Tópicos | Educação financeira para as crianças

Diante da crise econômica pela qual o Brasil atravessa, as famílias também sentem a subida dos preços e o pouco dinheiro para manter o padrão de vida que tinham. Junto a isso, fica cada dia mais necessário dizer ‘não’ ao pedido dos filhos e complicado fazê-los entender o porquê da negação.

Segundo o economista e professor Benoni Cavalcanti, as crianças não podem estar alheias à situação econômica do país, consequentemente, à dos pais. “Elas precisam saber o que está acontecendo, não podem ficar alienadas. No entanto, isto não pode chegar como um peso para elas, mas de forma natural”, alerta.

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O profissional explica que é recomendado conversar com os filhos para esclarecer como o dinheiro é fruto do dia-a-dia de trabalho. Desta forma, eles vão assimilando a importância do dinheiro como mecanismo para conseguir o que se deseja e entendem que, através do cumprimento de tarefas e da responsabilidade, vem a moeda para o pagamento da escola, do lazer, presentes e manutenção da casa. 

De acordo com Benoni, a educação financeira das crianças segue até o início da adolescência e é dividida em três partes. No primeiro momento, até os 12 anos, a criança está no sentido de entender para quê serve o dinheiro e a ligação da saída dos pais todos os dias para trabalhar e, por conta disso, há uma remuneração que proporciona a aquisição dos bens. 

A segunda fase consiste já no entendimento do sentido do dinheiro na vida da família e que este é um mecanismo de troca; por isso, para crianças que recebem mesada, essa remuneração exige responsabilidades, além dos "básicos" respeito aos pais e rendimento escolar. “Essas são condições básicas, mas eles precisam entender que é necessário cumprir algumas responsabilidades para receber aquele dinheiro, dadas as proporções, assim como seus pais precisam trabalhar para receber o salário”, esclarece o economista.

Já na terceira fase, quando as crianças já estão fazendo uso do dinheiro, os pais precisam acompanhar os gastos. É necessário saber o que as crianças compram com a quantia recebida. “Os pais precisam deixar claro a necessidade de economizar, fazer restrições, adiar presentes, diminuir lazer. É preciso que os pequenos percebam que há um momento diferente, onde as coisas estão mais caras e isso é possível permitindo que eles comprem, com a mesada, o próprio lanche e paguem algum tipo de lazer que desejam”, detalha. 

Psicóloga dá dicas sobre comportamento financeiro com os pequenos

A psicóloga Valesca Victor se mostra preocupada quanto ao desentendimento das crianças em relação ao custo dos produtos. “Os filhos já encontram tudo pronto, não tomam conhecimento de nada e isso inclui saber o preço das coisas”, alerta. Ela explica ser importante as idas ao supermercados junto aos pais, pois isso mostra aos filhos que os produtos não caem do céu e tudo exige pagamento.

A profissional discorda da tradicional conta feita para estabelecer o valor da mesada: pais costumam multiplicar por dez a idade dos filhos para medir quanto cada um deve receber. “O referencial para a mesada deve ser o salário mínimo e nunca ultrapassá-lo, nem as famílias mais abastadas. Esse valor deve ser medido também de acordo com a situação financeira da família. O pagamento da mesada pode iniciar a partir dos oito anos com um valor simbólico e com o passar do tempo esse valor vai subindo e as responsabilidades ampliando”, esclarece. 

É preciso dizer não

Para os pais, o papel de dizer ‘não’ aos filhos não é tarefa fácil, mas cada vez mais necessária devido às circunstâncias econômicas do país. Lidar com a crise dentro de casa e efetuar cortes de despesas tem sido o método adotado por muitas famílias. A gerente comercial Rosana Torres é mãe de dois meninos de oito e 15 anos, além de uma adolescente de 18. Diariamente, ela precisa lidar com necessidades e pedidos diferentes. “Meus filhos são bem conscientes da sua condição financeira, mas sei também que são bombardeados todos os dias pelo apelo comercial. É preciso pesquisar, ponderar. Inclusive o mais novo pediu um videogame de presente, mas só iremos comprar no seu aniversário e até lá vamos cotando os preços”, revela a mãe.

Ela conta ainda que os filhos recebiam mesada, mas esta foi cortada e readaptada para que eles possam manter o cachorro de estimação. Além disso, eles vendem brownie para começarem a compreender as responsabilidades e o custo das coisas. “Com a venda dos bolinhos, eles também custeiam as saídas que querem fazer. Eles também deixaram de comprar lanche na escola e passaram a levar de casa. Eles hoje entendem que a economia com o lanche dá a oportunidade de termos um lazer no final de semana”. 

A psicóloga, assim como Benoni, conclui que os pequenos devem comprar coisas para que sintam que a crise existe, sintam a alteração nos preços e percebam que é preciso abrir mão de algumas coisas para adquirir outras. “Sinto que eles estão pouco à vontade com a relação dinheiro e compra. Por conta dessa mudança financeira, o entendimento quanto a economia tem que iniciar ainda mais cedo porque está afetando o estilo de vida da família. No entanto, deve ser mostrada como uma fase e não com angústia ou peso para a criança”, aconselha a psicóloga. 

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