo dos anos. “Os dados apresentados revelam que houve uma crescente atuação de parlamentares conservadores no Congresso, em sua maioria religiosos. Apesar de sua ligação com igrejas, os parlamentares que se posicionam contrários ao direito ao aborto reduziram, ao longo do tempo, o uso de argumentos abertamente religiosos, o que demonstra que a questão da laicidade do Estado ganhou peso no debate”, pondera o cientista. 

O que esperar dos votos? 

“É incerto como a maioria da corte se posicionará. A probabilidade mais alta é que os indicados à Corte pelo ex-Presidente Bolsonaro, Kássio Nunes Marques e André Mendonça, votem contra a questão em discussão”, afirma Barbosa. 

 

Em pronunciamento no Plenário nesta terça-feira (12),  o senador Eduardo Girão (Novo-CE) voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) depois que a presidente da corte, ministra Rosa Weber, autorizou o julgamento da ação movida pelo PSOL que trata da descriminalização do aborto até a 12ª semana da gravidez, da qual é relatora. 

Girão alegou que a pauta demonstra um posicionamento ideológico e que os esforços para julgar o tema representam o “ativismo judicial” praticado pelo STF.

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Ele também disse, sem apresentar dados, ou qualquer levantamento, que o tema pode “incendiar o país, já que  a maioria da população brasileira é contra o aborto:  — É isso que o Supremo Tribunal quer? Incendiar o país, colocando uma pauta a esta altura do campeonato? Depois de tudo que a gente está vendo a partir da Corte máxima deste país, perseguindo pessoas, inquéritos ilegais, rasgando a Constituição, liberando corruptos, vão querer legalizar o aborto? Qual é a prioridade de legalizar o aborto na pauta nacional hoje? Isso é desejo da população brasileira? É óbvio que não. É desejo de poucos militantes que usam toga, assim como fizeram na questão das drogas — protestou sem citar que a matéria trata tem por finalidade evitar que mulheres morram em decorrência de procedimentos realizados em condições de clandestinidade.

O senador, que é conservador, também mencionou o exemplo do projeto (PL 1.135/1991) que propôs suprimir o artigo 124 do Código Penal, que caracteriza como crime o aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento. O parlamentar lembrou que o texto foi derrotado na Câmara dos Deputados após quase 30 anos de tramitação. Ele afirmou que matérias relacionadas ao aborto são amplamente rejeitadas pelo Congresso Nacional, refletindo o posicionamento da sociedade brasileira. 

— Só na CCJ, se eu não me engano, foi de 33 a 0. E olha que, naquela época, tinha o governo Lula a favor, tinha todo um sistema [...] os deputados agiram de acordo com a população brasileira, derrotaram o projeto que tramitava na Casa há quase 30 anos. Aqui no Senado, você pode ter certeza, é a mesma coisa. Matérias nesse sentido são derrotadas fortemente pelos parlamentares desta Casa, porque é uma matéria que é pauta nacional, que aflige evangélicos, católicos, espíritas — argumentou.

*Da Agência Senado

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, liberou, nesta terça-feira (12), a ação que versa sobre o julgamento da descriminalização do aborto. Ainda não há data confirmada para a tomada da decisão, mas deve acontecer em breve, diante da iminente aposentadoria da magistrada. 

A ação que tem a ministra como relatora é um processo de autoria do PSOL, em 2017, que pede a revisão do Código Penal para que o aborto seja descriminalizado até a 12ª semana de gestação. 

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A legislação atual apenas permite o aborto em caso de estupro, se a vida da gestante estiver em risco ou se o feto for anencéfalo. 

 

Previsto no Código Penal como crime contra a vida humana desde 1984, o aborto induzido é considerado crime no Brasil. A legislação prevê pena de detenção de um a três anos para a gestante que provoca o aborto e reclusão de um a quatro anos para quem faz o aborto com o consentimento da mulher grávida. A prática só não é crime quando representa risco de vida à gestante e quando decorre de estupro. 

Mas a resolução gera controvérsia, dúvidas e muitos debates. Nas últimas semanas, com as audiências públicas convocadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir descriminalização da interrupção da gravidez em até 12 semanas de gestação, o tema voltou a gerar polêmica. Muitos dos que são contra a descriminalização apontam que nenhum argumento pode justificar o aborto. Já os que defendem a medida, apontam que o aborto definido como crime viola uma série de direitos fundamentais das mulheres.

