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Frequentador de cultos evangélicos, o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) participou, nessa quarta-feira (12), de celebrações católicas do Dia de Nossa Senhora Aparecida, no Santuário Nacional de Aparecida, no interior paulista, onde o arcebispo Dom Orlando Brandes cobrou "identidade religiosa" dos fiéis. A confusão sobre a fé do presidente é comum: muitos acreditam que ele seja evangélico, no entanto, o chefe do Executivo se diz católico.

Em 2015, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro publicou um tweet dizendo que era católico e que seus dois filhos mais velhos, o senador Flávio Bolsonaro e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro, frequentavam igrejas batistas. A evangélica mais conhecida da família, entretanto, é a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

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No ano seguinte, enquanto corria no Senado o processo pela admissibilidade do impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT), em um movimento simbólico, Bolsonaro foi batizado no Rio Jordão, em Jerusalém, pelo evangélico Pastor Everaldo. Em 2020, conforme mostrou o Estadão, o religioso foi preso na Operação Placebo, que também afastou o então governador do Rio, Wilson Witzel.

Manipulação religiosa

Em entrevista ao portal de notícias DW Brasil, a pastora luterana Romi Bencke, articuladora de um pedido de impeachment contra Bolsonaro em 2021, falou que o presidente é um tipo "híbrido de religioso" e o acusou de "manipulação religiosa". "Ele é católico, mas se rebatizou, no Rio Jordão, por um pastor evangélico, sem negar, como dizem os evangélicos, o batismo anterior".

Conforme levantamento Genial/Quaest divulgado pela jornalista Mônica Bergamo, há grande confusão entre os evangélicos sobre a fé de Bolsonaro. Metade deles (50%) acredita que ele também seja evangélico. Só 16% acertaram a identidade religiosa dele.

Entre os católicos, a confusão também se dá. Segundo o mesmo levantamento, 32% acham que o mandatário seja evangélico, ante 17% que acertam sua religião como católica.

Conforme dados de pesquisa Genial/Quaest divulgados na semana passada, no primeiro turno Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o favorito entre os católicos: 41% deles disseram ter votado no petista, ante 27% em Bolsonaro. Já entre os evangélicos, o atual presidente obteve 49% dos votos e Lula, 19%.

O arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, defendeu nesta quarta-feira, 12, que os fiéis devem ter uma "identidade religiosa" ao ser questionado sobre eventual uso político-eleitoral das celebrações do Dia de Nossa Senhora Aparecida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). O chefe do Executivo deve participar da missa das 14h na Basílica, conforme agenda divulgada pela equipe de seu candidato ao governo paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e, mais tarde, de uma oração do terço.

"Eu não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade de religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Então, nós precisamos ser fiéis à nossa identidade católica. Mas, seja qual for a intenção, (Bolsonaro) vai ser bem recebido, pois é o nosso presidente", afirmou Dom Orlando a jornalistas após a celebração de uma das sete missas programadas para esta quarta-feira no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.

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Como mostrou o Estadão, Bolsonaro, que se apresenta como católico, se aproxima cada vez mais de grupos evangélicos no período eleitoral. Em cultos nos quais esteve presente e discursou aos fiéis, o presidente pediu aos ouvintes, por exemplo, que conversem com seus "irmãos nordestinos" sobre em quem votar no segundo turno. Nesta manhã, o presidente esteve em Belo Horizonte (MG), onde participou da inauguração de uma Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada pelo apóstolo evangélico Valdemiro Santiago.

Dom Orlando Brandes também disse que é importante distinguir a ideologia da verdade. "Nós temos um compromisso ético com a verdade. A verdade na política, mas a política caminha muito pelos caminhos ideológicos, que são caminhos de grupos e interesses pessoais", afirmou. Ele ainda incentivou as pessoas a votarem e disse que é preciso "acolher aquele que for eleito com o voto e o poder do povo".

Bolsonaro deve participar de cerimônias à tarde. A missa solene da manhã teve a presença do ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, e do candidato eleito para o Senado, Marcos Pontes (PL). A expectativa é que Aparecida receba cerca de 120 mil fiéis nas celebrações deste feriado, que retornam com mais força após dois anos de restrições motivadas pela pandemia.

Em nota nesta terça, sem mencionar candidatos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou o uso da religião como forma de angariar votos no segundo turno. A CNBB afirmou que a manipulação religiosa "desvirtua valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que precisam ser debatidos e enfrentados no País".

O Santuário Nacional também divulgou uma nota referente à possível realização de uma oração de terço, organizada pelo Centro Dom Bosco, que deve acontecer em um local separado do Santuário nesta tarde. O grupo anunciou que Bolsonaro participaria do evento, mas a equipe do presidente ainda não confirmou a presença.