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A Pesquisa Nacional de Aborto de 2016, realizada pelo Anis Instituto de Bioética e pela Universidade de Brasília, aponta que 20% das mulheres terão feito ao menos um aborto ilegal ao longo da vida - o que pode significar que uma em cada cinco mulheres aos 40 terá passado pelo procedimento abortivo ao menos uma vez. Antropóloga, professora do Departamento de Direito da Universidade de Brasília e coordenadora da ONG Anis - Instituto de Bioética, a pesquisadora Débora Diniz defende a descriminalização do aborto e tem sofrido retaliações por conta disso.  “O ódio não será maior que a democracia, tenho segurança disso”, afirma.

Para a pesquisadora, a criminalização é inconstitucional. “Viola uma série de direitos fundamentais das mulheres, como a vida digna, a cidadania, a saúde, a igualdade, a viver livre de tortura. Além disso, a criminalização não é eficaz para diminuir o número de abortos, o que leva a concluir que sequer é um meio legítimo a atingir aquilo que se pretende. Não protege a vida pré-natal e maltrata gravemente as mulheres”, explica. Na contramão, sacerdotes, arcebispos e bispos diocesanos de várias regiões do Brasil emitiram uma carta defendendo que o aborto fere o valor da vida humana. 

"Não existem quaisquer argumentos – sejam jurídicos, políticos, econômicos, médicos, sociológicos, etc – que justifiquem a descriminalização do aborto. Pretendem convencer que este crime hediondo, sempre praticado com violência e tortura, e que, em 100% das vezes, mata inocentes e indefesos em procedimentos sempre inseguros, insalubres e letais para tais vítimas, pode ser transmutado em algo 'seguro para saúde' das mulheres que o praticam", diz o texto. Débora discorda. “Se queremos proteger a vida, precisamos acolher e atender às necessidades de saúde das mulheres, e assim inclusive diminuir as taxas de aborto no médio e longo prazo”, afirma a pesquisadora.

Justiça, direitos e impasses

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442 pede ao STF a legalização do aborto. O projeto foi enviado ao supremo em março de 2017 pelo Anis e pelo PSOL. As audiências aconteceram no dias 3 e 6 de agosto deste ano e diversos atores sociais mostraram diferentes pontos de vista sobre o tema. Apesar disso, uma decisão de fato sobre a descriminalização pode levar anos para acontecer. “Se descriminalizado, nenhuma mulher será obrigada a abortar, apenas se garantirá que toda e qualquer mulher seja amparada em suas decisões reprodutivas, não ameaçada pelo Estado. A criminalização, em lugar nenhum do mundo, impede que as mulheres abortem, apenas as empurra à clandestinidade e aos graves efeitos em sua vida e saúde”, reflete Débora Diniz. 

 Já os sacerdotes, arcebispos e bispos diocesanos veem de outra maneira. “O valor da vida humana em todas as suas fases naturais - da concepção ao final- não é algo sujeito a questões quantitativas - relacionadas a índices elevados em pesquisas de opinião, votos de uma maioria ou muitos argumentos jurídicos-, e sim uma qualidade intrínseca, própria da natureza deste Bem supremo, que nada, em tempo algum, pode mudar”, argumentam. “O tema envolve paixões morais que muitas vezes desviam o debate daquilo que realmente deveria ser levado em consideração - o que a lei de fato provoca. Sem dúvida há importantes dissensos morais no tema, que devem ser acomodados em uma perspectiva democrática do dissenso razoável”, contrapõe a pesquisadora. 

Com o ponto de vista contrário à descriminalização do aborto e às audiências realizadas pelo STF, a Igreja pediu o crescimento de grupos que "promovam a conscientização de tais processos de manipulação". "Dizer que a criminalização do aborto não é eficaz para evitar que as mulheres matem seus filhos ainda dentro de seus ventres não é argumento para chancelar a morte, nem para que o Direito Penal deixe de proteger o maior bem da vida, que é a vida", diz o texto. 

Débora Diniz argumenta que a não criminalização da interrupção da gravidez vai, justamente, proteger a vida. “A descriminalização garantirá que mulheres não sejam presas ou mortas por não poderem, naquele momento, seguir adiante com uma gravidez. Trata-se apenas disso. Mulheres serão acolhidas em serviços de saúde e será possível entender melhor onde a política de prevenção falhou, se essa mulher sofre violência, se não tem acesso aos métodos contraceptivos, se não consegue negociá-los com seu parceiro, se os utiliza incorretamente. Assim será possível não só evitar que essa mulher faça um novo aborto, mas também corrigir a política para garantir que outras não precisem do primeiro. É uma medida de proteção à saúde e à vida”, explica.

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta segunda-feira (6) as discussões sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Especialistas em diversas áreas foram convidados pelo STF para defender suas posições e apresentar argumentos que pautem a decisão final da Corte. Na última sexta (3), foram ouvidos cientistas e profissionais de saúde. A audiência pública desta segunda será aberta com a participação de representantes religiosos.

Dom Ricardo Hoerpers, bispo de Rio Grande (RS), será o primeiro a falar, representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que tem um posicionamento claro contra a descriminalização da prática. Mestre e doutor em Bioética e Teologia Moral na Academia Alfonsiana, em Roma, Hoepers defende que o assunto transcende a esfera religiosa e acredita no papel social da CNBB para tentar convencer os magistrados a manter a lei como está.

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Atualmente, no país, a interrupção da gravidez é considerada legal somente em casos de estupro, de gestação de fetos anencéfalos ou caso a gestante esteja correndo risco de vida. Assim como outras instituições religiosas, a CNBB defende que o embrião é um ser vivo a partir da concepção.

Mas nem todos os convidados ligados a instituições religiosas têm a mesma opinião. Entre as instituições que participam dos debates, estão representantes de entidades como Católicas pelo Direito de Decidir e o Instituto de Estudos da Religião, que se posiciona em defesa da descriminalização, conforme Lusmarina Campos Garcia.

Pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), teóloga e mestre em direito, Lusmarina explica que sua comunidade orienta o respeito à decisão das mulheres, considerando que nunca é uma escolha leviana e geralmente está pautada em sofrimento. Assim como alguns dos cientistas que apresentaram números no primeiro dia de audiência, Lusmarina se pauta nos dados relacionados à mortalidade materna em decorrência de procedimentos clandestinos.

Na reabertura dos trabalhos à tarde, entidades de direitos humanos vão se revezar nas exposições e cada uma terá 20 minutos para apresentar seu posicionamento. Ao todo, a ministra Rosa Weber, que é a relatora da ação que pede a descriminalização do aborto, convidou 53 expositores, entre pessoas físicas e organizações. Desse total, 33 apresentarão argumentos favoráveis ao pedido apresentado pelo PSOL em março do ano passado. Depois da audiência, a expectativa é de que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se manifeste sobre o tema em dez dias. Com o parecer, Rosa Weber deve concluir seu voto, que será submetido ao plenário do STF.

O Supremo Tribunal Federal (STF) debaterá a descriminalização do aborto nesta sexta-feira (3). O tema será relatado pela ministra Rosa Weber que decidiu ouvir especialistas antes de emitir um parecer.

A ação encaminhada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em março de 2017, pede que a interrupção da gravidez por decisão na mulher nas 12 primeiras semanas não seja mais considerada crime. 

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A primeira audiência pública que ocorrerá amanhã irá reunir mais de 20 especialistas ligados às areas da saúde, ciências, direitos humanos e religião. Cada um terá 20 minutos para apresentar posicionamentos favoráveis ou contrários sobre o tema. Uma nova rodada com outros 20 especialistas está marcada para o dia 6 de agosto.

Depois das audiências, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deve emitir um parecer que costuma ser apresentado em até dez dias. Com o relatório do supremo em mãos, a ministra e relatora Rosa Weber concluirá seu posicionamento sobre o tema e passará a decisão aos 11 ministros do plenário.

No Brasil, o aborto é permitido apenas nos casos de anencefalia do feto, de estupro e quando a gestação representa um risco para a vida da mulher. Para todas as outras situações a interrupção da gravidez é considerada crime com pena de um a quatro anos de prisão. 

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