"É importante reforçar que esta atividade não é organizada pelo Santuário Nacional, tampouco tem anuência do Arcebispo de Aparecida. É relevante também frisar que, embora tenha sido programada para acontecer no mesmo horário da Consagração a Nossa Senhora Aparecida, que há 65 anos tradicionalmente é rezada neste horário, a iniciativa é de um grupo independente", escreveu em nota o comando do santuário.

Sobre a oração do terço, Dom Orlando defendeu que o grupo tem o direito de realizar a oração, mas pediu que o terço não se misture com ideologia. "Não é uma iniciativa nem do santuário nem da arquidiocese. Todas as pessoas são livres. É preciso respeitar os credos, vai ser em um lugar neutro, então está tudo dialogado e as pessoas têm direito à sua manifestação", disse. "Se esse terço é ideológico, é uma coisa. Se é um terço de piedade, para o bem comum, para a esperança do povo, em homenagem à nossa senhora, não podemos dizer outra palavra", completou.

Mais cedo, durante a homilia, Dom Orlando pediu prioridade dos fiéis para enfrentar o "dragão do ódio e da mentira". Em 2021, durante a celebração da principal homilia do dia da padroeira, Dom Orlando manifestou sua discordância com parte do ideário bolsonarista. Sem citar o nome do presidente, disse que, para o Brasil ser uma "pátria amada, não pode ser pátria armada". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Após insultar a comunidade católica no Brasil e até o Papa Francisco no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado Frederico d'Avila (PSL) pediu desculpas. Em comunicado, o parlamentar escreveu que cometeu um "excesso" quando xingou os religiosos de 'pedófilos', 'vagabundos' e 'safados'.

Na carta divulgada na segunda (18), Frederico justificou que seu ataque foi "inflamado por problemas havidos nos dias anteriores". O integrante da base bolsonarista ainda pediu perdão "a todos os católicos do Brasil e do mundo" por ofender diretamente o Papa Francisco.

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"Não tive a intenção de desrespeitar o Papa Francisco, líder sacrossanto e chefe de Estado, minha fala foi no sentido de divergir sobre ideias e posicionamento, tão só", defendeu-se.

LeiaJá também: CNBB cobra reparação após ataques de deputado bolsonarista 

Apesar do tom conciliador, o parlamentar não poupou críticas ao arcebispo do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Dom Orlando Brandes. "Meu pronunciamento, que admito ter sido inapropriado e exagerado pelo calor do momento, se deu em resposta a alguns líderes religiosos que ultrapassam os limites da propagação da fé e da espiritualidade para fazer proselitismo político. Reitero que desculpo-me pelas palavras e exagero", pontuou ao condenar a fala do religioso na celebração do último dia 12, quando afirmou que "pátria amada, não pode ser pátria armada".

Em virtude do pronunciamento revoltoso do deputado, o colega de casa Raul Marcelo de Souza (Psol) pediu a instauração de sindicância ao conselho de Ética da Alesp por quebra de decoro parlamentar.

Em sua solicitação, o denunciante cobra a cassação do mandato de Frederico e indica que ele 'merece, e precisa, sofrer a devida punição, inclusive para que esta Casa continue sendo referência de civilidade e democracia".

Após ser atacada pelo deputado estadual Frederico d'Ávila (PSL) no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma carta de repúdio e defendeu o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Em seu discurso favorável ao armamento, o político xingou a Igreja e o papa Francisco de 'safados', 'vagabundos' e 'pedófilos'.

O deputado bolsonarista rechaçou o comentário do arcebispo feito durante a celebração no Santuário de Nossa Senhora da Aparecida, no Interior de São Paulo, no último dia 12. "Pátria amada não pode ser pátria armada", afirmou o religioso.   

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Como resposta aos insultos de Frederico, a carta assinada pelo presidente e gestores do alto escalão da CNBB, D. Walmor Oliveira de Azevedo, D. Jaime Spengler, D. Mário Antônio da Silva e D. Joel Portella Amado, pontua sobre o "ódio descontrolado" do parlamentar e rejeitou "as abomináveis agressões".

Ao analisar o "deplorável fato", a CNBB reforçou que "jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz".

O comunicado pede que o desrespeito seja reparado por "medidas internas eficazes, legais e regimentais em proporção à sua gravidade - sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrata e civilizada". E ainda destaca que a instituição "reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem".

Eleito em 2018 como o principal representante do agronegócio paulista, Frederico d'Àvila foi assessor do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) entre 2011 e 2013. Antes de chegar a Alesp, compôs da diretoria e do conselho da Sociedade Rural Brasileira de 2017, a qual permaneceu até 2020.

Em 2019, apresentou um projeto para homenagear o ex-ditador chileno Augusto Pinochet no dia 10 de dezembro. Porém, a solicitação foi impedida pelo então presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB).

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